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1936
Pequenos detalhes sempre mexeram com a cabeça de Antonio José Santana Martins, nascido em 11 de outubro de 1936, em Irará, interior da Bahia, a 120 quilômetros de Salvador: Como ensinar a irmã mais nova a andar de bicicleta descrevendo cada movimento conjunto do mecanismo? Como é que sinais viram letras e essas letras geram significados? A curiosidade sempre fez parte da vida de Tom Zé: tudo remoía seu pensamento, o mundo propunha problemas e alumbramentos.
1950
Aprendeu a gostar de música ainda pequeno, ouvindo Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, samba-de-roda e os grandes cantores do rádio. Numa gaitinha, descobriu a maravilha de converter sopro em som e conseguiu tirar algumas poucas notas de Asa branca. Aos 17 anos, descobriu o violão e sua vida mudou. Ainda na adolescência, descobriu Os sertões, de Euclides da Cunha, que lhe mostrou com uma amplitude nova o que eram ele e a gente do Nordeste do Brasil, assumindo uma importância definitiva no seu pensamento.
1960
Logo depois a música se tornou mais central em sua vida e ele compôs uma canção para o filme Jana e Joel, enquanto ainda morava em Irará. Em 1961 Tom foi trabalhar numa loja de presentes aberta pela família, mas por influência de sua tia Gilka, esposa do tio e deputado Fernando Santana, mudou-se para Salvador para se iniciar profissionalmente como músico. Logo depois tornou-se diretor de música do CPC (Centro Popular de Cultura), onde ficou até 1964. Aos 26 anos, em 1962, passou em primeiro lugar no vestibular da Escola de Música da Universidade Federal da Bahia. Teve o privilégio de ser aluno da nata da vanguarda musical européia, como H. J. Koellreutter e Ernst Widmer. Na universidade, foi um dos membros fundadores do Grupo de Compositores da Bahia (música erudita). Ainda em 1962, o jornalista Orlando Senna apresentou-o a Caetano Veloso. Em 1964 participou do show Nós, por exemplo e Nova bossa-velha & velha bossa-nova, com Caetano, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia, entre outros, que foram a semente do grupo tropicalista. Com o sucesso das apresentações, os artistas foram convidados para criar outro show no Teatro de Arena de São Paulo, intitulado Arena canta Bahia. O ano era 1965. Tom Zé veio com Caetano para São Paulo, chegando em 11 de agosto. Apesar do êxito dos músicos baianos no eixo Rio-São Paulo, Tom Zé quis terminar seus cursos na UFBA; afinal, ganhara uma bolsa de estudos na universidade, ao pretender deixá-la por falta de recursos. Voltou para Salvador e continuou a estudar, trabalhando também como jornalista no Jornal da Bahia. Só em 1968 viria definitivamente para São Paulo. Em 1967, depois de se formar, foi professor de Contraponto e Harmonia na própria Escola de Música e violoncelista da Orquestra Sinfônica e da Orquestra de Estudantes da universidade. Em 1968, em São Paulo, Tom Zé foi levado por Caetano a Guilherme Araújo, empresário do chamado “grupo baiano”. Guilherme sugeriu que ele, ainda conhecido pelo apelido de infância Toinzé, adotasse o nome artístico de Tom Zé. Nesse ano, o artista venceu o 4o. Festival de Música Popular Brasileira com a canção São São Paulo meu amor, ganhando ainda o prêmio de melhor letra com 2 001, parceria com Rita Lee que recebeu a interpretação dos Mutantes. Ainda em 68 os músicos baianos lançaram Tropicália – Panis et circensis, disco provocador, que pôs em questão a MPB. Tom participou com a faixa Parque industrial, uma crítica aos meios de comunicação de massa. Para fechar o grande ano, Tom Zé lançou seu primeiro disco epônimo, subtitulado Grande liqüidação, composto entre abril e junho. Entre os destaques, Profissão de ladrão, Catecismo, creme dental e eu, Parque industrial, Não buzine, que eu estou paquerando. Os títulos revelam o conteúdo de reflexão sobre a vida urbana, sobre a acelerada transformação de costumes na vida brasileira. Em 69, com Gal, Tom Zé apresentou o show O som livre de Tom Zé e Gal Costa, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
1970
O Tropicalismo permitiu que Tom Zé levasse para o movimento sua forma de compor, sua ruptura de padrões, que juntavam o folclore riquíssimo do sertão baiano, um certo primitivismo atemporal e uma elaboração extremamente avançada, à frente de seu tempo. “Procuro fazer a antimúsica, porque se é pra fazer o que já está feito…”, dizia ele então e e diz até hoje. Isso tornou sua produção difícil de classificar, os rótulos não se colam a ela de maneira precisa, propõe problemas críticos e de conceituação. Seu quarto disco, Todos os olhos, de 1973, comprova essa dificuldade de classificação e mostra o que Tom Zé buscava. Sem ter como enquadrar sua música, as emissoras de rádio se afastaram e levaram Tom Zé ao esquecimento por parte do grande público. Pelos próximos 17 anos sobreviveu fazendo shows em universidades pelo Brasil. Em 1975, trabalhou como ator e cantor na peça Rocky horror show, dirigida por Rubens Correia, no Teatro da Praia (Rio de Janeiro). Lançou ainda, no final da década de 70, os discos Estudando o samba(76) e Correio da Estação do Brás (78). Trabalhou alguns meses na agência publicitária DPZ.
Em 1978, em pleno ostracismo, deu um grande passo artístico, colocando sobre o palco do Teatro da Fundação Getúlio Vargas, num show memorável, os instrumentos que construiu, como o hertzé, o enceroscópio e o buzinório. O primeiro, o hertzé, antecipou o que seria, em concepção geral, o sampler.
1980
Vende casa para desenvolver instrumentos experimentais, numa evolução musical que se estendeu por anos. Em 1984, lança Nave Maria (RGE), ponto de partida para novos caminhos musicais posteriores.
1990
Quando Tom Zé se preparava para deixar a carreira musical, por dificuldade de sobrevivência, o músico David Byrne, de passagem pelo Rio de Janeiro, descobriu o disco Estudando o samba e, ao fundar o selo Luaka Bop em Nova York, teve Tom Zé como seu primeiro contratado. O cd The best of Tom Zé foi listado, em seu lançamento, entre os melhores discos do ano de 1990, pelo jornal The New York Times. Em 99 a revista Rolling stone o colocou entre os melhores discos da década. A renomada companhia de dança brasileira, o Grupo Corpo, tem dois brilhantes trabalhos de Tom Zé entre suas trilhas sonoras especialmente compostas: Parabelo (parceria com José Miguel Wisnik, 1997) e Santagustin (parceria com Gilberto Assis, 2001). Com defeito de fabricação, cd de 1998, projetou o compositor também como performer numa turnê americana. As turnês européias confirmavam autor e repertório como alvo de interesse do público e da grande crítica internacional. O cd recebeu remixes de artistas como Sean Lennon, Tortoise e Stereo Lab.
2000
Em 2000 veio Jogos de armar, da Trama, primeiro lançamento por uma gravadora brasileira depois de mais de 20 anos. Nele estão registrados, finalmente, seus instrumentos experimentais e ousadias formais que o colocam mais uma vez como desafio à criatividade musical de seu tempo. Enceradeiras e cantos de lavadeiras nordestinas, expressões verbais contundentes e sonoridades remetendo a Cage e música medieval, recursos costurados numa força brasileira explosiva. Próximos cds: Imprensa Cantada, expressando o artista chama de jornalismo cantado, quando os acontecimentos do presente são o motor das composições. No próximo disco, uma opereta popular, Estudando o Pagode* – Segregamulher e Amor, as relações entre homem e mulher tomam a frente, sob a forma de duetos/duelos rítmicos e provocativos. O disco Danç-Êh-Sá – Dança dos Herdeiros do Sacrifício tem como tema rebeliões e levantes das populações negras e indígenas do Brasil, não muito destacados pela história oficial. Tom Zé “fala” desses acontecimentos num disco eminentemente musical, fortemente rítmico, cujas vocalizações são formadas unicamente por onomatopéias e sonoridades verbais, sem recorrer a versos explícitos. “Somos um país negro, somos herdeiros do trabalho e da cultura dessa raça que nos formou”, diz Tom Zé, falando sobre o Brasil. O cd foi escolhido, numa votação popular, como o melhor de MPB em 2007. Em 2008, lançado Estudando a Bossa, participações de Fernanda Takai, Arnaldo Antunes e outros artistas, pensamento musical de um tropicalista admirador da bossa nova. Em 2009, Pirulito da Ciência, cd e dvd ao vivo cuidadosamente elaborados por Charles Gavin (produtor, ex-Titãs), reunindo canções expressivas da carreira de Tom Zé.
2010
Em 2010, a Luaka Bop (New York) lança a caixa Studies of Tom Zé – Explaining things so I can confuse you”, lps e cds agrupados pela aprovação da crítica internacional. Em 2012, Tropicália Lixo Lógico, apoio do projeto Natura Musical, define musicalmente o Tropicalismo. Participação de Emicida, Mallu Magalhães; Tribunal do Feicebuqui lançado em 2013, formato discográfico pouco usual, importantes participações. Em 2014, Vira lata na Via Láctea, primeira parceria em canção de Tom Zé e Caetano Veloso. O artista compara o disco a templos românicos, em que pluralidade de ângulos se casa, musicalmente, à pluralidade de enfoques musicais das canções. 2015: nos E.U.A., site Pitchfork designa Nave Maria como marco musical dos anos 80. Em 2016, lançado Canções eróticas de ninar, que ganha o Prêmio de Música Popular Brasleira. No mesmo ano, Tom Zé lança, com parceria do desenhista Elifas Andreato (que prefere essa qualificação, recusando a de designer), o disco para crianças Sem você não A. Estimulante para a participação e a acuidade infantil, como se comprova no show do disco apresentado no Sesc Pinheiros. Ainda em 2016: Prêmio de melhor show da década em Portugal. Festivais WOMAD (Chile) e MIMO (Portugal). Olimpíada encerrada com Xique-Xique, pelo Grupo Corpo. Lança o disco Canções eróticas de ninar. 2017: Prêmio Faz a diferença, Música – O Globo. Exposição Tom Zé 80 anos (completados em 2016), em Salvador e Petrópolis. Prêmio música brasileira: melhor disco (Canções eróticas de ninar) e melhor canção (Descaração familiar). Lança disco infantil Sem você não A, parceria com Elifas Andreato. Em 2018 Tom Zé vai aos E.U.A. para conferências sobre seu trabalho, nas New York e Brown University. Exposição Tom Zé 80 anos – São Paulo. Conferências nos E.U.A., na New York University e na Brown University, sobre seu trabalho musical. Em 2019 destacam-se o Moers Festival de Vanguarda (Alemanha). Itália, lançamento da biografia Tom Zé – l’ultimo tropicalista, de Pietro Scaramuzzo. Japão, apresentações em Tóquio e no Frue Festival, em Shizuoka. Ovacionado com entusiasmo pela habitualmente comedida plateia japonesa, que o saudou calorosamente, não poupando troca de abraços não habitual no país. Marcante vivência artística e humana. Ressalte-se, por oportuno, ser Tom Zé o compositor que, segundo o pesquisador Assis Ângelo, mais canções compôs para São Paulo, cidade onde vive há décadas. No livro “Bertolt Brecht – Poesia” – compilação e tradução de André Vallias, a página 63 menciona Tom Zé como “o mais brechtiano dos tropicalistas”, exemplificando com sua canção “Tô”.
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LÍNGUA BRASILEIRA (2022)
1 – HY-BRASIL, TERRA SEM MAL
(Tom Zé)
Hy-Brasil
Ilha maravilha
Naquele Norte gelado ela brilha.
É… É a ilha BIS
Que só aparece sete dias por ano.
É… (olha que tem um rio de leite cozido) É… a ilha.
É…(e ainda um pé de café moído) É… a ilha
E quem esquece o sorriso dela?
Hy-Brasil,
Linda ilha
Que baila, dança e contradança
Lá bem longe,
Anda e desanda.
Nos mares gelados da Irlanda,
Do século III ao século IX,
Hum, hum, hum, meu sabichão,
Ela estava nos mapas da navegação.
E só aparece sete dias por ano… sete, sete, sete, sete, sete.
E mesmo assim, quando um barco se aproxima,
Ela vai se afastando,
Vai se afastando, se afastando, afastando…
E sumiu, miu, miu que ninguém viu.
E sumiu, miu, miu que ninguém viu.
Hy-Brasil
Hy-Brasil BIS
Hy, Hy, Hy-Brasil.
Uma ilha sem fuzil,
Sem ba ba-ba-ba-ba- bala civil,
Uma ilha sem fuzil,
Sem ba ba-ba-ba-ba-bala civil.
A notícia da ilha correu pelo céu e mar,
Um santo da igreja foi lá para abençoar:
E São Brandão navegou por 40 dias
Com tiranias,
Para essa ilha alcançar.
Foi testemunha de que lá noite não havia,
Só claridade do dia
E o frio não se conhecia
Hy-Brasil
Hy-Brasil
Hy, Hy, Hy-Brasil.
Uma ilha sem fuzil
Sem ba-ba-ba-ba ba-bala civil BIS
Índio brasileiro
Procurava por um local:
Era um paraíso chamado TERRA SEM MAL;
Alí a lavoura nascia sem plantar,
Flecha ia caçar,
Era só beber e dançar.
E como dançar é se purificar,
Assim, nessa terra sem mal,
O índio é imortal.
Hy-Brasil…
Uma ilha sem fuzil
Sem ba-ba-ba-ba-ba-bala civil
Hy-Brasil…
2 – POMPEIA – PICHE NO MURO NU
(Tom Zé)
QUE CHIQUE PI
QUE CHIQUE PI
QUE CHIQUE CHIQUE PI,
QUE CHIQUE CHIQUE PI,
QUE CHIQUE PICHE, O PICHE
DO CHIQUE PICHE 4X
O PICHE NO MURO NU
A CIDADE É POMPEIA (LÁ É)
NAMORO NO MURO NU
NAMORO NO MURO NU
QUIS AMAT VALEAT
PEREAT QUI NESCIT AMARE
BIS TANTI PEREAT
QUISQUIS AMARE VETAT
Ó AMARE VETAT
QUE CHIQUE PICHE, O PICHE
DO CHIQUE PICHE 4X
O PICHE NO MURO NU
A CIDADE É POMPEIA (LÁ É)
SALVE, SALVE QUEM AMA – (PORQUE) MAMA! (PORQUE) MAMA!
DESGRAÇADO QUEM NÃO AMA – (VAI DAR) LAMA! (VAI DAR) LAMA!
PARA QUEM PROÍBE O AMOR
(PERA AÍ, QUE VOU SER CRUEL!)
SALVE, SALVE QUEM AMA – (PORQUE) MAMA! (PORQUE) MAMA!
DESGRAÇADO QUEM NÃO AMA – (VAI DAR) LAMA! (VAI DAR) LAMA!
PARA QUEM PROÍBE O AMOR (É JÁ?):
PEGA, ENTREGA AO CARCARÁ E DIZ:
CEGA, AMASSÁ E SOME!
3 – LÍNGUA BRASILEIRA
(Tom Zé)
Quando me sorris,
Visigoda e celta,
Dama culta e bela,
Língua de Avis…
Fado de punhais
Inês e desventuras,
Lá onde costuras
Multidão de ais…
Mel e amargura,
Fatias de medo,
Vinho muito azedo,
Tudo com fartura.
Cravos da paixão,
Com dores me serves,
Com riso me pedes
Vida e coração,
Vida e coração.
Babel das línguas em pleno cio,
Seduz a África, cede ao gentio,
Substantivos, verbos, alfaias de ouro,
Os teus lençóis conquistaram do mouro.
Mares-algarismos,
Onde um seu piloto
Rouba do ignoto
Almas e abismos.
Verbo das correntes
Com seu candeeiro
Todo marinheiro
Caça continentes.
E o gajeiro real,
Ao cantar matinas,
Acha três meninas
Sob um laranjal:
Últimas das filhas,
Ventre onde os mapas
Bordam suas cartas,
Linhas Tordesilhas,
Linhas Tordesilhas.
Em nossas terras continentais
A cartomante abre o baralho,
Abismada vê, entre o sim e o não
Nosso destino ou um samba-canção.
4 – UNIMULTIPLICIDADE
(Tom Zé)
Para criar minhas estradas
Cavalgo nas palavras —
Quero arrumá-las com carinho
Para atrair as fadas;
Que elas venham com seu vinho
Mostrar que a felicidade
É o feitiço azul-marinho
Da unimultiplicidade.
Pois cada homem é, sozinho, ô, rô, rô,
A casa da humanidade.
Humanidade, humanidade!
Humanidade, ô, humanidade.
Hoje como fortaleza
O negro é luz-legado
Suas mãos plantaram pátria
No solo do passado.
Ele inventou: filosofia,
A arte e a religião,
A escrita, a língua, a poesia
Na unimultiplicidade,
Pois cada homem é, sozinho, ô, rô, rô!
A casa da humanidade.
Humanidade, humanidade!
Humanidade, ô, humanidade.
5 – GÊNESIS GUARANI
(Tom Zé)
ESTE MUNDO ERA SÓ
ESCURIDÃO, PÓ:
NEM NOITE, NEM DIA.
NEM A TERRA EXISTIA.
NOSSO PAI PRIMEIRO,
ÑAMANDU, VERDADEIRO,
NO CÉU DA SOLIDÃO
TEVE A INSPIRAÇÃO.
SENTIU NO CORPO UM RUMOR,
ERA O SOM TÃO BOM DO SOM,
QUE TROUXE AO PAI CRIADOR
AQUILO QUE FOI CHAMADO AMOR.
AMOR, AMOR, AMOR, AMOR
RELAMPEJOU NO CRIADOR
ANSEIO-AÇÃO-E-REAÇÃO,
O CLIQUE DA CRIAÇÃO.
ANTES DE NASCER TODO ÍNDIO RECEBE,
COM LUZ DE NEON,
A ALMA QUE LHE CONCEDE
AMOR-DEVOÇÃO PELO SOM.
POR ISSO, NEM ADMITIR
A VILEZA DE MENTIR,
POIS É TRAIÇÃO COM OS SEUS
E PERDE O CONTRATO COM DEUS.
DESSE MODO, A HONRA DO ÍNDIO
FOGE DO NOSSO DOMÍNIO
E COMO NÃO PODE FALHAR,
ESTA FORÇA VAI CONFIRMAR.
AMOR, AMOR, AMOR, AMOR
RELAMPEJOU NO CRIADOR
ANSEIO-AÇÃO-E-REAÇÃO,
O CLIQUE DA CRIAÇÃO.
6 – METRO GUIDE NEW YORK
(Tom Zé)
METRO GUIDE
NEW YORK
METRO GUIDE
NEW YORK
BELOW YOU CAN FIND
SOME IMPORTANT NUMBERS
FOR THE GREATER
NEW YORK AREA
NEW YORK AREA
NEW YORK AREA
NEW YORK AREA
FIRE DEPARTMENTS (FIRE! FIRE!)
INDIVIDUAL BOROUGHS
MANHATTAN: (212) 999 22 22
(212) 999 22 22
BRONX: (718) 999 33 33
(718) 999 33 33
BROOKLYN, BROOKLYN SO CHARMOUS:
(718) 999 44 44
(718) 999 44 44
QUEENS SO ROYAL FAMILY
(718) 999 55 55
(718) 999 55 55
PAGO EM DÓLAR
CANTO EM INGLÊS
MAS VAMOS AGORA
PORTUGUÊS
A SEGUIR VOCÊ TERÁ
OS TELEFONES ÚTEIS DE IRARÁ
CIDADE DA BAHIA
SERTÃO DA BAHIA
SACODE O SEU PASSAPORTE
QUE O CALOR É FORTE
SAMU!!! LIGUE 190 / CARRO SE APRESENTA
MATERNIDADE: 75 3247 3833
75 3247 3833
SUS MUNICIPAL!
SUS: 75 3247 3834
75 3247 3834
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: 75 3247 3825
75 3247 3825
BOMBEIROS, CORPO DE BOMBEIROS
SINTO MUITO, LÁ NÃO TEM, LÁ NÃO TEM
VÁ APAGAR SEU FOGO EM NOVA IORQUE
NOVA IORQUE, NOVA IORQUE
TELEFONES ÚTEIS
IRARÁ
METRO GUIDE
NEW YORK
METRO!!!
7 – ÍNDIO DESLIGA JARAGUÁ
(Tom Zé)
TÁ – JARAGUARA – JARAGUÁ – TARÁ
TÁ – JARAGUARA – JARAGUÁ – TARÁ
TÁ – JARAGUÁ – TARÁ
FOI AQUELE BERRA-BERRA
O ÍNDIO É DONO DA SERRA
– E DEPOIS,
VIERAM TOMAR A TERRA
HOMEM BRANCO NÃO TEM LISURA
TOMOU A TERRA DE VOLTA
E, PARA O ÍNDIO,
SÓ RESTA SUA REVOLTA
TÁ – JARAGUARA – JARAGUÁ – TARÁ
TÁ – JARAGUARA – JARAGUÁ – TARÁ
TÁ – JARAGUÁ – TARÁ
ÍNDIO NA SERRA PRA SE VINGAR
DESLIGOU AS TORRES DE LÁ
PRA FICAR
TUDO FORA DO AR.
SOCORRO! QUEM NOS AJUDA?
SEM TV, RÁDIO E CELULAR
O APELIDO GRUDA:
SÃO PAULO É O CU DO JUDA.
CU DO JUDA LÁ, SÃO PAULO SERÁ
CU DO JUDA CÁ, SÃO PAULO SERÁ
CU DO JUDA LÁ, SÃO PAULO SERÁ
CU DO JUDA CÁ, SÃO PAULO SERÁ
8 – A LÍNGUA PROVA QUE
(Tom Zé)
OLORUM OLORUM VÓS SOIS O PÃO, Ó PAI!
OLORUM OLORUM A LUZ TAMBÉM ME DAI, BIS
OLORUM OLORUM O CORAÇÃO TOMAI,
OLORUM OLORUM – ME LEVANTAI!
E OLORUM, PRA COMEÇAR A CRIAÇÃO, CHAMOU:
“ORINXANLÁ, VAI LÁ!
VAI CRIAR A TERRA E A SEMENTE,
CRIAR A TERRA E A SEMENTE. (coro)
OBATALÁ, VAI LÁ!
VAI CRIAR UM SER INTELIGENTE,
CRIAR UM SER INTELIGENTE! (coro)
UM SER QUE VENHA SER, PARA COM OS ORIXÁS,
HUMILDE, BOM E OBEDIENTE.” (coro)
POIS OLORUM TEM A INTENÇÃO:
FECHAR A CRIAÇÃO (coro no bis)
COM CHAVE DE OURO E DEVOÇÃO,
COM CHAVE DE OURO E DEVOÇÃO.
macum-micum-macum micum-macum-mi macum-mi
MAS QUANDO OBATALÁ
CRIOU O SER HUMANO
A COISA ENTROU PELO CANO:
macum-micum-macum micum-macum-mi
– Ê Ê OU Ê OU Ê OU Ê OU
A PRIMEIRA IDEIA QUE LHES OCORREU BIS
FOI SER MELHOR DO QUE DEUS.
“SOMOS VALENTES, ALIÁS:
MAIS FORTES QUE OS ORIXÁS.” BIS
macum-micuuum
… HUM!… (esse “…hum!…” 1 compasso +)
E OBATALÁ CALCULOU
QUE PARA SALVAR A RAÇA HUMANA
DE TÃO LAMENTÁVEL DESPUDOR
SÓ SE ORUMILÁ
FOSSE ELEITO AGORA, E JÁ!,
SEU PRIMEIRO BABALAIÔ. macum-micum-macum micum-macum-mi
MAS ELE É MUITO MOÇO, tiguiriguiti-tiri-ti
VAI QUE DESCUIDA E LARGA O OSSO. tiguiriguiti guiri-ti
ENTÃO, ERA JUDICIOSO
QUE OBATALÁ PERMITISSE
UM EXAME ARDILOSO
PRO MOLEQUE ARRISCAR O PESCOÇO.
E ASSIM, OBATALÁ SAIU DA SUÍTE E DECLAROU,
NUM TOM AMISTOSO, MAS DEDO EM RISTE:
tororó-tototó-tototó-tototó-toró-tó tó-tó
“OLHE AQUI, MEU SENHOR MOÇO tororó-tototó
O MELHOR PRATO QUE EXISTE tororó-tototó
QUERO COMER NO ALMOÇO! (coro feminino) quer ver – quero ver – quero ver
OLHE, MEU BOM SENHOR MOÇO quer ver – quero ver – quero ver – ver
QUERO COMER NO ALMOÇO quer ver – quero ver – quero ver – ver
O MELHOR PRATO QUE EXISTE.
FAÇA O MELHOR PRATO
DESTE MUNDO VIRADO macum-micum-macum-mi
E SÓ USE TEMPERO DO ABENÇOADO.” macum-micum-macum-mi
E ORUMILÁ
E ORUMILÁ PREPAROU
COM CALDO DE FOLHA DE LOURO
UMA BOA LÍNGUA DE TOURO
LEVANTOU-SE E ARGUMENTOU: tigui-rigui-ti – tiri-ti
“NA LÍNGUA QUE NOS ABRIGA
O SONHO NUNCA DESLIGA:
DNA FAZ A LIGA,
A GENTE AQUI MULTIPLICA.” tigui-rigui-ti – tiri-ti
E ORUMILÁ PREPAROU
COM CALDO DE FOLHA DE LOURO
UMA BOA LÍNGUA DE TOURO
LEVANTOU-SE E ARGUMENTOU: macum-micum-macum-mi
“A LÍNGUA CONCEDE AXÉ
PRA TER SEU NEGRO DE PÉ.
DÁ INFINITA UNIDADE,
CONSTRÓI A HUMANIDADE.” tigui-rigui-ti – tiri-ti
MAS AGORA, OBATALÁ JÁ QUERIA
O PIOR PRATO QUE EXISTIA.
O PIOR PRATO QUE EXISTIA,
O PIOR PRATO QUE EXISTIA. o pior, o pior
PRATO QUE EXISTIA o pior, o pior
PRATO QUE EXISTIA. o pior, o pior
PRATO QUE EXISTIA….
…MAS ORUMILÁ NEM SE IMPORTOU (mas o que é que é isso?)
E LOGO, LOGO ELE TINHA
O PIOR PRATO QUE EXISTIA (é a mesma coisa!!!)
O PIOR PRATO, O PIOR PRATO QUE EXISTIA (é o mesmo prato, tá pirado, pirou!
O PIOR PRATO (tá zureta) QUE EXISTIA (tá zureta… uu, não acredito! Ficou doido!)
NESTA GRANDE SURPRESA
QUASE OBATALÁ CAI DA MESA
TEVE UM SUADOURO
QUANDO VIU OUTRA LÍNGUA DE TOURO
MAS OLUMIRÁ SE VALEU DA RAZÃO
E DELICADAMENTE FALOU NO SALÃO:
“ – A LÍNGUA TEM SEU LADO MAU
CALUNIA, DESONRA, DEBOCHA, ESCULACHA ATÉ IORUBÁ…
SACRILÉGIO COM O SAGRADO BIS
FICA TUDO AMALDIÇOADO
AMALDIÇOADO
AMALDIÇOADO
A MAL DI ÇO A DÔ.”
SILÊNCIO ABSOLUTO
PRISÃO QUE VESTE LUTO
AI CORAÇÃO!
SUOR FRIO A TONELADA
CADA GOTA UMA AGULHADA
AI CORAÇÃO!
ORIXÁS ESQUECEM REGRAS
QUE ERAM TERNAS E ETERNAS
AI CORAÇÃO!
O SAGRADO NÃO SUPORTA
O TEMPO SAI DA ROTA
A ETERNIDADE ABORTA
AI CORAÇÃO!
AI CORAÇÃO!
TUDO MUDA DE REPENTE
PAZ E LUZ NO AMBIENTE
OBATALÁ (coro)
MOVIMENTOS RESERVADOS
TINHA OS OLHOS MOLHADOS
OBATALÁ (coro)
CAMINHOU JÁ CONVENCIDO
JUNTO A SEU ESCOLHIDO
OBATALÁ (coro)
ORUMILÁ ESTAVA ELEITO
TODA HONRA E ESPLENDOR
PRIMEIRO BABALAÔ.
ORUMILÁ O CORAÇÃO BATE NO PEITO diri-guidi
ORUMILÁ O CORAÇÃO BATE NO PEITO diri-guidi
ORUMILÁ ESTÁ ELEITO, ORUMILÁ ESTÁ ELEITO
O PRIMEIRO BABALAÔ TÁ QUE TÁ
diri-guidi diri-guidi diri-guidi diri-guidi
ORUMILÁ O CORAÇÃO BATE NO PEITO diri-guidi
ORUMILÁ O CORAÇÃO BATE NO PEITO diri-guidi
ORUMILÁ ESTÁ ELEITO, ORUMILÁ ESTÁ ELEITO
O PRIMEIRO BABALAÔ TÁ QUE TÁ.
diri-guidi diri-guidi diri-guidi diri-guidi
PARA SALVAR-NOS DO MAL
OBATALÁ CRIADOR
ELEGEU ORUMILÁ
PRIMEIRO BABALAÔ
PARA SAL MÁ
OBA DÔ (DIVERSOS CONTRAPONTOS)
ELÊ LÁ
PRI MÊ
ORUMILÁ O CORAÇÃO BATE NO PEITO diri-guidi
ORUMILÁ O CORAÇÃO BATE NO PEITO diri-guidi
ORUMILÁ ESTÁ ELEITO, ORUMILÁ ESTÁ ELEITO
O PRIMEIRO BABALAÔ TÁ QUE TÁ.
diri-guidi diri-guidi diri-guidi diri-guidi
ORUMILÁ O CORAÇÃO BATE NO PEITO diri-guidi
ORUMILÁ O CORAÇÃO BATE NO PEITO diri-guidi
ORUMILÁ ESTÁ ELEITO, ORUMILÁ ESTÁ ELEITO
O PRIMEIRO BABALAÔ TÁ QUE TÁ.
diri-guidi diri-guidi diri-guidi diri-guidi
PARA SALVAR-NOS DO MAL
OBATALÁ CRIADOR
ELEGEU ORUMILÁ
PRIMEIRO BABALAÔ.
BIS 5X
PARA SAL MÁ
OBA DÔ
ELÊ LÁ
PRI MÊ
EEEEE OOOOOO
BATO – LÁ
BATO – CÁ
BATO – LÁ BIS FINAL
BATO – CÁ
O-BATÁ-LÁ!
9 – SAN PABLO, SAN PAVLOV, SAN PAULANDIA
(Música: Tom Zé / Letra: Douglas Diegues)
San Pablo, San Pavlov
Ê, ê San Paulandia
San Pablo, San Pavlov
Ê, ê San Paulandia
O que seria de ti, san pablo, y de tuas
ruas mais prostis, prostis, ai prostis,
de tuos arrogantes edificios, de tuo
poder, de teu lixo, de tua fama?
Quem lavaria vostras casas y apês?
Quem preparia tuo plato preferido?
O que seria de tuos bairros, de tus
supers, de tuas villas, de tus fabelas,
de tuos jardins, de tuos trianons,
de tuos museos, sem la ayuda de
los otarios?
REFRÃO
O que seria de vostras noches salbajes
sem nosotros, los nordestinos, los dandys
kangaceiros, o que seria de tuos bares
y restorans?
O que seria de ti San Pablo ou San
Paulandia City, sem nostra feiura,
sem nostra gracia, sem nostro savoirfaire,
sem nostra capacidade de
limpar imundices & servirles a full?
REFRÃO
O que seria de ti, San Pablo, San Pavlov
ou San Paulandia, sem nosotros, los
nordestinos, para vos servir manhanas
y noches, tardes y nuebas manhanas?
O que seria de ti sem nosotros los mais
paraguaios, los kabroboles, los kabras
de la peste? E quem, quem limparia
vostras latrinas?
REFRÃO
10 – CLARICE
(Tom Zé)
CARECE CLARICE ESCLARECER
PODER NASCER E RENASCER
TÃO SOLENE E TÃO SOLAR –
CORAJOSO CORAÇÃO.
E SEM TER UNGUENTOS AGUENTAR
O PREGÃO DAS PRAGAS NO PORTÃO –
TENSA RESISTÊNCIA
E NO SURDO ABSURDO SUPOR
UMA GROTA, UMA PORTA, UMA ROTA
PARA O CONTRA SE CONTRAFAZER:
NESSE QUARTO-MINGUANTE QUE MÍNGUA –
UMA LÍNGUA.
11 – OS CLARINS DA CORAGEM
(Tom Zé)
OS CLARINS DA CORAGEM
DOS NOSSOS HERÓIS
QUISERAM CRIAR
UM BRASIL QUE ATÉ HOJE, NÃO HÁ
LIBERDADE AINDA QUE TARDE
PORÉM ESSA TARDE JÁ TARDA NATAIS,
NATAIS, DEMAIS
CADA MORRO, FAVELA NO ALTO,
É UM CADAFALSO
QUE ELEGE CARRASCOS,
LETAIS, OS TAIS.
Ô Ô Ô Ô
MINAS GERAIS, AÍ DOR, AÍ DOR,
AINDA OUÇO, AÍ DOR, AÍ DOR,
NO CALABOUÇO, AÍ DOR, AÍ DOR,
DORES DEMAIS, PUNHAIS E MAIS
IBIARABARÉ
ABACATU ABACATU
IBIARABARÉ
ABACATU ABACATU
IBIARABARÉ
ABACATU ABACATU
IBIARABARÉ
E QUE UMA GERAÇÃO COM TERNURA
SE EDUQUE EM FIRMEZA E DOÇURA
OS CLARINS DA CORAGEM…
IBIARABARÉ
ABACATU ABACATU
IBIARABARÉ
ABACATU ABACATU
IBIARABARÉ
ESTUDANDO O DUB (2017)
(Tom Zé, Lee Scratch Perry)
NÃO IMPORTA QUE PORTA
NÃO IMPORTA MEU COMPORTAMENTO
O QUE IMPORTA É ABRIR A PORTA
NÃO IMPORTA QUE SEJA IMPORTADA
ABRA
NÃO IMPORTA QUE PORTA
ABRA A PORTA
PORTA ABERTA
PORTA FORA
PORTA ABERTA
PORTA CHORA, CHORA
SE NÃO ABRIR A PORRA DA PORTA
MEU COMPORTAMENTO FICA INCOMPORTADO
ABRA A CABEÇA
ABRA O TELHADO
ABRA A PERNA
APERNÃO DÓI
Porta, porteira, Portela
É dela que pela cancela
Com cela ou sem cela
O importante é abrir a porta
O importante é abrir a porta
OPEN THE RED
OPEN THE NAKED
OPEN THE LEGS
NÃO IMPORTA
QUE PORTA
O QUE IMPORTA
ABRA!
AH RÁ RÁ RÁ RÁ
SE ABRA
ABRA A PORTA
SEM VOCÊ NÃO A (2017)
A história presente neste CD eu contava para meus filhos dormirem. Quando a escrevi, com a intenção de fazer dela um musical infantil, dei ao Tom Zé as letras que permeavam a fábula. Dias depois recebi as músicas numa fita cassete que foi parar na escola onde estudavam Laura e Bento e fez muito sucesso.
Mas naquele tempo não havia espaço para nossa fábula alfabética e a deixamos de lado. Torna-la pública agora, tantos anos depois, é motivo de celebração, porque o tempo deu a ela o que deu a mim e a Tom Zé: paciência para que ele, o tempo, escolhesse a ocasião de recontar esta história – desta vez, para a geração dos filhos dos nossos filhos.
Elifas Andreato.
FÁBULA:
Esta fábula não começa com “Era uma vez…”, porque ela acontece no Abecedário, terra onde vivem os habitantes do alfabeto. Nesta história não há reis nem rainhas, não tem princesas, sapos ou fadas. As protagonistas são mesmo as letras.
No Abecedário não há personagens mais ou menos importantes. São todos iguais. As maiúsculas sabem que precisam das minúsculas; e as vogais, das consoantes. Elas bem entendem que letra nenhuma escreve nada de fundamental sozinha.
Todo dia tem forrobodó no Abecê. E assim, uma tirando a outra pra dançar, as letras inventam as palavras, as palavras inventam as ideias, e as ideias inventam os futuros.
Mas não são só as letras que habitam essa terra. Há também a Curiosidade, responsável por reger o alfabeto. Sim, reger, porque as letras, assim como as notas musicais, têm sons. E, quando combinadas em palavras, formam música.
A Curiosidade é a maestrina do Abecedário. É ela quem conduz as letras em seu papel de guardiãs do passado, intérpretes do presente e construtoras do futuro.
Tudo ia bem no mundo das letras até chegar por lá o ressentido Silêncio. E com autoridade de quem já existia muito antes da invenção do alfabeto, ele decide sequestrar a Curiosidade para assim calar as letras e reinar sozinho, como fazia antes de haver qualquer som.
Como condição para libertar a Curiosidade, o Silêncio exige das letras a resposta de um enigma:
– Qual é a maior palavra do mundo?
Prepotente, ainda oferece uma dica, deixando as letrinhas ainda mais confusas:
– Essa palavra começa com E, tem pelo meio Amor, Alegria, Amizade, Solidariedade, Liberdade, e acaba com a última das vogais.
Sem a resposta, a Curiosidade ficaria presa para sempre.
O que o Silêncio não sabia é que as letras são solidárias. Em assembleia, decidem partir em busca da resposta do enigma. Mas, com medo do que aconteceria caso todas as letras abandonassem o Abecê, o A (a primeira e mais antiga letra do alfabeto) resolve se sacrificar. Foge sem que ninguém perceba para tentar resolver sozinho a charada.
Suas amigas então percebem a falta que uma simples letra pode fazer.
Diante da ausência do A, era preciso fazer algo, ou as palavras estariam fadadas a tornarem-se palavras esburacadas.
Foi o mágico G quem deu a solução para o problema. Grande amigo das estrelas, ele fez descer do céu as mais brilhantes.
E ssim el s suprir m – pelo menos tempor ri mente – usênci do .
Inconformado com a criativa solidariedade das letras e de suas amigas luminosas, o Silêncio resolve contra-atacar. Roga uma praga das boas sobre as pobres coitadas: “Estrela tirada do céu apaga!”
E as palavras vão ficando esbur_c_d_s.
Preocupadas com o A – que partiu sem dar notícias – e cientes de que não há o que o substitua, as letras decidem que é hora de ir todas em busca do amigo desaparecido e da Curiosidade sequestrada.
Para chegar rápido, pedem ajuda às cambaleantes estrelas, que no céu ganhariam brilho e velocidade novamente.
E assim as letras partem, decididas a reencontrar o A e libertar a Curiosidade.
E não é que as danadas conseguem encontrar o esconderijo do Silêncio?
Surpreso com a descoberta de sua toca – onde também havia aprisionado o A –, o malvado exige a reposta imediata do enigma, ou imporia para sempre o silêncio:
– Afinal, qual é a maior palavra do mundo?!
A resposta vem de onde menos se espera. Do pequenino Z, o último do alfabeto. É ele quem conclui, para a surpresa de todos:
– A maior palavra do mundo é EU!
E logo o caçulinha explica:
– Começa com E, termina com U e nela cabem todas as outras palavras: Amor, Alegria, Amizade, Solidariedade, Liberdade…
Eufórico, o ancião A completa:
– É isso! O EU é capaz de conter tudo. Embora seja pequeno como crianças, também como elas possui uma imaginação sem fim: Curiosidade, Criatividade, Vontade… No EU – ou em cada um de nós – tudo cabe. E não tem Silêncio que apague.
Derrotado, o Silêncio cumpre sua palavra, libertando os reféns.
As letras então confabulam o que fazer com o vilão. Prisão, ostracismo, desterro? Mas a Curiosidade as detém:
– O Silêncio é essencial para o Abecedário. Entre as palavras, no meio das frases, permeando os pensamentos, está sempre o Silêncio. Ele está em todos os livros, em todas as histórias. Assim como nesta.
Convencidos da sabedoria da Curiosidade e com a sensação de dever cumprido, nossos personagens desembarcam novamente no Abecedário e caem na farra, num grande Domingo das Letras.
Mas é preciso que se diga: tanta festa e tanto barulho deixam o Silêncio enlouquecido!
Elifas Andreto.
Músicas:
1- Palavras do Ar
2- Forrobodó do Abecê
3- Curiosidade
4- Como É o Nome Dela?
5- Sem Você Não A
6- A Mágica do G
7- A Praga do Silêncio
8- Estrelas Sabem Voar
9- A Maior Palavra do mundo
10- Domingo das Letras
1) Palavras do ar
(Tom Zé e Elifas Andreato)
As palavras do ar
Vão pular no céu
De um balão
As palavras do mar
Navegar ao léu
Numa embarcação
As palavras do chão
Vão rodar pião
Na palma da minha mão
As outras irão pendurar a, a,
No ar, no céu e o luar a, a,
Pular fogueira e soltar rojão
Pra comemorar
A descoberta das palavras
Do futuro
A descoberta das palavras
Do futuro
2) Forrobodó do abecê
(Tom Zé e Elifas Andreato)
Na hora em que a vontade
A vontade, a vontade
Tira o P de apaga
De apaga, de apaga
E põe o F de afaga
De afaga, de afaga
Aí o carinho revela
A vontade como é bela
Aí o carinho revela
A vontade como é bela
E quando chega o bem comum
A vontade é a cidade
Que mora com cada um
Bem lá dentro de cada um
Porque as letras inventam as palavras
As palavras inventam as ideias
As ideias inventam os futuros
E os futuros, futuros, futuros
E quando chega o bem comum
A vontade é a cidade
Que mora com cada um
Bem lá dentro de cada um
3) Curiosidade
(Tom Zé e Elifas Andreato)
Ó-si-dá-curi-
-Ó-si-dá-curi
-Ó-ó-ó-o-si-dá
Pois o que salva
A humanidade
É que não há quem cure
A curiosidade
A curi, a curi, a curiosidade
Inventou, inventou
A humanidade
E o burá, burá, buraco da fechadura
É o burá, burá, buraco da curió-sidade
A curi, a curi, a curiosidade
Inventou, inventou
A humanidade
E o burá, burá, buraco da fechadura
É o burá, burá, buraco da curió
O homem fez o fogo
Fu, fu, fu
Por curiosidade
O vento sopra a vela
Fu, fu, fu
Por curiosidade
A fada fez a fábula
Do príncipe fez sapo
E Eva comeu da maçã
Por curiosidade
Tudo que nunca foi achado
Ficará conhecido também se procurado
Com curiosidade
Pois o que salva a humanidade
É que não há quem cure a curiosidade
-Sidade a curi, a curi
-Sidade a curio-sidade a curio-sidade
-A curio-sidade a curiooo
4) Como é o nome dela?
(Tom Zé e Elifas Andreato)
Como como como é o nome dela?
O mundo todo a deseja, quer saber que gosto tem
Quer anotar no seu diário
Sobre o dia que ela vem, se vem
Os poetas a cobiçam; as meninas, nem se fala
Talvez o destino da gente
Seja mesmo procurá-la
Procu, procu, procu, procu procurá-la
Talvez por toda a vida seja só uma grande vontade
E sua rima mais próxima, quem sabe?
Felicidade, quem sabe?
Eu li que ela berra verdades, é caprichosa majestade
Mas que quando a gente cresce, ela desaparece
Parece
Como como como é o nome dela?
Como é? Como é?
5) Sem você não A
(Tom Zé e Elifas Andreato)
Nhenhenhém nhe
Nhenhenhém nhe
Nhenhenhém nhe
Nhenhenhém nhe
Ai, ai, A
O amor desaparecerá
Ai, ai, A
Alegria ninguém mais inventará
Ai, ai, A
Da verdade ninguém jamais saberá
Ai, ai, I
A própria felicidade
Ai ai ai, ai ai
Será palavra vazia
Palavra vazia
Sem você não haverá luar
Nem teremos o azul do mar pra navegar
Ai ai, hum hum
Sem você não A
Sem você não haverá canção
Sem você não há mais esperança pra criança
Ai ai, hum hum
Sem você não há
Sem você nem tristeza teremos
Pra nos lamentar
Sem você nem morrer de saudade
Nem mesmo chorar
Pois não há chorar
6) A Mágica do G
(Tom Zé e Elifas Andreato)
Quando o A fugiu,
O G surgiu com sua mágica
E fez descer do céu estrelas
Pra fazer com elas palavras com A fingido
Pois o A tinha fugido
E o G pôs estrelinha no lugar onde A tinha
Na pata da patinha, no rabo da estrelinha
Tinha A? Tinha! Tinha A? Tinha!
E no laço do sapato, e no miado do gato
Tinha A? Tinha! Tinha A? Tinha!
Na orelha da coelha, na pestana da cigana
Tinha A? Tinha! Tinha A? Tinha!
Iiii…magina a mágica, magina a mágica,
Magina a mágica. Mágica ô ô
Que corta mulher no meio
E não machuca
Mágica, ô ô
Que seja boa, que seja linda
Ou até maluca
Mágica, ô ô
Iiii…magina a mágica, magina a mágica,
Magina a mágica. Mágica ô ô
Que tira coelho da cartola
E nela bota bola
Mágica, ô ô
De longe sapo vira gente
E na gente nasce papo
Mágica, ô ô
Iiii…magina a mágica, magina a mágica,
magina a mágica. Mágica
7) A Praga do Silêncio
(Tom Zé e Elifas Andreato)
Eu vou te rogar uma praga
Praga, praga
Abracadabra te pega
Pega, pega
Assim como flor arrancada do chão
Murcha, murcha, ah ah ah
Estrela tirada do céu
Apaga, apaga, apaga, apaga, apaga
Pois eu derramei pó de mico
No talco da estrela guia
Ela coçava de frente, coçava de lado
Coçava de pente, até de dente
E coça, coça, nela
E quando a estrela-dalva
Se vestia para ver o dia
Eu dei um colírio pra ela
Perfumadinho
Mas era feito de remela
Remela, mela nela
E com uma das tais três Marias
Aquela que é cheia de bico
Eu despejei um caldinho na sopa dela
Tirado de um certo pinico
Pinico, nico nela
E eu passei um spray antibrilho
No brilho da estrela Vega
Ela ficou tão cega que escorregou
No primeiro monte de cocô
Cocô no brilho dela
8) Estrelas Sabem Voar
(Tom Zé e Elifas Andreato)
Quando se, quando se, quando se,
Quando se perde da gente
Quando se perde o amigo
Coração vacila na cilada
E o próprio medo mete medo no medo
Que perigo!
Por isso, por isso, por isso
Por isso será preciso sair
Da covardia
Te procurar lá
Procura de cá, procura de lá, procura de cá
Procura o amigo querido
Olha lá que as estrelas sabem voar, ah, ah
Sabem voar
Voar, ah, ah
Sabem voar
E com elas vamos ao céu procurar
nosso amigo
No desabrigo
O R viaja no rabo da estrela
Mas o B sobe no umbigo
E agarrado no pé vai o É, É, É
Fazendo chulé
O É, É, É
Fazendo chulé
O pequenino U só diz
“Ui, ui, ui, eu quero mamãe”
O C, o C viaja no colo
Mas o I, o I, o I
O nosso I é o vigia que avista o inimigo
Que rendeu no pó de visgo num pedaço
lá do céu no castigo
Nosso amigo
9) A maior palavra do mundo
(Tom Zé e Elifas Andreato)
A maior palavra do mundo é Eu
Eu, eu, eu, eu digo eu
Simplesmente Eu
Eu, eu, eu, eu, digo eu
Simplesmente Eu
O Eu é tão gorduchão
É tão gigante grandão
Que o mundo é um pigmeu
Diante de um simples Eu
E como, não se sabe como
No mundo já tem tantos Eus
Cada Eu que mora no mundo
É dentro de um milhão de Eus
A maior palavra do mundo é eu
Eu, eu, eu, eu, digo eu
Simplesmente eu
Eu, eu, eu, eu, digo eu
Simplesmente eu
Porém, sem ajuda do U
O E só pode não ser
Letra que não tem vizinha
Morre falando sozinha
Se a Fé precisa do L
I, Z para ser feliz
Você precisa de quê?
Eu preciso de você
A maior palavra do mundo é Eu
Eu, eu, eu, eu digo eu
Simplesmente Eu
Eu, eu, eu, eu digo eu
Simplesmente Eu
Do Eu, entre E e U
Tem letras do amor, da alegria
Tem a tentação do prazer
A mágica deve saber
Criar criança esperar
saber fantasia sonhar
Curiosidade dali
Verdade jamais conheceu
A maior palavra do mundo é Eu
Eu, eu, eu, eu digo eu
Simplesmente Eu
Eu, eu, eu, eu digo eu
Simplesmente Eu
10) Domingo das letras
(Tom Zé e Elifas Andreato)
No domingo das letras, o A pacatá
Pega o braço do E, e o I piquiti
Passa talco no O quando o U pucutu
Chama o T para o tú
E no domingo das letras
Na praça
Tem palhaço e equilibristas
Na praça
Generais e anarquistas fazendo cordão
E as letras orgulhosas unidas farão
Palavra, palavrinha, palavrão
Veja o C, escreve o carneiro e o canhão
De você nossa vida ganha cor
Coração e cantor
Mas quando acorda de jejum
Solta um ritmado pum pum
Pum pum pum pum
E no domingo das letras
Na praça
Tem palhaço e equilibristas
Na praça
Generais e anarquistas fazendo cordão
E as letras orgulhosas unidas farão
Palavra, palavrinha, palavrão
Até o H, que atrapalha toda hora
Ora, ora, é hora de inaugurar
A estátua bonita do A
– “Bonita por quê?”
– “Porque tem bunda de B”
Bunda de B
CANÇÕES ERÓTICAS DE NINAR (2016)
1 – Sexo
(Tom Zé)
Sexo, sexo,
Oh, sexo, sexo. Bis
Sexo, sexo,
Oh, sexo, sexo.
Vem do grego ou do latim
– Su, su, su –
E se vem respirando assim Bis
– Su, su, su –
É que vive na companhia
– Su, su, su –
De sua etimologia
– Su, su, su.
É a criança no seu último suspiro;
Na cabeça do adulto, esse piso liso
Fica russo, fica puto,
Tá louco, pede socorro, se apega, se agarra
E quer sobreviver.
Ah, meu senhor… Hum! Hum!
É isso. Bis
Ah, minha sinhá… Hum! Hum!
É o bicho
A respirar!
Sexo, sexo,
Oh, sexo, sexo, Bis
Sexo, sexo,
Oh, sexo, sexo.
Tom Zé: chaves, respirações, voz e vocais;
Daniel Maia: violão e coro;
Jarbas Mariz: coro;
Marcelo Blanck: arranjo de percussão, buzinório, tantã e sampler;
Paulo Lepetit: baixo e guitarra;
Marco da Costa: bateria;
Adriano Magoo: teclado e sanfona;
Luanda: coro.
2 – Descaração Familiar
(Tom Zé)
Hum hum – descaração familiar,
Hum hum – descaração familiar.
Educação sexual era coisa do mal,
Sabedoria popular veio desafiar.
Hum hum – descaração familiar,
Hum hum – descaração familiar.
Ah ah ah…
No beabá tinha fubá,
Passava por judicioso o malicioso,
O pessoal do serviço fazia
Nossa escolinha:
Aula todo dia,
Aula no quintal,
Aula na cozinha.
Metáfora: que debaixo
De saia tem fogão,
O curioso que futuca
Vai queimar a mão.
Sinédoque metia tudo
Na repartição… é bem aqui
Que meu caqui dá sapoti – ti,
Puras figuras de linguagem
Na libidinagem.
Dedo de cá,
Dedo de lá,
Toda conversa, vira-e-mexe, no sexo desce.
No beabá, tinha fubá… etc.
Dedo de cá,
Dedo de lá,
Toda conversa, vira-e-mexe, no sexo desce.
Tom Zé: respirações, voz e vocais;
Daniel Maia: violão e coro;
Jarbas Mariz: coro;
Paulo Lepetit: baixo, baixo eletrônico, guitarra e cavaco;
Marco da Costa: bateria;
Adriano Magoo: teclado e sanfona;
Pacote: derbak, pandeirão, shaker e bumbo;
Tuco Marcondes: bouzouki;
Luanda: coro.
3 – Urgência Didática
(Tom Zé e Marcelo Segreto)
Todo,
Todo moleque nasce
Valentão, no grito,
Porque debaixo do umbigo
Tem um requisito.
Eh eh, muito bem, tá lá
Não se vai ‘rancar. Oh, ‘rancar já?
Toda,
Toda mulher já nasce
Um mistério só
E debaixo do umbigo
É o primeiro nó.
Eh eh, muito bem, tá lá,
Não se vai tampar. Oh, tampar já?
Tinha que ser libidinática a urgência didática;
bem discarática, sem-vergonhática,
lascivolática,
LBGTS, a luta permanece, nosso coração merece.
Vaginocrática, falodurática
e tudo que for trepática:
foi o que nos salvou
Tom Zé: voz e vocais;
Daniel Maia: violão e coro;
Jarbas Mariz: triângulo, xequerê, ganzá, rói rói, afoxé e coro;
Paulo Lepetit: baixo, baixo eletrônico, guitarra, sampler de percussão e cavaco;
Marco da Costa: bateria;
Adriano Magoo: teclado e sanfona;
Hugo Hori: flauta piccolo;
Leandro Paccagnella: panelaria e derbak
Luanda: coro.
4 – Sobe ni Mim
(Tom Zé)
Mas o tempo não tinha nem começo nem fim.
— Mas o tempo não tinha nem começo nem fim?
Nem começo nem fim.
Mas aí, — mas aí?
O espaço acudiu;
— O espaço acudiu?
O espaço acudiu.
Vem, vem, sobe ni mim,
Sobe ni mim?
Sobe ni mim.
Aí qui, caía aqui, aí cá, caía cá… cai,
Sobe ni nim.
Aí qui, caía aqui, aí cá, caía cá… cai, Bis
Sobe ni nim.
Aí qui, caía aqui, aí cá, caía cá… cai,
Sobe ni mim.
Aí qui, caía qui, aí cá, caía cá… cai…
Vem, verêm, vem,
Sobe ni mim.
Vem, verêm, vem,
Sobe ni mim.
Vem, verêm, vem, Bis
Sobe ni mim.
Vem, verêm, vem,
Vem, verêm, vem,
Vem,
Sobe, sobe,
Sobe ni mim. .
Ai qui… etc
Vem, verêm, vem… etc.
Aí qui… etc
Cai, cai, cai, cai, cai, cai, cai, cai, cai, cai.
Tom Zé: respirações, voz e vocais;
Daniel Maia: violão e coro;
Jarbas Mariz: coro;
Marcelo Blanck: berimbau;
Paulo Lepetit: baixo, baixo eletrônico e guitarra;
Marco da Costa: bateria;
Adriano Magoo: sanfona;
Leandro Paccagnella: panelaria
Luanda: coro.
5 – Orgasmo Terceirizado
(Tom Zé)
Revista JP outubro de 2015, gênese da canção.
O orgasmo terceirizado está batizado:
Ansiedade na cidade, curiosidade,
Só a revista JP organizando um comitê
Para dar em primeira mão, primeira mão,
Como a doutora Pascowitch, com um palpite
– Intuição bate no peito, coração no pé direito –
Foi buscar na sua redação
Para reportar a casa do Oriente
A moça mais competente
Mandou massagear
Ai-ai ei-ei iê-iê ó u ipsilone
É de gemer.
Ai-ai ei-ei iê-iê ó u ipsilone
E gemer mais.
É de outubro ano 15, memorize,
Uma vitória da imprensa, musa que pensa,
Numa edição histórica, a revista categórica
Expõe pela primeira vez
O que o homem prometeu e nunca deu,
Onde relata a jornalista
A aventura da conquista:
Maioridade, mulher, tereis.
E nessa narração é uma comoção
Quando ela perde o leme
Treme, soluça e geme
Ai-ai ei-ei iê-iê ó u ipsilone
É de gemer.
Ai-ai ei-ei iê-iê ó u ipsilone
E gemer mais.
Ai-ai ei-ei iê-iê ó
Tom Zé: voz e vocais;
Daniel Maia: violão, cavaco e coro;
Jarbas Mariz: coro;
Marcelo Blanck: buzinório;
Paulo Lepetit: baixo, baixo eletrônico, guitarra e sampler de percussão;
Marco da Costa: bateria;
Adriano Magoo: sanfona;
Hugo Hori: flauta e flauta piccolo;
Luanda: coro.
6 – USP X GV
(Tom Zé)
Meninas da USP e GV,
Olha que grupo seleto,
Reuniu-se em comitê
Para comandar um projeto!
Mas ninguém saberá por quê
Houve lá um desajuste,
E as meninas da GV
Atacaram as da USP.
Moça da USP não gosta
Nem de rede, nem de cama:
De tanto viver no mato
Viciou gemer na grama.
Gemer na grama – hum hum Bis
Gemer na grama – hum hum
A USP chamou pra responder
Zé Miguel, Luis Tatit,
Maria Rita, Doutora Carmita,
Santaella e Chauí.
Tais poetas e doutores,
Não se podia imaginar,
Focaram refletores
No passado da GV.
Paulista com a Bela Vista
Era um morro a verdejar:
As meninas da GV
Iam lá pra namorar;
Por ali se encostavam,
Não se ouvia nem barulho,
Foi assim que se cavou
O túnel da Nove de Julho.
Cavando o túnel – hum hum Bis
Cavando o túnel – hum hum
Cavando túnel, túnel, túnel, túnel, tum.
Tom Zé: voz;
Participação especial de Vange Milliet
Daniel Maia: violão e coro;
Jarbas Mariz: coro;
Paulo Lepetit: baixo, guitarra e cavaco;
Marco da Costa: bateria;
Adriano Magoo; teclado;
Décio Gioielli: kalimba, still drum e marímbola;
Luanda: coro.
7 – No Tempo em que Ainda Havia Moça Feia
(Tom Zé)
Beleza nasce joia,
Vira paranoia
Porém, na juventude
Que magnitude,
Aí que toda mina
– Tangerina –
Exuberante no forró, no punk,
Mas eu garanto que a alma é escorregadia,
Se lhe negam poesia, asfixia.
O sobrenatural,
Se o amor é tal,
Bico no léxico-gramatical,
Sai daí!
Tu tu tu tu qué tu tá
Tu tu tu tu qué tu tê
Tó tó tó tó
Tu tu tu tu qué tu tá
Tu tu tu tu qué tu tê
Tó tó tó tó
Tóóóó…
No tempo que ainda
Havia moça feia,
No baile, só, triste, só.
Mas um dia um olhar
Cai no dela;
Aí que ele revê aquela
Que foi um grande amor dos tempos ciganos,
Quando eles eram pré-diluvianos…
O sobrenatural,
Se o amor é tal,
Bico no léxico-gramatical,
Sai dai!
Tu tu tu tu qué tu tá… … etc.
Mas quando ela se foi.
Que prejuízo!
Até o papa já fechou o paraíso,
Pois o ato sexual da moça feia
Já era sobremesa na Santa Ceia:
Tinha a finura de princesa,
Delicadeza,
E quando estava atoladinha,,
Uma rainha…
O sobrenatural,
Se o amor é tal,
Bico no léxico-gramatical,
Sai daí!
Tu tu tu tu qué tu tá… … etc.
Pipi, dedo, joelho, medo, cotovelo,
Valorizava o macho de cima a baixo;
Pipi, dedo, joelho, medo, cotovelo,
Medo porque é medo que arrepia pelo;
Dizia que aquela peça é medicinal
Principalmente dura, cura todo o mal.
O sobrenatural,
Se o amor é tal,
Bico no léxico-gramatical,
Sai daí!
Tu tu tu tu qué tu tá… … etc.
O buraco é mais embaixo, canibal,
É mais embaixo!
Tom Zé: respirações, voz e vocais;
Daniel Maia: violão e coro;
Jarbas Mariz: coro;
Paulo Lepetit: baixo, guitarra e cavaco;
Marco da Costa: bateria;
Adriano Magoo: teclado e sanfona;
Eder Rocha: zabumba
Luanda: coro.
8 – Dedo
(Tom Zé)
Antigamente a virgindade
Pesava na validade:
Porque só na volta da igreja
Podia comer cereja.
Porém,
Se era um namoro antigo
A mão naqui, dedo naquilo,
O casal ia na horta
Sem abrir a porta.
Ô ô ô, se foi um dia de tédio,
Ô ô ô, receito um dedo médio;
Ô ô ô, se ocorre até um chorinho.
Ô ô ô, receito dedo mindinho;
Ô ô ô, moça que pegou mau-olhado, Bis
Chá de dedo cruzado.
Ô ô ô, moça assustadinha,
Ô ô ô, dedo com camisinha;
Ô ô ô, moça de pai zangado,
Um dedo engravatado.
Moça que tem receio.
Dedo só até o meio;
Pra moça que ainda tem medo, Bis
Um dedo que guarde segredo.
Ô ô ô, sendo moça acanhada,
Ô ô ô, unha bem cortada;
Ô ô ô, se ela tem medo de pecado,
Ô ô ô, dedo batizado;
Ô ô ô, moça que tem a passarela fina, Bis
Dedo com vaselina.
Ô ô ô, moça que tem recato,
Ô ô ô, dedo intimidado;
Ô ô ô, moça religiosa,
Uma unha piedosa;
Moça que dá gritinho,
Um dedo com colarinho;
Moça de sangue real,
Um dedo boçal.
Tom Zé: voz e vocais;
Daniel Maia: violão de aço e coro;
Jarbas Mariz: triângulo, espátula e coro;
Paulo Lepetit: baixo e guitarra;
Marco da Costa: bateria;
Adriano Magoo: teclado e sanfona;
Webster Santos: viola de 10 cordas e cavaco;
Eder Rocha: zabumba;
Luanda: coro.
9 – Arroz, Lenda e Buquê
(Tom Zé)
Arroz e buquê
Em todo casamento
Tem que se meter – ter – ter.
Arroz e buquê Bis
Em todo casamento
Que tem – meter-se – que tem – que tem
Que tem – meter-se – que tem – que tem
Que tem – meter-se.
(Mas a lenda começa com a bruxa medonha):
Uma bruxa medonha
Prendeu a nudez,
Até que um dia
Um rei corajoso,
Que era treinado
Em arte e magia,
Com um punhado de arroz
E um buquê,
O rei pôde a bruxa combater
E salvar a nudez,
Que levou
Para no seu palácio viver, viver,
Coroada viver.
E, como rainha,
A nudez expulsou
As bruxas do mal,
Com uma simpatia
Que assim praticava
No seu ritual:
Pois toda menina que se via
Diante do amor que nascia
A rainha fazia receber
Um punhado de arroz e um buquê:
Até hoje se vê.
Arroz e buquê… etc
Tom Zé: voz e vocais;
Daniel Maia: violão e coro;
Jarbas Mariz: ganzá, triângulo e coro;
Paulo Lepetit: baixo, baixo eletrônico, guitarra e sampler;
Marco da Costa: bateria;
Adriano Magoo: teclado e sanfona;
Eder Rocha: zabumba;
Luanda: coro.
10 – Por Baixo
(Tom Zé)
Por baixo do vestido
A timidez
Baixo da timidez a seda fina
Baixo dela uma nuvem de calor
Baixo desse calor
Um perfume da China.
Por baixo do perfume a rede elétrica
Baixo da rede elétrica os pelos
E por baixo dos pelos as estradas
Que conduzem nos fios
Os teus arrepios
Manifestos em ois! e uis! e ais!
Lá aonde a razão não chega mais
E por baixo de tudo,
O que me deixa mudo,
A tua franqueza toda nua,
Que se veste de luxo
Em pele crua.
Breque: Veste tudo outra vez
Por baixo do vestido… etc.
Tom Zé: voz;
Daniel Maia: violão;
Paulo Lepetit: baixo;
Marco da Costa: bateria;
Adriano Magoo: teclado;
Webster Santos: bandolim.
11 – Cadê, Mané?
(Tom Zé)
Cadê, Mané, você quer?
Você quer ou não quer?
Cadê, Mané?, vem cá.
Mané, você quer ou não quer?
Vem
Se render, se perder, pois o rock aderiu
Pelo corrupio.
Ô… tem periquita pra cá,
Ô… tem periquita pra lá,
Ô… tem periquita pra cá,
Ô… tem periquita pra lá.
Tom Zé: voz e vocais;
Daniel Maia: violão, guitarra e coro;
Jarbas Mariz: coro;
Marcelo Blanck: buzinório;
Paulo Lepetit: baixo, baixo eletrônico e sampler;
Marco da Costa: bateria;
Alex Huszar: baixo;
João Sampaio: bandolim e cavaco;
Luca Frazão: violão de 7 cordas;
Joera Rodrigues: pandeiro, triângulo e ganzá;
José Rodrigues: guitarra;
Luanda: coro.
12 – Levada: Sobi ni Mim
(Tom Zé)
Daniel Maia: violões
Adriano Magoo: sanfona
João Parayba: percussão
instrumental
13 – Um Circo Voador
(Tom Zé)
Nosso circo voador,
Voador, voador,
Vai no céu, também no mar,
Bem no mar, bem no mar.
E se ele promete lá,
Mete lá, mete lá,
Já se compromete aqui,
Mete aqui, mete aqui, mete aqui.
Ninguém dava café pra mim,
Fé pra mim, fé pra mim,
Mas quando o circo me inspirou
Me pirou, me pirou,
Meu amor já me reconsiderou,
Siderou, siderou,
E me fez apelação,
Pelação, pelação.
É aí que a coisa pega,
A coisa pega, a coisa pega,
E eu… eu pego na coisa,
E eu… eu pego na coisa,
Este circo não faz provocação,
Vocação, vocação.
Todo rival respeita bem,
Peita bem, peita bem,
Fama e repercussão,
Percussão, percussão,
Com ninguém disputaria,
Putaria, putaria, putaria.
Na hora do escorrega-mão,
Rega mão, rega mão,
Meu bem só escorrega lá,
Rega lá, rega lá,
Sinto na respiração,
Piração, piração.
A famosa circoncentração
Entração, entração.
É aí que a coisa pega,
A coisa pega, a coisa pega,
E eu… eu pego na coisa,
E eu… eu pego na coisa,
E eu… quero pegar na coisa,
E eu… sou louco pela coisa,
E eu… não largo mais a coisa,
E eu… vou dormir com a coisa,
Com a coisa, com a coisa, com a coisa,
Coisa, coisa, coisa, coisa, coisa, coisa, coisa…
Tom Zé: voz e vocais;
Daniel Maia: violão e coro;
Jarbas Mariz: triângulo, pandeiro, ganzá, coquinho e coro;
Marco da Costa: bateria;
Adriano Magoo: sanfona;
Hugo Hori: sax soprano, flauta e flauta piccolo;
Tiquinho: trombone e arranjo de metais;
João Parayba: timba;
Luanda: coro.
VIRA LATA NA VIA LÁCTEA (2014)
1) GERAÇÃO Y (GY) 03:48 Editora: Irará Edições Musicais
(Tom Zé/Henrique Marcusso)
Voz: Tom Zé
Loops, violão, guitarras, baixo: Daniel Maia
Técnico de som: Daniel Maia
Mixagem: Daniel Maia
Arranjo: Tom Zé e Daniel Maia
Aí ai
meu bem
tire a calcinha,
aí ai
galope meu laptop,
hum hum,
me clone
aí no seu smartphone
me bote on line não me largue
Ipad, Ipad, Ipod, aí pode.
Vem depressa, porque
meu bem, meu bem, meu bem,
daqui a alguns anos
vamos ter de governar – ah, ah!
daqui a alguns anos
vamos ter de governar – ah, ah!
Daqui a alguns anos,
infelizmente governar.
Oh, e os nossos ideais, ai, quem diria
no mesmo camburão da burguesia.
Uma renca de parentes atender
nos ritos e delitos do poder
PUTA, QUE TRAGÉDIA
desaba sobre nós!,
logo depois que a ilusão tem voz.
Oh oh yes!
wireless
um ET
dentro do HD,
mas, além disso,
o ambiente é compromisso
porque já somos o pós-humano
a nova turma antropomórfica do bando ôô
Vem depressa, porque
Meu bem, meu bem, meu bem… … … etc.
2) A QUANTAS ANDA VOCÊ? 02:58 Editora: EIN – Ed. Inspiração Musical
( Tiago Araripe)
Voz: Tom Zé
Coro: Tom Zé/Daniel Maia
Guitarras: Gustavo Cabelo e Tomás Bastos
Baixo: Felipe Botelho
Bateria: Pedro Gongom
Sax tenor: Marcos Grinspum Ferraz
Sax alto e sax barítono e flauta: Oscar Ferreira
Gaita: Rayrai Galvão
Percussão: Guto Nogueira e Rafael Werblowsky
Técnico de som: Daniel Maia
Mixagem: Daniel Maia
Arranjo: Trupe Chá de Boldo: Ciça Góes, Leila Pereira, Julia Valiengo, Gustavo Galo, Gustavo Cabelo, Tomás Bastos, Felipe Botelho, Pedro Gongom, Marcos Grinspum Ferraz, Remi Chatain, Rayrai Galvão, Guto Nogueira, Rafael Werblowsky e Oscar Ferreira
eu quero saber
a quantas anda você
se está zen ou deprê
up to date ou demodée
eu quero saber
a quantas anda você
se popular ou privée
se animada ou blasée
se está longe numa sonda espacial em Marte
além do que os olhos podem ver
ou no deserto, esperando a próxima miragem
sem ter alguém ou pra onde correr
ou por aí em qualquer parte
vendo a sessão da tarde na tv
eu quero saber
como está mesmo você
transparente ou fumée
rapadura ou glacê
eu quero saber
a quantas anda você
reggae ou MPB
alta costura ou prêt-à-porter
se numa gôndola bucólica em Veneza
ou presa no rush na marginal do Tietê
se cantando no chuveiro se achando estrela
se arriscando em concursos de karaokê
ou vestida numa casca de banana nanica
na pista de dança ao som de Beyoncé
eu quero saber
a quantas anda você
se vai de chá ou saquê
se lê Caras ou Mallarmé
eu quero saber
como está mesmo você
se vai lembrar ou esquecer
a nossa dor, nosso prazer
3) BANCA DE JORNAL 03:22 Editoras: Criolo- Oloko Records / TZ-Irará Edições Musicais
(Criolo e Tom Zé)
Participação especial: Criolo
Voz: Tom Zé
Coro imitando cuíca: Kiko Dinucci
Guitarra: Kiko Dinucci e Daniel Maia
Violão: Kiko Dinucci
Surdo: Kiko Dinucci
Panelas, copos, ganzá: Kiko Dinucci
Técnico de som: Daniel Maia
Mixagem: Daniel Maia
Arranjo: Kiko Dinucci, Daniel Maia e Tom Zé
Veja! Isto É – poca
lenha
no grande bate-boca
E ainda escrevo
uma Carta Capital
para os Caros Amigos
desta banca de jornal
A formiga
carrega a Folha
do Estado de São Paulo
ao Piauí
Enquanto isso
A Cigarra quer ser Vip
pra sair Contigo na capa
da Tititi
Caras
quem pra marcar
4) CABEÇA DE ALUGUEL 05:34 Editora: Irará Edições Musicais
(Tom Zé) – Arrastão de Hesíodo, inspirado na tradução de JA Torrano
Voz: Tom Zé
Guitarras: Tim Bernardes (O Terno)
Vocais: Tim Bernardes (O Terno)
Órgão: Tim Bernardes (O Terno)
Baixo: Guilherme d’Almeida (O Terno)
Bateria: Victor Chaves (O Terno)
Percussão: Tim Bernardes, Guilherme d’Almeida e Victor Chaves
Técnico de som: Daniel Maia
Mixagem: Daniel Maia
Arranjo: O Terno: Tim Bernardes, Guilherme d’Almeida e Victor Chaves
Nove noites,
Muro de bronze,
Uma pesada névoa.
Me abandonaram dentro do poço
De onde eu ouço
Com doçuras e torturas
Em pleno gozo
O urubu que no seu pouso
Me prepara
Me separa
Do caroço
E me veste com a peste
Para a festa
Do colosso.
Assim eu visto todo dia
A glória no bordel
– E a minha cabeça?
Vivo do aluguel.
Armadilha
Alçapão
Armadilha
Alçapão
Rogai, rogai ao vosso Pai – em vós!
Armadilha
No monte Hélicon as filhas
Faziam coros
– Alçapão –
E doces lábios vertem fios de orvalho
– Armadilha –
De tranças no cabelo e
Vestem vermelho.
Alçapão,
Rogai, rogai ao vosso Pai
Armadilha
Rezai, querida
Porque se eu não for ao enterro do primeiro erro
Serei um pejo, latejo, praguejo, despejo
E em tudo que eu disponha só darei vergonha.
Alçapão
Oh mãe cuidai
Porque se a maldição me atiça febre de justiça
Serei visto como um torto
Esgoto
Aborto
Arroto
Roto
E de desgosto cubro o vosso rosto
Armadilha
Porque, amigos, se a coragem me empestear
Serei o Judas do clube na mesa do jantar
Alçapão
Rogai, rogai ao vosso Pai – em vós, em voz!
Armadilha
No monte Hélicon … … etc.
Nove noites … … etc.
E diante dela
Eu sou aquela ameba vadia
Que ao meu próprio monstro
Enfrenta e desafia
Enfrenta e desa…
5) POUR ELIS 02:29 Editora: Irará Edições Musicais
(Tom Zé / Fernando Faro)
Participação especial: Milton Nascimento
Voz: Tom Zé
Cavaco: Rodrigo Campos
Guitarra: Kiko Dinucci
Violão: Daniel Maia
Técnico de som: Daniel Maia
Mixagem: Daniel Maia
Arranjo: Kiko Dinucci e Rodrigo Campos
Agora o braço não é mais
O braço erguido num grito de gol
Agora o braço
É uma linha, um traço
Um rastro espelhado e brilhante,
O rascunho de um rascunho,
Uma forma nebulosa
Feita de luz e sombra,
Como uma estrela
– Agora sou uma estrela.
Agora retiram de mim
A cobertura de carne,
Escorrem todo o sangue,
Afinam os ossos em fios luminosos
E aí estou, pelos salões,
Pelas casas, cidades,
Parecida comigo.
E assim dizem, recontam a vida.
E todas as figuras são assim,
Desenhos de luz,
Agrupamentos de pontos,
De partículas, um quadro de impulsos,
Um processamento de sinais.
E aí estou pelos salões
Pelas casas, cidades,
Parecida comigo.
E assim dizem, recontam a vida.
E assim dizem, recontam a vida.
6) ESQUERDA, GRANA E DIREITA 03:24 Editora: Irará Edições Musicais
(Tom Zé)
Voz: Tom Zé e Jarbas Mariz
Guitarra e baixo: Daniel Maia
Block e pandeirola: Jarbas Mariz
Arranjo: Tom Zé e Daniel Maia
Técnico de som: Daniel Maia
Mixagem: Daniel Maia
O povo querida, querida
Salta do ovo, querida, querida
Para o esboço, querida, querida
E o precariado, querida-a
Em trabalho de parto
O povo querida, querida
Ainda suspeita, querida, querida
E nossa covardia, querida, querida
Masturba e deleita querida-a
Esquerda, grana e direita
TEXTO FALADO: Quando o trabalhador cresce na sociedade e tem oportunidade de ser protagonista da História – ele pratica o método do opressor porque foi o único método que aprendeu; então, ele só sabe agir como o opressor.
(Arrastão de Paulo Freire)
Um lápis e uma régua
Um resfriado me pega
Um flash quase me cega
Um memorando que nega
Um vento forte, um chuvisco
No olho me entra um cisco
Um som de casa de disco
Uma cobrança do fisco
Um desejo por vitrina
Uma moça por esquina
Hoje eu te pego menina
A minha mão por vagina
Um cartaz de mulher nua
Um cego atravessa a rua
– Garçom, a carne está crua!
A mãe de quem? É a sua?
Um ódio que me destrói
O sangue corre corrói
Eu quero ser um herói
Vida de borra, my boy.
Ô, ô, ô, de borra (3 vezes)
O povo, querida, querida
Há de sobreviver… etc
O povo querida, querida
Ainda suspeita… etc
7) MAMON 03:19 Editora: Irará Edições Musicais
(Tom Zé)
Voz: Tom Zé
Teclado: Cristina Carneiro
Guitarra: Daniel Maia
Vocais: Tom Zé, Jarbas Mariz, Rogério Bastos, Felipe Alves, Daniel Maia e Cristina Carneiro
Técnico de som: Daniel Maia
Mixagem: Daniel Maia
Remix: Silva
Arranjo: Silva e Tom Zé
(Discurso do Papa, 16 de maio de 2013, Sala Clementina, Palácio Apostólico do Vaticano)
Senhores embaixadores,
A humanidade vive agora
Um retrocesso da História.
Dig di didi dinhê
Dig di didi dinhê
Dig di didi dinhê
Dig di didi dinheiro vem tiranizar
Dinheiro quer comandar
Dinheiro quer como está
O antigo bezerro de ouro – de ouro
É novamente adorado – dourado
O homem só bem de consumo – consumo,
Usado, fica descartado,
Surrado, surrupiado,
Surrado, surrupiado.
Dinheiro quer ditadurar.
8) SALVA HUMANIDADE 04:23 Editora: Irará Edições Musicais
(Tom Zé / Elifas Andreato)
Voz: Tom Zé
Vocais: Ciça Góes, Leila Pereira, Julia Valiengo e Gustavo Galo
Guitarras: Gustavo Cabelo e Tomás Bastos
Baixo e sintetizador: Felipe Botelho
Bateria: Pedro Gongom
Sax tenor: Marcos Grinspum Ferraz
Sax alto e sax barítono: Remi Chatain
Gaita: Rayrai Galvão
Percussão: Guto Nogueira e Rafael Werblowsky
Apitos e brinquedos: Tatá Aeroplano
Técnico de som: Daniel Maia
Mixagem: Daniel Maia
Arranjo: Trupe Chá de Boldo: Ciça Góes, Leila Pereira, Julia Valiengo, Gustavo Galo, Gustavo Cabelo, Tomás Bastos, Felipe Botelho, Pedro Gongom, Marcos Grinspum Ferraz, Remi Chatain, Rayrai Galvão, Guto Nogueira, Rafael Werblowsky e Oscar Ferreira
Mas o que salva
a humanidade
é que não há quem cure BIS
a curiosidade.
A curi, a curi
a curiosidade
inventou, inventou
a humanidade
e o burá, o burá
buraco da fechadura
é o burá, burá
buraco da curió-
sidade. A curi,
a curi,
a curiosidade
inventou, inventou
a humanidade
e o burá, o burá
buraco da fechadura
é o burá, burá
buraco da curió.
O homem fez o fogo
fu fu fu, por curiosidade.
O vento sopra a vela
fu fu fu, por curiosidade.
A fada fez a fábula
a bruxa cai de bunda cá;
Eva comeu da maçã
por curiosidade.
Tudo que nunca foi achado
ficará também conhecido
se procurado
com curiosidade
Mas o que salva… … etc.
9) GUGA NA LAVAGEM 03:15 Editora: Irará Edições Musicais
( Marcelo Segreto/Tom Zé)
Voz: Tom Zé
Coro: Tatá Aeroplano, Renato Di Giorgio, Marcelo Segreto, Rubens de Oliveira, Ivan Ferreira, Renata Garcia, Fernando Henna, Sérgio Abdalla, Suyan Mariotti e Antonia Teixeira.
Acordeom: Fernando Henna
Baixo: Migue Antar
Fagote: Ivan Ferreira
Clarinete: Renata Garcia
Eletrônica: Sérgio Abdalla
Percussão: Rubens de Oliveira
Violão: Marcelo Segreto
Arranjo: Marcelo Segreto
Técnico de gravação do coro: Sérgio Abdalla
Técnico de som: Daniel Maia
Mixagem: Daniel Maia
Arranjo: Marcelo Segreto
Ô Guga, vem cá,
cai logo na lavagem que eu te quero ver,
– Gugá.
Ô Guga, vem cá,
a banda aqui só toca se tiver você
– Gugá
A Denise avisou
que logo logo vai chegar
já se mascararou
e sempre se mascarará.
Também mascararei todo mundo no fuzuê,
no fuzuê, no fuzuê
que Zelito e Cheba vão puxar.
Ô Guga, vem cá… … … (etc.)
Veio o Zé Valverde
que Pedrão nos ofertou
no dia que Pereira
no seu sítio nos guardou
daquela ditadura
que era mais dura em Irará,
no fuzuê de Irará
que Daniel e Zé Nilton vão puxar.
Ô Guga, vem cá … … … (etc.)
A Toteia avisou
Que falta tu no bafafá;
Nola anunciou
que sem você ninguém virá;
sem você na folia
toda a cidade vai parar
e vai parar e já parou…
Ô Guga, vem cá … … … (etc.)
10) IRARÁ IRÁ LÁ 03:26 Editora: Irará Edições Musicais
(Tom Zé)
Voz: Tom Zé
Vocais: Trupe Chá de Boldo: Ciça Góes, Leila Pereira, Julia Valiengo e Gustavo Galo
Guitarras: Gustavo Cabelo e Tomás Bastos
Baixo: Felipe Botelho
Bateria: Pedro Gongom
Sax tenor: Marcos Grinspum Ferraz
Sax alto, sax barítono e flauta: Remi Chatain
Gaita: Rayrai Galvão
Percussão: Guto Nogueira e Rafael Werblowsky
Técnico de som: Daniel Maia
Mixagem: Daniel Maia/Tom Zé
Arranjo: Trupe Chá de Boldo – Ciça Góes, Leila Pereira, Julia Valiengo, Gustavo Galo, Gustavo Cabelo, Tomás Bastos, Felipe Botelho, Pedro Gongom, Marcos Grinspum Ferraz, Remi Chatain, Rayrai Galvão, Guto Nogueira, Rafael Werblowsky e Oscar Ferreira
É elevando Sinhá Inácia,}
Melânia, Pedro Piroca } 4 vezes
Que Irará chegará lá lá }
Irará, Ira lá, Ira lá
Professora Hildete, Lurdes, professor Artur
Escola pra Dudu,
Chico de Beto e Zé Bacu.
Zeca, Celeste, Elísio e Ubaldino ,
Almiro mestre, Anísio Bombardino, ai!
Ai doutor Deraldo, Marle, Edi,
Os corações ali,
Xaxá regendo a Vinte-cin!
É elevando Sinhá Inácia, }
Melânia, Pedro Piroca } 4 vezes
Que Irará chegará lá lá }
Iralá ira lá irá lá
Diu, Zé Nilton, Cao, Aguinaldo meu
Margô, Zé Aristeu
Tõe Luiz, Virgínia, Val, Sinval, Romeu
Renato, filho de Dona Ceci,
Não fosse ele eu não estava aqui.
Dona Maninha, mãe de leite minha
Guile, Paulo Campos
Dega de Bráulio, Elzinha
11) PAPA PERDOA TOM ZÉ 02:36 Editora: TB- Spin Music / TZ-Irará Edições Musicais
(Tim Bernardes/Tom Zé)
Voz e guitarras: Tim Bernardes (O Terno)
Baixo: Guilherme d’Almeida (O Terno)
Bateria: Victor Chaves (O Terno)
Técnico de som: Daniel Maia
Mixagem: Daniel Maia
Arranjo: Tim Bernardes (O Terno)
Papa Francisco vem perdoar
o tipo de pecado que acabaram de inventa:
o povo, querida, com pedras na mão
voltadas contra o imperialismo pagão.
Sou a garotinha ex-tropicalista,
agora militando em um movimento,
já não penso mais em casamento
mas se tomo Coca-Cola acho que estou me vendendo.
Mas eu sei que Papa Francisco vem perdoar … … … etc.
Meu coração fundamentalista
pede socorro aos intelectuais,
pois a diferença entre esquerda e direita
já foi muito clara, hoje não é mais.
Quero civilizar o capitalismo selvagem,
quero trazer a luz pra toda ignorância,
como benfeitora – não desejo o mal,
assim como não quis o velho amigo Cabral
Papa Francisco vem perdoar … … … etc.
E na cerimônia do beija-pé,
Papa Francisco, perdoa Tom Zé.
No Feicebuqui da Santa Sé,
Papa Francisco, perdoa Tom Zé.
Pela magnânima força da fé,
Papa Francisco, perdoa Tom Zé.
Por la sudamericana unidad Fidel,
Papa Francisco, perdoa Tom Zé.
12) RETRATO NA PRAÇA DA SÉ 03:51 Editora: Irará Edições Musicais
(Tom Zé)
Voz: Tom Zé
Violões: Kiko Dinucci
Técnico de som: Daniel Maia
Mixagem: Daniel Maia
Arranjo: Kiko Dinucci
É pra tudo ser
tal tal tal
igual você:
Dedos meus a tocar-te devagar
tão devagar que dê pra divagar;
dedos enxergam no escuro,
quero fazer teu retrato
e no retrato cada pelo detalhado.
Cada milímetro com luz e calor,
dos fios do cabelo aos dedos do pé.
Quero deixar o retrato
exposto na Praça da Sé
pra que a cidade possa
toda te amar.
Portanto, é
pra tudo ser
ai, tal, tal
igual você.
Dedos meus a tocar-te devagar … … … etc.
Que farra!
E é pra tudo ser
ai, tal, tal
igual você
13) A BOCA DA CABEÇA 02:51 Editora: Irará Edições Musicais
(Tom Zé)
Voz: Tom Zé
Técnico de som: Tom Zé
Mixagem: Daniel Maia
Violão: Tom Zé
A boca
anda louca –
o nariz é quem diz.
O dente
é muito valente –
mas é a língua que xinga.
O queixo se queixa,
mas o bigode não pode
A cabeça que padeça,
o olho fica de molho
cabelo criando piolho
pescoço afinando no osso.
A testa detesta
mas a pestana se abana.
Se uma bo-
ca de can-
tor já não
se pode
dizer que
é uma coisa pura
Uma cabe-
ça de po-
eta cer-
tamente
que não pas-
sa nem pela censura.
Se a cabe-
ça ela é du-
ra ela é pu-
ra loucu-
ra encuca
e fica maluca.
Já da bo-
ca dali
nem sali-
va se li-
vra da língua
da vida da vizinha.
Vida vida vidazinha
da vida vida vizinha.
Vida vida vidazinha
Da vida vida
da da da da da da da
D’ a boca
anda louca… … … etc.
14) A PEQUENA SUBURBANA 03:48 Editoras: CV-Uns Produções Artísticas / TZ-Irará Edições Musicais
(Caetano Veloso e Tom Zé)
Voz, participação especial: Caetano Veloso
Voz: Tom Zé
Violão: Daniel Maia
Oboé: Franklin Souza
Violino: Éverton Amorim
Violino: Mica Nassif
Viola: Paco Garcés
Violoncelo: Rafael Ramalhoso
Contrabaixo: Rui Barossi
Técnico de som: Daniel Maia
Mixagem: Daniel Maia
Arranjo: Marcelo Segreto
A pequena suburbana
naquela periferia
uma simples vira-lata
no fundo da Via Láctea
sem nome e sem dinastia…
Pois não é que esta vadia
se pinta como distinta
e ainda pensa e pondera:
“Ai quem me dera
sei lá…
Uma atmosfera.”
Vejam só que a dita cuja
uma mera suburbana
pelos ares que se dá
e a pose com que se abana
na brisa que ela mesma
criou pra se refrescar…
Pois esta louca cigana
ainda pensa e pondera:
“Ai quem me dera
sei lá…
Uma atmosfera.”
Pelos ares os quasares querem ter
o azul que nos teus mares dá-se a ver;
como tanto é doidivanas desejar,
eles pedem muito menos sem ter mágoa.
Luz e brilho trocariam pra levar
uma simples e pequena gota dágua.
Mas receio, no coito a que ela se entrega
vai que afoita ela se esfregue numa ameba
lá naquela lamacenta mistureba
e dispare um multiplicar sem regra;
pois a vida é suicida e quando pega
não controla mais o barco em que navega.
Tribunal do Feicebuqui
Certidão de nascimento:
Nasceu aos 22 dias do mês de abril, sob o signo de In-Touro-Net, o filho do coca-colismo espermatizado pelos amigos do Tom Zé.
Nome de batismo: TRIBUNAL DO FEICEBUQUI
Padrinhos: Daniel Maia, Emicida, Filarmônica de Pasárgada, Tatá Aeroplano, O Terno e Trupe Chá de Boldo.
Paternidade: Marcus Preto
Parteira: Neusa Martins
Assistente: Tania Lopes
ORDEM NO TRIBUNAL!
Tendo o Detetive-Chefe Marcus Preto considerado os textos do Tribunal do Feicebuqui literatura consistente para a criação de uma nova edição de Imprensa Cantada, soube pelo depoimento de Tom Zé que este resolvera doar o cachê do referido anúncio da Coca-Cola à banda de música de Irará, para uso na Escola de Música que ela mantém.
Como isso não criava impedimento, ele convidou as bandas supracitadas:
Emicida,
Filarmônica de Pasárgada,
Tatá Aeroplano,
O Terno,
Trupe Chá de Boldo,
para fazer parceria com os amigos de Tom Zé que postaram mensagens no Feicebuqui sobre o anúncio. E começaram a nascer as canções que comporiam um LP (vinil) e um CD a se chamar Tribunal do Feicebuqui.
No dia de hoje estamos disponibilizando cinco canções do futuro disco para os nossos queridos feicebuqueiros.
Continuamos trabalhando no referido disco, cujo lançamento sonhamos fazer – em julho ou agosto – em Irará, Bahia – para entregar o cheque a Diógenes Barbosa, presidente da Lítero Musical 25 de Dezembro, a banda de música de Irará. Vale contar que a banda de Irará está proibida de tocar no concurso de bandas do interior, promovido em Salvador pelo governo do Estado da Bahia. Pois, diante do protesto das outras bandas, ela atualmente só tem o direito de se apresentar hors concours, já que vinha vencendo todos os concursos dos últimos anos.
O fato é que, apesar disso, à banda sempre faltam recursos.
O cachê será doado em nome de dona Maninha, mãe de leite de Tom Zé, que em grande pobreza criou cinco filhos e ainda formou dois deles – um em engenharia civil (Paulo Aquino) e outro em medicina (José Aquino). Alaíde e Dida são vivos, mas o irmão de leite de Tom Zé, Ivan Aquino, conhecido por “Ivan, o Turco”, morreu vítima de um assalto.
“Dos Santanas e Martins eu ganhei o comunismo especulativo e a doçura, mas foi o leite de dona Maninha que me deu a persistência. Tribunal do Feicebook não é uma resposta grosseira a quem escreveu contra ou a favor na internet. Respeito e agradeço a opinião de todos os feicebuqueiros já que fui influenciado por quem me criticou e por quem me defendeu.”
APRESENTAÇÃO DOS ARGUMENTOS DE ACUSAÇÃO E DEFESA
1) “TRIBUNAL DO FEICEBUQUI”
(Marcelo Segreto/Gustavo Galo/Tatá Aeroplano/Emicida)
2) “ZÉ A ZERO”
(Tom Zé/Marcelo Segreto/Tim Bernardes)
3) “TAÍ”
(Joubert de Carvalho/Tom Zé/Marcelo Segreto)
Esta versão foi feita para o lançamento de “Taí”, com Zaragoza, que tinha a conta na DPZ. Agora, 40 anos depois, Marcelo Segreto, com sua acuidade, acrescentou mais 2 estrofes para coincidir com os 3 gritos da letra. Como se vê, há muito tempo que eu estou no “pecado” da publicidade. Mas uma pesquisa indicou que a juventude preferia um rock para anúncio do guaraná.
4) “PAPA FRANCISCO PERDOA TOM ZÉ”
(Tim Bernardes)
5) “IRARÁ IRALÁ”
(Tom Zé)
FICHA TÉCNICA
Tom Zé – Tribunal do Feicebuqui
Gravado em abril de 2013 no estúdio Vale do Silício
Arranjos e execução: Emicida, Filarmônica da Pasárgada, Tatá Aeroplano, O Terno e Trupe Chá de Boldo
Produção musical, gravação e mixagem: Daniel Maia
Direção artística: Marcus Preto
LETRAS:
TRIBUNAL DO FEICEBUQUI
(Marcelo Segreto / Gustavo Galo / Tatá Aeroplano / Emicida)
Tom Zé mané
Baixou o tom
Baba baby
Bebe e baba
Velho babão
Tom Zé bundão
Baixou o tom
Baba baby
Bebe e baba
Mané babão
Seu americanizado
Quer bancar Carmen Miranda
Rebentou o botão da calça
Tio Sam baixou em sampa
Vendido, vendido, vendido!
A preço de banana
Já não olha mais pro samba
Tá estudando propaganda
Que decepção
Traidor, mudou de lado
Corrompido, mentiroso
Seu sorriso engarrafado
Não ouço mais, eu não gostei do papo
Pra mim é o príncipe que virou sapo
Onde já se viu? Refrigerante!
E agora é a Madalena arrependida com conservantes
Bruxo, descobrimos seu truque
Defenda-se já
No tribunal do Feicebuqui
A súplica:
Que é que custava morrer de fome só pra fazer música?
ZÉ A ZERO
(Tom Zé / Marcelo Segreto / Tim Bernardes)
Mas será revolução?
Pocalipse se pá?
Quando ligo na TV
Caio duro no sofá
Ô rapá, qualé que é?
A copa aqui co qui calé?
É coco colá
Aqui copa coca acolá
Fazendo propaganda do Tom Zé
Tem sabor abacaxi
Mais potente que o chá
O xarope é xique-xique
Tudo made in Irará
Ô Dodó, como é que é?
A copa aqui co qui cale?
É coco colá
Aqui copa coca acolá
Fazendo propaganda do Tom Zé
Zé a zero fim de jogo
Na garrafa uma canção Foi lançada no oceano
Pra chegar no coração
Mas navega lentamente
Pois é indie e dependente
Nada pela contramão
TAÍ
( Joubert de Carvalho / Tom Zé / Marcelo Segreto)
Taí
São três gritos no meu sangue de guerreiro
Eu sou índio rei de angola e marinheiro
E tô no ovo
Porque tai
O guaraná do nosso povo
Se o rei de França quiser um dia
Virar criança, ter um xodó
Beber a força do guaraná
Tem que vir aqui
Ou mandar buscar
Se o rei ianque quiser um dia
Descer do tanque, do pedestal
Tomar a força do guaraná
Tem que vir aqui
Ou mandar buscar
Se o brasileiro quiser um dia
Ser o primeiro na educação
Ganhar a força do guaraná
Tem que ir além
Tem que Irará
PAPA FRANCISCO PERDOA TOM ZÉ
(Tim Bernardes)
Papa Francisco vem perdoar
O tipo de pecado que acabaram de inventar
O povo, querida, com pedras na mão voltadas contra o imperialismo pagão
Sou a garotinha ex-tropicalista
Agora militando em um movimento
Já não penso mais em casamento
Mas se tomo Coca-Cola acho que estou me vendendo
Mas eu sei que Papa Francisco vem perdoar
O tipo de pecado que acabaram de inventar
O povo, querida, com pedras na mão voltadas contra o imperialismo pagão
Meu coração fundamentalista
Pede socorro aos intelectuais
Pois a diferença entre esquerda e direita
Já foi muito clara, hoje não é mais
Quero civilizar o capitalismo selvagem
Quero trazer a luz pra toda ignorância
Como bem-feitora – não desejo o mal
Assim como não quis o velho amigo Cabral
Papa Francisco vem perdoar
O tipo de pecado que acabaram de inventar
O povo, querida, com pedras na mão voltadas contra o imperialismo pagão
E na cerimônia do beija-pé
Papa Francisco perdoa Tom Zé
No Feicebuqui da santa sé
Papa Francisco perdoa Tom Zé
Pela magnânima força da fé
Papa Francisco perdoa Tom Zé
Por la sudamericana unidad Fidel
Papa Francisco perdoa Tom Zé
IRARÁ IRALÁ
(Tom Zé)
É elevando, Sinhá Inácia
Melânia, Pedro Piroca
Que Irará chegará lá
Iralá iralá irá
Iralá iralá irá
Irará, Iralá, Iralá
Professora Iudete, Lurdes, professor Artur
Escola pra Dudu
Chico de Beto e Zé Bacu
Zeca, Celeste, Elísio e Ubaldino
Almiro mestre, Anísio Bombardino, ai!
Ai doutor Deraldo, Marle, Edyi
Os corações ali
Xaxá regendo a 25
É elevando, Sinhá Inácia
Melânia, Pedro Piroca
Que Irará chegará lá
Iralá iralá irá
Iralá iralá irá
Irará, Iralá, Iralá
Diu, Zé Nilton, Cao, Aguinaldo meu
Margô, Zé Aristeu
Tõe Luiz, Virgínia, Val, Sinval, Romeu
Renato, filho de Dona Ceci
Não fosse ele eu não estava aqui
Dona Maninha, mãe de leite minha
Guile, Paulo Campos
Dega de Bráulio, Elzinha
TROPICÁLIA LIXO LÓGICO (2012)
Texto contracapa cd Tropicália Lixo Lógico:
ATRIBUI -SE ao rock internacional e a Oswald de Andrade o surgimento da Tropicália. Não é exato.
Somem-se Oiticica, Rita, Agripino, o teatro de Zé Celso, etc. …: eis a constelação que cria um gatilho disparador e provoca em Caetano e Gil o vazamento do lixo lógico do hipotálamo para o córtex.
O poderoso insumo do lixo lógico, esse sim, fez a Tropicália.
DE 0 A 2 anos, a placa mental está virgem e faminta. Nunca mais, durante toda a vida, o ser humano aprenderá com tal intensidade. Aí reside a força do aprendizado na creche tropical.
Só a partir da escola primária, que para nós começava aos 6 ou 7, tem início o contato com a organização do pensamento ocidental promovida por Aristóteles – um choque delicioso –, cuja comparação com a creche desencadeia o lixo lógico.
O MONTE HÉLICON
teve muito trabalho, como sempre.
As filhas de Mnemósine provocaram várias esquinas energéticas:
Marcus Preto aventou um encontro com Mallu Magalhães.
Kassin veio também. A iminência de encontrá-los provocou a febre que compôs a parte romântica.
Gerald Thomas me consultou sobre uma ópera e inspirou o tecido mitológico, com Joseph Campbell.
Neusa, assimilada ou externa, encadeava terços de tabuada e álgebra.
O fazimento da capa com Richard Vignas e Rodrigo Villas Bôas foi uma bênção porque os gráficos estavam em um estado muito precário. Essa colaboração facilitou a explicação de tudo.
01 – APOCALIPSOM A (O FIM NO PALCO DO COMEÇO) 4’33”
(Tom Zé)
Personae iures alieni
Diabo e Deus numa sala;
Firmou-se acordo solene
De unir em casamento
A fé e o conhecimento.
Casou-se com muita gala
O saber de Aristóteles
Com a cultura do mouro,
Para ter num só filhote
O duplicado tesouro.
E toda casta divina
Estava lá reunida:
Apolo e Macunaíma,
Diana, Vênus e Urânia
Chiquinha Gonzaga Bethânia.
O Diabo ali presente,
De todo banco gerente
(Conforme o cabra da peste
Chamado Bertold Brecht).
Tinha comida e regalo
Tinha ladrão de cavalo
Pai-de-Santo e afetado,
Padre, puta e delegado
E a menina, meu rapaz
Cresceu depressa demais:
Anda presa na Soltura
Circula na Quadratura
E o Sossego ela não deixa em paz.
Cada dia mais esperta
A moleca desconcerta
Conserta e já desconcerta,
No senso que ela retalha
Não há quem bote cangalha.
Se você faz represália
Ela passa a mão na genitália,
Esfrega na sua cara.
Mas…
Onde a cultura vige
E o conhecimento exige
Recita noblesse oblige
Com veludo na laringe,
Castiça cantarolando
Quod erat demonstrandum,
E recebida na sala
Se trata por Tropicália.
Ficha técnica
Programação de loops: Daniel Maia e Marcelo Blanck
Daniel Maia: violão, baixo, guitarra e cavaquinho
Felipe Alves: violão, baixo, guitarra e cavaquinho
Cristina Carneiro: teclado
Marisa Silveira: cello
Cintia Zanco: violino
Rui Barossi: contrabaixo
Thomas Roher: rabeca
Backing vocals: Lia Bernardes, Daniel Maia, Felipe Alves, Jarbas Mariz, Renato Léllis
Tom Zé: voz
Participação: Emicida
02- CAPITAIS E TAIS 2’09”
(Tom Zé)
A roupa que me veste melhor
É o luar de Maceió;
Meu melhor cobertor, quando esfria,
É o calor da Bahia.
Coisa boa João Pessoa,
As lagoas de Alagoas,
Que sina terei, Teresina,
Se Recife se refere à cidade
Saudade?
Em riba da Paraíba,
Maluco por Pernambuco.
C.R.B. vai ser agora
O novo rei da bola.
Guaraná vai pisar no
Calo da Coca-cola,
Do colo de Aracaju
Arava o Ceará,
Bahia, quando caía
Na cuia de Cuiabá.
C.R.B. vai ser agora… etc
Em riba da Paraíba
Maluco por Pernambuco;
Eu podia viver lá, mas lá
Lá vou eu ficando cá.
Ficha técnica
Renato Léllis: bateria
Felipe Alves: baixo
Daniel Maia: violão e guitarra
Jarbas Mariz: percussão
Backing vocals: Lia Bernardes, Daniel Maia, Felipe Alves, Jarbas Mariz e Renato Léllis
Tom Zé: voz
03 – TROPICALEA JACTA EST 5’48”
(TOM ZÉ)
Parassá penteu escuta cá (No canto III de Ovídio em “Metamorfoses”
Parassá penteu escuta aqui Alceste conta ao rei Penteu um episódio
Quando Baco bicou no barco sobre Baco)
Tinha Pigna, Campos in (Pigna: Pignatari / Irmãos Campos)
Celso Zeopardo*, (Zé Celso Martinez Correia)
Matinê par´o delfim
Vi, vi, vi
Dois que antes da cela – da ditadura
Deram a vela / da nossa aventura
Barqueiro meu navegador
Pa-ra-rá conjectura logo nosso primeiro
Computador / computador.
(No disco do Sinatra a viagem começa no século VIII, quando o zero invadiu nossos avós. Mas voltamos aos anos 60)
Era urgente / sair da tunda
Levar a gente / para a Segunda
Revolução Industrial
Pa-ra-rá capacitados para a nova folia:
Tecnologia
Tecnologia.
Domingo no parque sem documento
Com Juliana-vegando contra o vento
Saímos da nossa Idade Média nessa nau
Diretamente para a era do pré-sal.
Parassá penteu escuta cá… etc
Torquato Neto / do Piauí
Pinta no verso / do céu daqui
Aquela manhã que se inicia
Desfolha a bandeira e renuncia
Puta filia
Puta filia.
(No disco do Sinatra antes d´os Novos, chegaram outros baianos)
Bandeiras no mastro / novo repasto
Mas cada gentio / trazia no cio
A fome das feras / naquele jejum
Mas havia quimeras / de coca com rum
Pra cada um / pra cada um
Ficha técnica
Renato Léllis: bateria
Felipe Alves: violão e baixo
Daniel Maia: guitarra
Jarbas Mariz: percussão
Cristina Carneiro: teclado
Marisa Silveira: cello
Violino: Cintia Zanco
Rui Barossi: contrabaixo
Thomas Roher: rabeca
Gil Duarte: trombone e flauta
Backing vocals: Lia Bernardes, Daniel Maia, Felipe Alves, Jarbas Mariz e Renato Léllis
Tom Zé: voz
Participação: Mallu Magalhães
04 – O MOTOBÓI E MARIA CLARA 3’54”
(Tom Zé)
Tom Zé: Motobói se apresenta!
A motocar
Mallu: Ele me toca
Tom Zé: Se avenida fica lenta
A motocar!
Mallu: Eu toco nele
Tom Zé: A motocar!
A motoca toca a me levar
Mallu: Por me tocar
Minha touca pra te retocar
Tom Zé: Pegando nossa carona
A motocar
Mallu: Ele me toca
Tom Zé: Escritório funciona
A motocar!
Mallu: Eu toco ele
Tom Zé: A motocar
A motoca toca me levar
Mallu: Por me tocar
Minha touca pra te retocar
Clara Maria
Sonha di comprá
Na primeira liquidação
Os eletros,
Nosso fogão.
Tom Zé: Motobói segura a barra
A motocar!
Mallu: Ele me toca
Tom Zé: Quando a cidade para
A motocar!
Mallu: Eu toco nele
Tom Zé: A motocar
A motoca toca me levar
Mallu: Por me tocar
Minha touca pra te retocar
Tom Zé: O perigo eu conheço,
A motocar!
Malu: Ele me toca
Tom Zé: Ele tem meu endereço
A motocar!
Mallu: Eu toco ele
Tom Zé: A motocar
A motoca toca me levar
Mallu: Por me tocar
Minha touca pra te retocar.
Ficha técnica
Renato Léllis: bateria
Felipe Alves: baixo e bandolim
Daniel Maia: violão
Rui Barossi: contrabaixo
Marisa Silveira: cello
Cintia Zanco: violino
Thomas Roher: rabeca
Tom Zé: voz
Participação: Mallu Magalhães
05 – MARCHA-ENREDO DA CRECHE TROPICAL 4’40”
(Tom Zé)
Preceptores-babás – banca de banca
Preceptores-babás – banca de banca Bis
A tristeza daquela invasão,
Ai Deus… Ai Deus, valeu,
Valeu para nossa educação paradoxal prazer, e rendeu
A creche tropical – pical
Nossa universi-
-Dadal dadal, dadal a a a
Há… nos velhos quintais
cada moleque do lote
dos analfatotes
ouvindo jograis, os mais radicais.
Tropicalisura voz,
A tal tanajura
Só cai se tiver na gordura
Os mesmos rondós dos nossos avós.
E Pedro Taques falou – ali dá, dali vem
Se conservar – ali dá, dali vem
O paulista – ali dá, dali vem
Tradicional
Na creche, menino,
Vem o provençal:
É um dia, é um dado, é um dedo,
Chapéu de dedo é dedal. [3 vezes
Ela entra e sai do sertão, ai Deus,
Ai Deus nos dá descontínuo rincão
Perdida por lá, a cultura oral, oh mal!
Testemunha vai lá – um tal
De Euclides da Cun unha, unha, unha a a a.
Lá… é quando ele cunha
Moeda que trinca na unha
E a língua um dia
Na creche, senhora, poder, magia
Naquele mundão
O falar da gente assegura
Na mansa doçura
Outra cosmovisão: pensar é pão.
Depois em Rosa eu vi – ali dá, dali vem
Prosa que li – ali dá, dali vem
E ela sorri – ali dá, dali vem
Chegança chega, menino,
Medieval batalha naval:
Pra expulsarmos esses incréus
Espada de aço no pescoço,
Vento nas velas, Deus no céu,
Retorna Dom Sebastião no corso (Dom Sebastião, o Aguardado!)
(E assim funcionava a creche: cada círculo, cada aula, iam se sucedendo, com aqueles jograis que casualmente circulavam entre nós. ¡E lá vai tutano na cabeça dos moleques!)
Ficha técnica
Renato Léllis: bateria
Felipe Alves: baixo
Daniel Maia: violão e guitarra
Jarbas Mariz: percussão
Cristina Carneiro: teclado
Backing vocals: Lia Bernardes, Daniel Maia, Felipe Alves, Jarbas Mariz, Renato Léllis
Tom Zé: voz
06 – AMARRAÇÃO DO AMOR 3’03”
(Tom Zé)
Catci garra gafum
Catci garra gafum
Mandei fazer uma amarração
Pra te pegar, meu amor;
Galo-de-Angola já te cercou
Com o cordão do tarô.
A cartomante me garantiu,
Quando o baralho se abriu,
Que você vai me pedir perdão
Com os joelhos arrastando no chão.
A mãe de santo já me deu
Miniatura de você
Des´tamaninh’:
É de palha costurada com agulha de crochê.
Vou te derreter
Numa panela de dendê
E toda noite eu esfrego no meu corpo
Uma pitada de você,
Ai, ssf, ai, ssf, ai, ssff, ai, ssff.
Ficha técnica
Renato Léllis: bateria
Felipe Alves: baixo
Daniel Maia: guitarra e violão
Jarbas Mariz: percussão
Marisa Silveira: cello
Rui Barossi: contrabaixo
Cintia Zanco: violino
Thomas Roher: rabeca
Tom Zé: voz
07- TROPICÁLIA LIXO LÓGICO 3’36”
(Tom Zé)
A pureza Chapeuzinho
Passeando na floresta
Enquanto Seu Lobo não vem:
Mas o Lobo entrou na festa
E não comeu ninguém.
Era uma tentação,
Ele tinha belos motes,
O Lobo Seu Aristotes:
Expulsava todo incréu
Ali do nosso céu.
Não era melhor, tampouco pior,
Apenas outra e diferente a concepção
Que na creche dos analfatóteles regia
Nossa moçárabe estrutura de pensar.
Mas na escola, primo dia,
Conhecemos Aristotes,
Que o seu grande pacote
De pensar oferecia.
Não recusamos
Suas equações
Mas, por curiosidade, fez-se habitual
Resolver também com nossas armas a questão –
Uma moçárabe possível solução
Tudo bem, que legal,
Resultado quase igual,
Mas a diferença que restou
O lixo lógico criou.
Aprendemos a jogá-lo
No poço do hipotalo*
Mas o lixo, duarteiro,
O córtex invadiu:
Caegitano entorta rocha
Capinante agiu.
(* versão óbvia de nosso mais velho amigo, o hipotálamo)
Ficha técnica
Renato Léllis: bateria
Felipe Alves: baixo
Daniel Maia: violão, guitarra e cavaquinho
Marisa Silveira: cello
Rui Barossi: contrabaixo
Cintia Zanco: violino
Thomas Roher: rabeca e flauta irlandesa
Tom Zé: voz
Participação: Washington
08- NÃO TENHA ÓDIO NO VERÃO 2’20”
(Tom Zé)
Ah ah ra ra!
Ah ah ra ra!
Não tenha ódio no verão:
Você vai acabar
Comendo brasa no tição,
Assando o rabo no fogão,
Isso arrebenta uma nação!
O ódio pega
Como planta que se rega,
Mas no peito que navega
A pessoa fica cega.
Cabeça oca,
Sai de pau no bate-boca,
Rasga a roupa,
Grita e berra como louca.
Ah ah ra ra!
Ah ah ra ra!
Ficha técnica
Renato Léllis: bateria
Felipe Alves: violão, baixo e cavaquinho
Daniel Maia: guitarra
Jarbas Mariz: percussão
Cristina Carneiro: teclado
Tom Zé: voz
09 – JUCAJU 1’41”
(Tom Zé)
Jucaju u u u
Jucafé é é
Jacajá
Jucaju u u u
Jucafé é é
Jucajá
Ju
Caju café caju cá
Caju café caju cá
Ca
Ju
Caju café caju ca
Caju café caju ca
Ca
Ca ca caju
Ficha técnica
Renato Léllis: bateria
Felipe Alves: violão e baixo
Tom Zé: voz
10- DE-DE-DEI XÁ-XÁ-XÁ 2’33”
(Tom Zé)
De-de-dei xá-xá-xá rá rá!
Pra pra pra lá.
Dai dará, dará da dai
Dai dará, dará da dai (BIS)
Dai dará dai
Pra que falar,
Ora meu bem, dizer o quê?
Melhor silenciar… aah…
Se o divino há,
Deus me habitará
Pelo vazio.
Isto não é religião
Só quero dar um beliscão
No seu corpo sutil.
Ficha técnica
Renato Léllis: bateria
Felipe Alves: violão, baixo e bandolim
Jarbas Mariz: percussão
Marisa Silveira: cello
Rui Barossi: contrabaixo
Cintia Zanco: violino
Thomas Roher: rabeca e flauta irlandesa
Backing vocals: Lia Bernardes, Daniel Maia, Felipe Alves, Jarbas Mariz, Renato Léllis
Tom Zé: voz
Participação: Pélico
11- A TERRA, MEUS FILHOS 3’03”
(Tom Zé)
Do Sol a terceira cria
Baila noite, baila dia,
Lá vai a Terra, meus filhos,
Levando seus assassinos.
Ê ê rê
Ê ê
De maus tratos envelhece,
Sem ter usado espartilhos;
La vai a Terra, meus filhos,
Levando seus assassinos.
É nave, navio e trem,
Mas tão leve se mantém
Que brinca com os andarilhos:
Requebra, quebra a cintura,
Na serra dá dobradura
Para o sol pintar os milhos.
Além do mel e do azeite,
Completa o café com leite
Com pão que faz de polvilhos.
Púbis ainda sem pelo.
Não se recusa de tê-lo
Com reis e com maltrapilhos.
Ê ê rê
Ê ê
Do Sol a terceira cria… etc
Ficha técnica
Renato Léllis: bateria
Felipe Alves: violão e baixo
Cristina Carneiro: teclado
Backing vocals: Lia Bernardes, Daniel Maia, Felipe Alves, Jarbas Mariz, Renato Léllis
Tom Zé: voz
12- DEBAIXO DA MARQUISE DO BANCO CENTRAL 3’00”
(Tom Zé)
Bala baila baila – o tiroteio esquenta
Bala baila baila – é o quebra-pau
Bala baila baila – Ana amamenta
Bala baila baila – lendo seu jornal
Pobre moça rica que o papai já deserdou,
Ana só queria se casar com um ator;
Desempregado, estava seu favorito
Os dois na rua, pra chupar nem pirulito.
Mas acharam um abrigo,
Um luxo legal,
Apesar de ter muito assalto no local:
O casal mora debaixo da marquise do Banco Central.
Ficha técnica
Renato Léllis: bateria
Felipe Alves: violão e baixo
Daniel Maia: guitarra
Jarbas Mariz: percussão
Backing vocals: Lia Bernardes, Daniel Maia, Felipe Alves, Jarbas Mariz, Renato Léllis
Tom Zé: voz
13- NAVEGADOR DE CANÇÕES 2’45”
(Tom Zé)
Longe, sozinho,
Ventos marinhos,
Eu navegava canções,
Ia na dança,
Na confiança,
Das cardeais direções.
Eu navegava canções.
O fado ministrava meu noivado
Com duetos, minuetos,
Corais, corais.
Uma gavota me guiou
Ao porto dos bordões,
Onde botam ovos as canções.
Canções, canções.
Ô ô canção – bis
Ficha técnica
Daniel Maia: violão
Cristina Carneiro: teclado
Marisa Silveira: cello
Rui Barossi: contrabaixo
Cintia Zanco: violino
Thomas Roher: rabeca
Backing vocals: Lia Bernardes, Daniel Maia, Felipe Alves, Jarbas Mariz, Renato Léllis
Tom Zé: voz
14- AVISO AOS PASSAGEIROS 2’25”
(Tom Zé)
Aviso aos passageiros
Everybody comigo:
Opa!
ANTES DE ENTRAR
NO ELEVADOR
VERIFIQUE SE O MESMO
ENCONTRA-SE PARADO
NESTE ANDAR.
É proibido fumar.
A lotação permitida
– Máxima seis pessoas –
Contando paletós e vestidos,
420 quilos, 420 quilos.
Ficha técnica
Renato Léllis: bateria
Felipe Alves: baixo, violão e cavaquinho
Daniel Maia: guitarra
Voz: Tom Zé
15- NYC SUBWAY POETRY DEPARTMENT 2’30”
(Tom Zé /Henrique Marcusso)
New York Subway Poetry Department
Stand clear of the closing doors
Stand clear of the closing hearts
Stand clear of the closing heads
Stand clear of the closing legs
Stand clear of the bloody loss
Stand clear of the boring chores
Stand clear of the mesmerizing cross
Stand clear of the dominating stores
Stand clear of the closing souls
Stand clear of the hideous crimes
Stand clear of the poor souls
Stand clear of the mounting grimes
Of the lost souls stand clear
Of the paralyzing tides stand clear
Stand clear of the dirty souls
Of the war weeping times stand clear
Stand clear of the bloody cross
Stand clear of the blearing sounds
Stand clear of the bloody laws
Stand clear of the heading hounds
Stand clear of the bloody souls
Of the oppressing bounds stand clear
Stand close of the red cross
Stand clear of maddening bounds
Stand clear of the hideous crimes
I´d like to find this guy
Stand clear of the mountain crimes
He writes poetical warnings for New York subway
Paralyzing tides stand clear
So I could invite him to be
Of the war weeping times stand clear
To be my partner in the next album
Ficha técnica
Renato Léllis: bateria
Vicente Barreto: violão
Felipe Alves: violão, baixo e bandolim
Jarbas Mariz: percussão
Tom Zé: voz
Participação: Rodrigo Amarante
16- APOCALIPSOM B (O COMEÇO NO PALCO DO FIM) 51”
(Tom Zé)
Caemicida malluri
Ta gil
Pelicapinarante was
Que vai
Na manjedouramarassu
Nascer
É hora da Segunda Vinda
Quem essa criatura vem
A ser,
Que sai do Spiritus Mundi?Ficha técnica
Programação de loops: Daniel Maia e Marcelo Blanck
Daniel Maia: violão, baixo, guitarra e cavaquinho
Felipe Alves: violão, baixo, guitarra e cavaquinho
Cristina Carneiro: teclado
Backing vocals: Lia Bernardes, Daniel Maia, Felipe Alves, Jarbas Mariz, Renato Léllis
Tom Zé: voz
Participação: Emicida
PIRULITO DA CIÊNCIA (2010)
NAVE MARIA
Tom Zé
Dudu, bidu, bidu, bidu, bi
mama água
Dudu, bidu, bidu,
papá, dá, dá-á
Quando eu cheguei das estrelas
entrei na terra
por uma caverna
chamada Nascer
E eu era uma nave
uma ave da ave-maria
e como uma fera
que berra
entrei
na atmosfera
E cuspido, espremido,
petisco de visgo,
forçando a passagem
pela barreira,
sangrando, rasgando,
subindo a ladeira,
orgasmo invertido,
gritei quando vi:
já estava respirando.
FLIPERAMA
Tom Zé
Flip, flip, flip
Filip, flip, filip, filip, flip
Flipé – pépé – pépé – pépé
Rará – rará – rará – rará
Rará – rará – rará – rá
Râ – mamá – mâma – mamá – mamá
Fliperama
O louco comandante Flip
com a sua moedinha
quer fazer uma guerra na Terra
Oferece um caminhão e o seu cinturão
Que para a batalha não falha.
E no quarto faz com ela
A terceira arruela
Do amor que tem a violência,
Com o pirulito da ciência – á – á – á
Com o pirulito da ciência – á – á
Pelo pirulito da ciência – â – â
Pelo pirulito da ciência – â
UI! VOCÊ INVENTA
Tom Zé / Odair Cabeça de Poeta
VOCÊ INVENTA: GRITE!
EU INVENTO: AI!
VOCÊ INVENTA: CHORE!
EU INVENTO: UI!
VOCÊ INVENTA O LUXO
EU INVENTO O LIXO
VOCÊ INVENTA O AMOR
EU INVENTO A SOLIDÃO
VOCÊ INVENTA A LEI
E EU INVENTO A OBEDIÊNCIA
VOCÊ INVENTA DEUS
E EU INVENTO A FÉ
VOCÊ INVENTA O TRABALHO
E EU INVENTO AS MÃOS
VOCÊ INVENTA O PESO
E EU INVENTO AS COSTAS
VOCÊ INVENTA A OUTRA VIDA
EU INVENTO A RESIGNAÇÃO
VOCÊ INVENTA O PECADO
E EU FICO AQUI NO INFERNO – VALHA-ME DEUS, NO INFERNO.
COMPANHEIRO BUSH
Tom Zé
SE VOCÊ JÁ SABE
QUEM VENDEU
AQUELA BOMBA PRO IRAQUE
DESEMBUCHE
EU DESCONFIO QUE FOI O BUSH.
refrão:
FOI O BUSH,
FOI O BUSH,
FOI O BUSH.
ONDE HAVERÁ RECURSO
PARA DAR UM BOM REPUXO
NO COMPANHEIRO BUSH
QUEM ARRANJA UM ALICATE
QUE ACERTE AQUELA FASE
OU CORRIJA AQUELE FUSO
TALVEZ UM PARAFUSO
QUE TÁ FALTANDO NELE
MELHORE AQUELE ABUSO.
UM CHIP QUE DESLIGUE
AQUELE TERREMOTO,
AQUELA COQUELUCHE.
SE VOCÊ JÁ SABE… … … etc.
CULTIVO DE IRARÁ (ABACAXI DE IRARÁ)
Tom Zé
Minha terra é boa,
plantando dá
o famoso abacaxi de Irará.
Minha terra é boa,
plantando dá
o famoso abacaxi de Irará.
Moça emperrada namora
e o noivo não quer casar
se apega ao bom Santo Antônio
e o noivo este ano ainda vai pensar…
Falou véio
dá um chá de abacaxi
de Irará
que é pro noivo se animar.
Minha terra é boa
plantando dá
o famoso abacaxi de Irará.
Véio viúvo com setenta anos
ainda quer casar
Pergunto pra ele o segredo
e peço pra me contar.
Falou o veio:
Vá comendo abacaxi
de Irará
que você vai se animar.
HEIN?
Tom Zé / Vicente Barreto
Ela disse nego
Nunca me deixe só
Mas eu fiz de conta
Que não ouvi, Hein?
Ela disse: – orgulhoso
Tu inda vai virar pó
Mais eu insisti
Dizendo Hein?
Ela arrepiou
E pulou e gritou
Este teu – Hein? – muleque
Já me deu – Hein? – desgosto
Odioso – Hein? com jeito
Eu te pego – Ui! bem feito
Prá rua – sai! – sujeito
Que eu não quero mais te ver
Eu dei casa e comida
O nego ficou besta
Tá querendo explorar
Quer me judiar
Me descartar
AUGUSTA, ANGÉLICA E CONSOLAÇÃO
Tom Zé
Augusta, graças a deus,
Graças a deus,
Entre você e a angélica
Eu encontrei a consolação
Que veio olhar por mim
E me deu a mão.
Augusta, que saudade,
Você era vaidosa,
Que saudade,
E gastava o meu dinheiro,
Que saudade,
Com roupas importadas
E outras bobagens.
Angélica, que maldade,
Você sempre me deu bolo,
Que maldade,
E até andava com a roupa,
Que maldade,
Cheirando a consultório médico,
Angélica.
Augusta, graças a deus,
Entre você e a angélica
Eu encontrei a consolação
Que veio olhar por mim
E me deu a mão.
Quando eu vi
Que o largo dos aflitos
Não era bastante largo
Pra caber minha aflição,
Eu fui morar na Estação da Luz,
Porque estava tudo escuro
Dentro do meu coração.
MENINA JESUS
Tom Zé
Valei-me, minha menina Jesus
minha menina Jesus
minha menina Jesus, valei-me.
Só volto lá a passeio
no gozo do meu recreio,
só volto lá quando puder
comprar uns óculos escuros.
Com um relógio de pulso
que marque hora e segundo,
um rádio de pilha novo
cantando coisas do mundo
pra tocar.
Lá no jardim da cidade,
zombando dos acanhados.
dando inveja nos barbados
e suspiros nas mocinhas…
Porque pra plantar feijão
eu não volto mais pra lá
eu quero é ser Cinderela,
cantar na televisão…
Botar filho no colégio,
dar picolé na merenda.
viver bem civilizado,
pagar imposto de renda.
Ser eleitor registrado,
ter geladeira e tv,
carteira do ministério,
ter cic, ter rg.
Bença, mãe.
Deus te faça feliz
minha menina Jesus
e te leve pra casa em paz.
Eu fico aqui carregando
o peso da minha cruz
no meio dos automóveis,
mas
Vai, viaja, foge daqui
que a felicidade vai
atacar pela televisão
E vai felicitar, felicitar
felicitar, felicitar
felicitar até ninguém mais
respirar.
Acode, minha menina Jesus
minha menina Jesus
minha menina Jesus, acode.
OGODÔ ANO 2000
Tom Zé
Ôôô
Ogodô
Ogodô ogodô, ogodô ogodô
Ôôô ogodô
Ogodô ogodô ogodô ogodô
Talac-tac-tac-tac tamborim
Teleco-teco-teco-teco violão
Toloc-toc-toc-toc agogô
Tô-lôc-tô twenty 00, twenty 00
A ciência excitada
Fará o sinal da cruz
E acenderemos fogueiras
Para apreciar a lâmpada elétrica.
The science in her trance
Will make the sign of cross
And we will light bonfires
To appreciate the eletric bulb.
Talac-tac…
Ogodô…
TÔ
Tom Zé e Elton Medeiros
TÔ BEM DE BAIXO PRÁ PODER SUBIR
TÔ BEM DE CIMA PRÁ PODER CAIR
TÔ DIVIDINDO PRÁ PODER SOBRAR
DISPERDIÇANDO PRÁ PODER FALTAR
DEVAGARINHO PRÁ PODER CABER
BEM DE LEVE PRÁ NÃO PERDOAR
TÔ ESTUDANDO PRÁ SABER IGNORAR
EU TÔ AQUI COMENDO PARA VOMITAR
TÔ TE EXPLICANDO
PRÁ TE CONFUNDIR
TÔ TE CONFUNDINDO
PRÁ TE ESCLARECER
TÔ ILUMINANDO
PRÁ PODER CEGAR
TÔ FICANDO CEGO
PRÁ PODER GUIAR
DEVAGARINHO PRÁ PODER RASGAR
OLHO FECHADO PRÁ TE VER MELHOR
COM ALEGRIA PRÁ PODER CHORAR
DESESPERADO PRÁ TER PACIÊNCIA
CARINHOSO PRÁ PODER FERIR
LENTAMENTE PRÁ NÃO ATRASAR
ATRÁS DA VIDA PRÁ PODER MORRER
EU TÔ ME DESPEDINDO PRÁ PODER VOLTAR
ROQUENROL BIM-BOM
Tom Zé
Bim-bom bim-bom … … … … …
Um roquenrol, obladi,
bem roquenrol, obladá, (bis)
balada e soul, obladi,
tal como eu sou, obladá.
Vai passando nos quintais
e os velhos casais
dançando no salão
cantam seu refrão.
Um roquenrol
um daqueles tais
velho até demais
que o tempo enferrujou
e o terno desbotou.
Um roquenrol vapor de Cachoeira
não navega mais no mar
ô marinheira, o jeito casar.
BRIGITTE BARDOT
Tom Zé
A Brigitte Bardot está ficando velha
Envelheceu antes dos nossos sonhos.
Coitada da Brigitte Bardot que era uma moça bonita
Mas ela mesma não podia ser um sonho
Para nunca envelhecer.
A Brigitte Bardot está se desmanchando
E os nossos sonhos
Querem pedir divórcio
Pelo mundo inteiro tem milhões e milhões
De sonhos que querem também pedir divórcio
E a Brigitte Bardot agora está ficando triste e sozinha.
Será que algum rapaz de vinte anos vai telefonar
Na hora exata em que ela
Estiver com vontade
De se suicidar
Quando a gente era pequeno pensava que quando crescesse
Ia ser namorado da Brigitte Bardot
Mas a Brigitte Bardot agora está
Ficando triste e sozinha.
Com aqueles olhos, sozinha
E aquela boca, sozinha
TODOS OS OLHOS
Tom Zé
De vez em quando
todos os olhos se voltam pra mim,
de lá de dentro da escuridão,
esperando e querendo
que eu seja um herói,
que eu seja um herói.
Mas eu sou inocente,
eu sou inocente,
eu sou inocente.
De vez em quando
todos os olhos se voltam pra mim,
de lá do fundo da escuridão
esperando e querendo que eu saiba,
mas eu não sei de nada,
eu não sei de nada,
eu não sei de nada
De vez em quando
todos os olhos se voltam pra mim,
de lá do fundo da escuridão
esperando e querendo apanhar,
querendo que eu bata,
querendo que eu seja um Deus.
Mas eu não tenho chicote,
eu não tenho chicote,
eu não tenho chicote.
Mas eu sou até fraco,
eu sou até fraco
eu sou até fraco.
JIMMI RENDA-SE
Tom Zé / Valdez
Guta me look mi look love me
Guta me look mi look love me
Tac sutaque destaque tac she
Tac sutaque destaque tac she
Tique butique que tique te gamou
Tique butique que tique te gamou
Toque-se rock se rock rock me
Toque-se rock se rock rock me
Bob Dica, diga,
Jimi renda-se!
Cai cigano, cai, camóni bói
Jarrangil century fox
Galve me a cigarrete
Billy Halley Roleiflex
Jâni chope chope chope chope
Ô Jâni chope chope
Ie relê reiê relê
DEFEITO 3: POLITICAR
Tom Zé
Filha da prática
Filha da tática
Filha da máquina
Essa gruta sem-vergonha
Na entranha
Não estranha nada
Meta sua grandeza
No Banco da esquina
Vá tomar no Verbo
Seu filho da letra
Meta sua usura
Na multinacional
Vá tomar na virgem
Seu filho da cruz.
Meta sua moral
Regras e regulamentos
Escritórios e gravatas
Sua sessão solene.
Pegue, junte tudo
Passe vaselina
Enfie, soque, meta
No tanque de gasolina.
FAÇA SUAS ORAÇÕES
Tom Zé
A gente já mente no gene
A mente do gene da gente
Faça suas orações
Uma vez por dia
Depois mande a consciência
Junto com os lençóis
Pra lavanderia
ESTUDANDO A BOSSA – NORDESTE PLAZA (2008)
0. Introdução: BRAZIL, CAPITAL BUENOS AIRES
0m20s
Autor: Tom Zé
Intérpretes: Fernanda Takai/Tom Zé
Editora: Irará
1. RIO ARREPIO (BADÁ-BADI)
2m45s
BRPUI0800288
Autor: Tom Zé / Arnaldo Antunes
Intérpretes: Guilherme Kastrup: percussão; Daniel Maia: violão, baixo, cavaquinho e guitarra; Cristina Carneiro: teclados; Íris Salvagnini, Luanda Jarbas Mariz e Daniel Maia: backing vocal; Tom Zé e Mariana Aydar (gentilmente cedida por UNIVERSAL): vozes
Editoras: Irará / Rosa Celeste
badá-badi badá báTom
batiquitum (bis)
badá badia dirá que o Rio
copacabanamente um arrepio
badá badia dirá vá botar
o credi-cartório para se tostar, tá?
badá-badi badá báTom
batiquitum (bis)
badá bá-dia de sol fogaréu
para Ipanema parecer um céu
badá-badia no peito do Tom
Arpoador ter que deixar o Leblon
Ainda não me refiz
de ter perdido a Elis
Maysa, Dolores, Leila Diniz
Por isso na Lapa boêmia se diz
que na canção do País
nunca a tristeza foi tão feliz
badá-badi, etc
sob a janela Jobim
passa um desfile sem fim
Brigitte, Lollô, Marilu, Marilyn
que podem mostrar o pudim
pra masturbar o Pasquim
ou Roberto levar na Playboy pra mim
badá-badi, etc
2. BARQUINHO HERÓI
02m45s
BRPUI080028B
Autores: Tom Zé / Arnaldo Antunes
Intérpretes: Guilherme Kastrup: percussão; Arthur Nestrovski: violão (participação especial); Daniel Maia: baixo; Iris Salvagnini, Luanda, Jarbas Mari. e Daniel Maia: backing vocal; Tom Zé e Mônica Salmaso: vozes
Editoras: Irará / Rosa Celeste
Beira do mar Beira-mar
obalalá beira-mar
balagandá laid oh, Senhor do Bonfim
no Bonocô vem
Alá vai-não-vosim
memória emoriô cuidar de mim
Quando o barquinho me disse adeus, ai Deus, Ao longe, lá no sem-fim
e na Guanabara foi construir, enfim só, um só,
a ponte Rio-Niterói — ai de mim, suave cantar
passou primeiro no Bonfim e com o fio da voz puxa do mar
pra cantar, um navio
pra cantar. pra Francisco navegar
Beira do mar etc.
3. JOÃO NOS TRIBUNAIS
02m48s
BRPUI0800289
Autor: Tom Zé
Intérpretes: Daniel Maia: violão; Tom Zé: voz.
Editora: Irará
Se João Gilberto
tivesse um processo aberto
e fosse nos tribunais
cobrar direitos autorais
de todo o samba-canção
que com a sua gravação
passou a ser bossa nova,
qualquer juiz de toga,
de martelo e de pistola,
sem um minuto de pausa
lhe dava ganho de causa.
“Chega de saudade” –
veja o caso deste samba
gravado em 58
por Elizeth Cardoso,
“pela pátina crestado”:
Vinícius ficou gamado.
0 biscoito da Cardoso
foi divino, foi gostoso,
mas era um samba-canção lindo
e nunca passou disso não.
Mas quatro meses depois
João gravou com a levada
a voz no jogo sincopado,
o violão todo abusado.
O coitado foi chamado de cantor desafinado,
sem ritmo, ventríloquo,
mas
diante do desafinado
o mundo curva-se, desova,
e tudo então louvado
foi jogado numa cova.
O sol chocou 200 ovas
e nasceu a bossa nova.
O Carnegie Hall foi importante
porque pinçou João,separou João
como a grande gema,
a grande jóia.
4. O CÉU DESABOU
03m38s
BRPUI0800290
Autor: Tom Zé
Intérpretes: Guilherme Kastrup: percussão; Daniel Maia: violão e baixo;
Cristina Carneiro: teclados; Íris Salvagnini, Luanda, Jarbas Mariz e Daniel Maia: backing vocal; Tom Zé e Rita Lima: vozes
Editora: Irará.
(Para os cantores da época,a BN foi um terremoto)
Mas tu já viste a bossa nova,
a nova onda musical?
Que nhenhenhém boçal, hein?!!
Aposto cinco pau que isso não pega no Brasil
e morre logo no vazio, ziu…
Cantor ventríloquo, seu! / Vai que tá louco, tá pinel,
qual é a dele, céus?
O mestre da banda quando ouviu / ficou branquinho de cal
regurgitou, passou mal… passou mal… passou mal
Mas foi por causa dela que o céu desabou
sobre suas estrelas / Tinhorão, que horror!
Pecado pai que nosso palco
num desavisado quebra cai,
nosso mundo se vai.
Caiu a Rádio Nacional,
Tupi cadê?, Mairinque Veiga vê:
Sinos dobram porque:
Ali reinou Caubi, Marlene, Sapoti
Só dava Dalva de Oliveira, ora Nora Ney,
Orlando era lei
Traía aura da Isaura, por amara Linda
Anísio Silva com Dircinha
Vinha Carmem Costa com a Emilinha
Mas tu já viste a bossa nova etc.
Nem os clarins da banda militar
tocaram pra nos lamentar (paradá paradá)
nem sinfonia de pardais
com o rádio de cabeceira
sob um abajur lilás (paradá paradá)
nem um mulato inzoneiro
pra esquentar nossos pandeiros
na Baixa dos Sapateiros (paradá paradá)
Nem aquele trágico “manchei o teu nome!”
no passeio em Paquetá
no piquenique do Joá (paradá paradá)
Mas seremos cultura
gratos a nosso Fernando Faro, oh,
que Ruy Castro, que Zu Ventura, oh!
Que o Danilo nos mirando, oh!
Zuza, que Homem de terno, oh!
Cabral serca velas e Villas Alberto, oh! *
Eli-Tárik faz de Souza, oh!
“serca” é com s de Sérgio
5. SÍNCOPE JÃOBIM
02m54s
BRPUI0800291
Autor: Tom Zé
Intérpretes:Guilherme Kastrup: percussão; Daniel Maia: violão, baixo, cavaquinho e guitarra; Íris Salvagnini, Luanda Jarbas Mariz e Daniel Maia: backing vocal; Tom Zé e Adréia Dias: vozes
Editora: Irará.
ai ai ai!, ei ei ei!, oi oi oi oi!, ui ui ui!
(Síncopes, suspiros e desmaios)
Venha de síncope, meu bem
isso dá mão
no bole-bole do João.
Venha de síncope, meu bem
isso dá pé
no bole-bole do José.
Antonio Carlos Jobim, Menescal
(que tal, seu Nicolau?),
Vinicius de Moraes, Baden Powell
(que power, que pau!)
Ronaldo Bôscoli, Nara Leão
(ai,que pão)
Carlos Lyra, Miéle e o baiano João.
Carlos Lyra, Miéle e o feminino João.
No Brasil reinava então
o doutor samba-canção
foi quando apareceu o cara do bim-bom.
Que trouxe de Juazeiro,
ensaiada no banheiro,
a levada desossada que fez um salseiro
e que desova na trova
daquele tempero sincopado, sincopá
(Isso não é desafinado?)
! É o bim-bom do João!
(Isso não é desritmado?)
! É o bim-bom do João!
6. FILHO DO PATO
03m13s
BRPUI0800292
Autores: Tom Zé / Arnaldo Antunes
Intérpretes: Guilherme Kastrup: percussão; Daniel Maia: violão e baixo; Marcelo Schulze-Blanck: didgeridou; Iris Salvagnini, Luanda, Jarbas Mariz e Daniel Maia: backing vocal; Tom Zé e Márcia Castro; vozes.
Editoras: Irará / Rosa Celeste
Tico-tico no fubaco
no fubico fubá (bis)
tico-tico no fubaco
ensaiando o vocal
0 filho do pa…pati-quitu, pati-quitu
também cantava alegremen… menti-quitu, menti-quitu
e a marrequinha de repen… penti-quitu, pati-quitu
pati-caiu também no samba
pra no samba sambar
E o filho do gan… eh eh eh
afo-fo-fo ba-ba damen… men men men te
qui-qui ri-ri ti-ti-mo quen… quiqui quen!!!
ga-gaguejou a pata n’água da lagoa
pra batucar
Mas a rosa que era famosa
em verso e prosa
não pôde dançar
porque estava bem presa no galho plantada na terra
suspensa no ar
sem sair do lugar
se abriu para o céu e rezou pro vento andar
ti-tico tico no fubaco etc.
……………………………
O pato-pai
vinha voltando do batente
quando aquele contraparente
bateu na boca um reco-reco
para a turma dedar
E o neto do cisne
também achando que era gente
pensou a coisa diferente;
abriu o bico para o tico-tico
pôr no fubá
Mas a rosa formosa, cheirosa,
urbana da roça queria dançar
e piscando os olhinhos, charmosa,
sacou do chicote pro vento enquadrar
e se despetalou, despernou, desbraçou e ordenou pro vento
andar
ti-tico no fubaco, ensaiando o vocal etc.
7. OUTRA INSENSATEZ, POE!
03m54s
BRPUI0800293
Autor: Tom Zé
Versão inglesa: David Byrne
Intérpretes: Guilherme Kastrup: percussão; Daniel Maia: violão e baixo; David Byrne: guitarra; Iris Salvagnini, Luanda: backing vocal; Tom Zé e David Byrne: vozes.
Editoras: Irará / Moldy Fig Music, Inc/BMI
Mas veja só,
oh Deus do céu
No amor meu amor me deixou na porta da rua
Ô ai de mim
era noite era frio a cidade nua
ai, Dindi,
estouravam os fogos de um Ano Novo
mas que triste Ano Novo
catapora sarampo me deu uma febre impura
deu de doer
que batia no peito com ditadura
te te perder
de arame farpado em pele crua
padecimento aquela noite nua
e assim foi assim conheci outra insensatez
minha maioridade que você fez
ao me dar tantas dores de uma só vez
tantas dores, meu Deus
eras tu era tudo era nada meu coração
e tu e na e só
era a porta era a noite era uma canção
só descanção
Nunca mais, nunca mais, em seu refrão
Lacciate qui tutta speranza voi qui uscite
OTHER STUPI STUFF I DID
(english lyrics by DAVID BYRNE)
You’re inside, oh my love, and you left me
Outside the door,
In the night, in the cold, in the naked town
I can hear, it’s the fireworks, and it’s New Year’s Day —
Chicken pox, and then measles,and then, a nasty fever
That entered my chest like an invading army
With barbed wire wrapped around my young skin
… hmmmmm
And / knew, once again, and I felt like a fool,
& my passion was growing
You know, I’m in pain
It was you, it was nothing, it’s only my heart
Was the door, was the night Was a song
Chicken pox, a new year, a fool
I was young, and / didn’t know how to begin…
8.ROQUENROL BIM-BOM
03m03s
BRPUI0800294
Autor: Tom Zé
Intérpretes: Guilherme Kastrup: percussão; Daniel Maia: violão e baixo; Jarbas Mariz: bandolins; Iris Salvagnini, Luanda, Jarbas Mariz e Daniel Maia: backing vocal; Tom Zé e Jussara Silveira: vozes.
Editora: Irará / Trama
Bim-bom bim-bom
Um roquenrol, obladi,
bem roquenrol, obladá, (bis)
balada e soul, obladi,
tal como eu sou, obladá.
Vai passando nos quintais
e os velhos casais
dançando no salão
cantam seu refrão.
Um roquenrol
um daqueles tais
velho até demais
que o tempo enferrujou
e o terno desbotou.
Um roquenrol vapor de Cachoeira
não navega mais no mar
ô marinheira, o jeito casar.
9.MULHER DE MÚSICA
02m16s
BRPUI0800295
Autores: Tom Zé / Arnaldo Antunes
Intérpretes: Guilherme Kastrup: percussão; Daniel Maia: violão e baixo; Iris Salvagnini, Luanda, Jarbas Mariz e Daniel Maia: backing vocal; Tom Zé e Fabiana Cozza: vozes.
Editoras: Irará / Rosa Celeste
A Doralice me disse no desconsolo seu
Doralice fora de si, quem que segura, meu
a Berenice aborreci, pô, que sufoco deu
a Gal pediu que eu fosse, eu fui, depois se arrependeu.
Aquela Isaura que me azara mas nunca me deu
agora diz que quer casar, oh que azaro meu.
Mulher de música Refrão
melhor ficar na música
porque mulher de música
é coisa de utilidade pública.
E além disso, sinhá de iaiá,
musa é musa e mulher de carne e osso
vem a ser hipotenusa
que me usa,
parafusa,
me recusa
e ainda me acusa.
Marina assim toda pintada parece um pincel
Dora alisou o cabelo agora, quer usar chapéu
a Isabel me acusa de abusar da regra 3
enquanto isso a Marieta só me diz talvez.
Pra aquela Selma dei o céu, comida e aluguel
na mão da Vera já virei bolinha de papel.
Mulher de música… … … … etc.
10. BRAZIL, CAPITAL BUENOS AIRES
03m39s
BRPUI0800296
Autor: Tom Zé
Intérpretes: Guilherme Kastrup: percussão; Daniel Maia: violão e baixo; Jarbas Mariz bandolis; Iris Salvagnini, Luanda: backing vocal; Tom Zé e Fernanda Takai (gentilmente cedida por DECK DISC) : vozes
Editora: Irará
No dia em que a bossa nova inventou Brazil
teve que fazer direito, senhores pares, (bis)
porque a nossa capital era Buenos Aires,
a nossa capital era Buenos Aires.
E na cultura-Hollywood o cinema dizia
que em Buenos Aires havia uma praia nem cantinho,nem Corcovado,
chamada Rio de Janeiro que dó.
que como era gelada só podia ter
Carnaval no mês de fevereiro.
Naquele Rio de Janeiro o tango nasceu
e Mangueira o imortalizou na avenida Nem barquinho na Guanabara
Originária das tangas Jamelão na verde-e-rosa
com que as índias fingiam que dá
cobrira graça sagrada da vida.
No dia em que … … … etc.
11. AMOR DO RIO
03m26s
BRPUI0800297
Autor: Tom Zé
Intérpretes: Guilherme Kastrup: percussão; Daniel Maia: violão e baixo; Cristina Carneiro: teclados; Tom Zé e Zélia Duncan (gentilmente cedida por UNIVERSAL) : vozes.
Editora: Irará
O Rio era lindo demais
e amava Niterói
que também dava sinais,
doce paixão que dói.
E desconsolados olhares
toda noite em vão
piscando sobre os mares
numa eterna separação.
Dos contratempos musicais
suaves que a bossa traz
tal plataformas ao mar
leves a flutuar
aí que nosso engenheiro esperto
com ferro e concreto (bom)
fez aquele (bom) sambinha-herói
fundeara Ponte Rio-Niterói.
12. BOLERO DE PLATÃO
02m36s
BRPUI0800298
Autor: Tom Zé
Intérpretes: Guilherme Kastrup: percussão; Daniel Maia: violão e baixo; Cristina Carneiro: teclados; Iris Salvagnini, Luanda, Jarbas Mariz e Daniel Maia: backing vocal; Tom Zé e Marina De La Riva (gentilmente cedida por DECK DISC): vozes.
Editora: Irará
En noche de ronda sobe ni mim
con todo a media luz desce ni mim
en el camiño verde estoy. chega ni mim/ ou larga di mim
El dia que me quieras alma di mim
angelito negro salva di mim
alma vanidosa soy. leva di mim/ ou larga di mim
Perfume de gardenia
perfidia sin remédio
perdido solo yo sin ti
aquellos ojos verdes
solamente una vez
no trates de mentir,
no, no y no.
O amor puro mandou dizer por e-mail
Ah!, desça do muro
que eu já tôo cheio.
Já cansei de você nesse lero-lero
essa velha letra de bolero
e só aturo agora o velhaco do Platão
como tal
Kama-Sutra na mão
e cantando: eu achei meu refrão.
13. SOLVADOR BAHIA DE CAYMMI
03m51s
BRPUI0800299
Autor: TOM ZÉ / versão em inglês CHRISTOPHER DUNN
Intérpretes: Guilherme Kastrup: percussão; Daniel Maia: violão, guitarra e baixo; Jarbas Mariz: bandolins; Iris Salvagnini Luanda, Jarbas Mariz e Daniel Maia: backing vocal; Tom Zé e Anelis Assumpção: vozes.
Versão inglesa: Christopher Dunn
Editora: Irará / Irará
Quando Caymmi criou
essa suave Solvador-ô-ô
ô-ô-ô-ô-ô-ô
foi a Mãe Menininha
que amamentou-ô-ô
ô-ô-ô-ô-ô-ô
Bahia que padece de usura
e quer fazer torre de toda altura
rebenta Barra quebra a Cayru
e ninguém escapa desse cerca-jacu
Buda que ensaia
de pijama na Lapinha
Gandhi gandaia
que desmama a Barroquinha
Baco tocaia
uma mucama da Rocinha
Mãe Menininha
samba reza na Bahia
Aqui em Solvador Bahia tudo,
capitalista ou vagabundo,
tênis, gravata ou cabelo branco,
todo mundo tem um santo.
SALVADOR BAHIA DE CAYMMI
(english lyrics by CHRISTOPHER DUNN)
When our Caymmi designed
this sweet and lovely Solvador
my mamma Menininha
made us stronger
Right here in Salvador Bahia people
a greedy capitalist or street bum
with tennis shoes, fancy neckties or white hair
many patron saints for all souls
Budha comes out to jam in pijamas at the street fair
Gandhi gets happy and boogies down among the people
Bacchus arrives and fancy ladies come out to greet him
My Menininha
samba blesses our Bahia.
14. DE: TERRA; PARA: HUMANIDADE
03m49s
BRPUI0800300
Autor: Tom Zé
Intérpretes: Guilherme Kastrup: percussão; Daniel Maia: violão e baixo; Cristina Carneiro; teclados; Tom Zé e Badi Assad: vozes.
Editora: Irará
Eu sou a regra três Vai, coração,
e sei que ela prefere na cicatriz,
dar seu amor a um Deus, facas na mão,
assim, me trata mal pingos nos is.
embora eu lhe dê do meu peito Vou explodir não!
alimento e sal. Peral, paraí,
deixe assim, deixe estar;
é melhor repensar.
São tantos cios
lagos e rios
dou-lhe os pomares,
imensos mares, meus arrepios.
No seu proveito farei sobrar
ao sol me deito
e dou-lhe o peito
pra semear.
Ai ai ai Dindi,
aiai de mim.
Reservo todo o ar Vai, coração,
pois sei que ela não pode na cicatriz,
viver sem respirar facas na mão,
e o próprio sol também pingos nos is.
transformo em substâncias vitais Vou explodir: não!
com que ela se sustém. Peral, paraí,
deixe assim, deixe estar.
É melhor repensar
DANÇ-EH-SÁ (2006)
1. Uai-Uai
Revolta Queto-Xambá 1832
Autores: Tom Zé e Paulo Lepetit
Percussão e bateria…………………………………….Guilherme Kastrup
Programação eletrônica, baixos e cavaco………………….Paulo Lepetit
Sanfonas……………………………………………………..Adriano Magoo
Harpa…………………………………………………………Marcelo Blanck
Teclados……………………………………………………Cristina Carneiro
Vozes……………………….Tom Zé, Luanda, Sérgio Caetano, e Adriana Andrette
Pré-assistência de percussão p/ Tom Zé…………………… Lauro Léllis
2. Atchim
Revolta Paiaiá 1673
Autores: Tom Zé e Paulo Lepetit
Programação eletrônica e percussão……………….Guilherme Kastrup
Programação eletrônica, bangô, baixo e cavacos………..Paulo Lepetit
Sanfonas……………………………………………………..Adriano Magoo
Harpa………………………………………………………….Marcelo Blanck
Cavaco…………………………………………………………….Daniel Maia
Canetas e flautinhas…………………………………………………Tom Zé
Vozes………………………….Tom Zé, Luanda, Sérgio Caetano, Adriana Andrette
Pré-assistência de percussão p/ Tom Zé…………………….Lauro Léllis
3. Triú-Triii…
Revolta Malê 1835
Autores: Tom Zé e Paulo Lepetit
Percussão……………………………..Guilherme Kastrup e Jarbas Mariz
Baixos, programação eletrônica…………………………….Paulo Lepetit
Sanfonas……………………………………………………..Adriano Magoo
Harpa…………………………………………………………Marcelo Blanck
Vozes…………………………Tom Zé, Cristina Carneiro, Luanda, Sérgio Caetano, e Adriana Andrette
Pré-assistência de percussão p/ Tom Zé…………………… Lauro Léllis
4. Cara-cuá
Revolta Nagô-Oió 1830
Autores: Tom Zé e Paulo Lepetit
Programação eletrônica………………………………………………..Guilherme Kastrup
Baixo, violões e programação eletrônica………………….Paulo Lepetit
Cavaco e violão de 7 cordas…………………………………..Daniel Maia
Sanfonas……………………………………………………..Adriano Magoo
Harpa e orguinhos…………………………………………..Marcelo Blanck
Piano………………………………………………………..Cristina Carneiro
Percussão de boca……………………………………………………Tom Zé
Vozes………………………..Tom Zé, Luanda, Sérgio Caetano e Adriana Andrette
Pré-assistência de percussão p/ Tom Zé……………………..Lauro Léllis
5. Acum-Mahá
Revolta Jêge-Mina-Fon 1834
Autor: Tom Zé
Programação eletrônica e percussão………………..Guilherme Kastrup
Programação eletrônica, bongô, baixo e cavacos………..Paulo Lepetit
Sanfonas……………………………………………. ………..Adriano Maggo
Harpa………………………………………………………….Marcelo Blanck
Cornetas e flautinhas……………………………………………….Tom Zé
Vozes……………………….Tom Zé, Luanda, Sérgio Caetano, e Adriana Andrette
Pré-assistência de percussão p/ Tom Zé…………………….Lauro Léllis
6. Taka-Tá
Revolta Banto 1910
Autor: Tom Zé
Bateria, percussão e programação eletrônica………Guilherme Kastrup
Percussão……………………………………………………….Jarbas Mariz
Baixos, programação eletrônica e cavacos………………..Paulo Lepetit
Sanfonas……………………………………………………..Adriano Magoo
Cornetas……………………………………………………………….Tom Zé
Harpa e orguinho……………………………………………Marcelo Blanck
Vozes………………………Tom Zé, Luanda, Sérgio Caetano, e Adriana Andrette
Pré-assistência de percussão p/ Tom Zé…………………… Lauro Léllis
7. Abrindo as Urnas
Encourados de Pedrão 1823
Autores: Tom Zé e Paulo Lepetit
Programação eletrônica……………………………….Guilherme Kastrup
Percussão…………………………………………………………Eder Rocha
Baixo, violões, Programação eletrônica……………………Paulo Lepetit
Sanfona……………………………………………………….Adriano Magôo
Cavacos……………………………………………………………Daniel Maia
Harpa e orguinhos…………………………………………..Marcelo Blanck
Percussão de boca…………………………………………………..Tom Zé
Vozes………………………Tom Zé, Luanda, Sérgio Caetano, e Adriana Andrette
Pré-assistência de percussão p/ Tom Zé…………………….Lauro Léllis
A amada e grande banda de Tom Zé: Lauro Léllis (bateria); Jarbas Mariz (cavaco, 12 cordas, voz); Cristina Carneiro (teclados, voz); Sérgio Caetano (guitarra, voz), Daniel Maia (baixo, voz); Luanda (voz).
Ficha Técnica:
Produção Musical e Arranjos…………………….Paulo Lepetit e Tom Zé
Gravação, Edição e Mixagem……………Paulo Lepetit e Marcelo Blanck
Suporte técnico para Tom Zé……………………………..Marcelo Blanck
ESTUDANDO O PAGODE – NA OPERETA SEGREGA MULHER E AMOR
1. AVE DOR MARIA
MÚSICA: Tom Zé/Gilberto Assis
LETRA: Tom Zé
MÚSICA INCIDENTAL: Ave Maria, de Bach/Gounod
Coro das rezadeiras: Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco,
bendita sois vós
entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre,
Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós,
pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.
Coro dos acusadores: Mulher é o mal
Que Lúcifer bota fé.
Quando achou
Primeiro ovo do Cão
Ela chocou.
Cru, Belzebu
Do rabo fez um pirão
Foi o pão
Que o diabo amassou
E ela assou.
Mônica Sol-Musa: Ave Maria!
Aqui por nós, Maria,
Vem levantar a voz.
Tem misericórdia da mulher,
Nas aflições
Que o homem cria contra nós.
Coro das mulheres: De giz
Me cobris
De tanta lama e ferida.
Argüis
O nada contra o nariz,
Ó suicida,
Coro dos acusadores: Mulher é o mal… etc
Coro das mulheres: E vês
Toda vez
A tua morte plural
Viuvez
Procuras doce no sal,
E nem me vês.
Coro dos acusadores: Cru, Belzebu… etc
Coro das mulheres: Essa mão,
Tua senha
Pela navalha da luz.
E no credo
A outra mão não te nego,
Desce da cruz!
Desce da cruz!
Desce da cruz!
2. ESTÚPIDO RAPAZ
Tom Zé
Rebeca do Mato: Rapaz, rapaz, rapaz
Estúpido rapaz,
Da mulher, mulher, mulher,
Deixa de pegar no pé.
A saber, saber, saber
Em que planeta irá você,
Com tão pouco troco no bolso,
Açúcar sugar nesse doce-de-coco.
Rebeca do Mato: Se você vem numa boa
Pode vir,
Também não tô à-toa.
Eu te boto no colo,
Te dou pão e mingau.
Mas se você vem de cacete,
Pode vir
Que eu vou de pedra e pau.
Maneco Tatit: Eu sei que é
Perder meu tempo
Agir assim;
É prolongar
Inimizade velha que dói.
Se a mulher
Deixar de
Confiar em mim
Eu vou parar
Onde não dá pra parar.
3. PROPOSTA DE AMOR
MÚSICA: Tom Zé/Gilberto Assis
LETRA: Tom Zé
Maneco Tatit: Ó garota,
Eu te convido para um novo tipo de amor,
Menos novela, muito mais solidário será,
A renovada confiança de ser
Que a mulher há de ter
Quando a senha do mistério digitar.
Assim será!
Ó garota,
Eu contra ti já inventei os deuses, a lei,
E pela carne do pecado te condenei
Tô convencido que essa guerra suja
Foi longe demais
E te ofereço um acordo de paz.
Assim será!
Em muitos países do mundo a garota
Também não tem o direito de ser.
Alguns até costumam fazer
Aquela cruel clitorectomia.
Mas no Brasil ocidental civilizado
Não extraímos uma unha sequer
Porém na psique da mulher
Destruímos a mulher.
Agora estou a esperar
Uma resposta de amor e afeto.
Você de saia, eu de calça,
E o luar será nosso teto.
Uma cartinha de amor
Politicamente correta
Você de saia, eu de calça,
Felicidade será nossa meta.
Assim será!
4. QUERO PENSAR (A MULHER DE BATH)
Tom Zé
Mãe Jussara Saveiro: Assim será o quê, seu vagabundo?!
Primeiramente esse seu tititi de politicamente pro eleitorado:
E que diabo de cachaça
Tem a saia com a calça?
Parece até que o velho algoz
Quer pegar nós
Cochilando e apertar o cós.
Maneco Tatit: Tira a meleca do nariz
Pra não borrar tudo que diz:
Dizia meu avô,
Mulher assim é o diabo, é o demônio, é o pecado
Mãe Jussara Saveiro: Dizia minha avó
Que mentiroso torce o rabo
E deixa o galo encurralado.
Maneco Tatit: Ora, vá lamber sabão
E chupar dedo com limão,
Porque no jogo que tu tás
Quer botá fogo sem ter gás
E dar um golpe no rapaz.
Mãe Jussara Saveiro: Mas eu não vou ficar
Cozendo sapo nesse trato:
Amarre o saco
Num contrato mais sensato
E a nossa paz
Assim vira de fato,
Meu caro rapaz, meu carrapato,
Meu caro rapaz, meu carrapato.
Bete Calla-os-Mares: Quero pensar, meu bom rapaz,
Numa boa:
Não se dá um “sim” assim à-toa.
Quero pensar, meu bom rapaz,
Numa boa,
Talvez tocando no piano
Da patroa.
Finalmente sonhar…
Felicidade sim, sonhar, sonhar,
Feliz se dar ao sonho
No raio e na raiz,
Se ao sonho contraponho
Onde ponho meu nariz.
Tristeza, não. Tristeza fim,
Tristeza bem longe de mim.
Quero pensar… etc.
E de chinela,
De só de chinela, de só de chinela
Vou pensar com meus anéis
E adotar nessa novela
Caldo de galinha com cautela.
E de chinela
De só de chinela de só de chinela
Vou contar de um a dez
Pois quem tem calma assa o peru
E o apressado come cru
Finalmente sonhar…
Felicidade sim, sonhar, sonhar
O eterno amor sonhar
Em termos ancestrais.
Não aquela eternidade
De Vinicius de Moraes.
Tristeza não, tristeza fim,
Tristeza bem longe de mim.
Bete Calla-os-Mares, recitativo: Então tá, meu bom rapaz. Vou pensar no seu caso. Mas primeiro quero lhe mostrar algumas das crueldades que caíram sobre a mulher nestes séculos. Então fique aí escutando, vamos ver.
5. MULHER NAVIO NEGREIRO
Tom Zé
Advogado das mulheres: Mulher – Divino Luxo – Navio Negreiro
………………………………………………….
O macho pela vida
Se valida
A molestar a mulher
Se diverte.
Apavorada,
Ela, que se péla,
Pouco pára de pé,
E padece.
Quando ele pia, pia, pia,
Pra inibir na mulher o animal,
Talvez eu ria, ria, ria,
Vendo ele transar uma boneca de pau,
Com seu incubado,
Calado, colado, pirado pavor
Do segredo sagrado.
Por isto existe no mundo
Um escravo chamado
Mulher – Divino Luxo – Navio Negreiro
Graal – Puro Cristal – Desespero
Rosa-robô – Cachorrinho – Tesouro,
Ninguém suspeita dor neste ideal,
A dor ninguém suspeita imperial.
Eucaristia – Ascensão – Desgraça,
Filé-mignon – Púbis, Traseiro – Alcatra,
Banca de Revista – Açougue Informal – Plena Praça,
Ninguém suspeita dor neste ideal,
A dor ninguém suspeita imperial.
6. PAGODE-ENREDO DOS TEMPOS DO MEDO
Tom Zé
Por ordem de entrada
Advogado das mulheres: Tom Zé (barítono)
Coro do Cinema Novo: Tom Zé (barítono), Suzana Salles (soprano), Suzana Salles (contralto), Jair Oliveira (tenor)
Coro da Semana de 22: Tom Zé (barítono), Suzana Salles (soprano), Suzana Salles (contralto), Jair Oliveira (tenor)
Coro da Poesia Concreta: Tom Zé (barítono), Suzana Salles (soprano), Suzana Salles (contralto), Jair Oliveira (tenor)
Vinícius de Moraes, Baden Powell,
Comissão de frente Antonio Carlos Jobim, Menescal,
Ronaldo Bôscoli, Nara Leão,
Carlos Lira, Miéle e o feminino João.
Doutor, você é bom de colarinho Ala Coluna Prestes
Mas não fez a bossa-nova sozinho.
O que te ilude é Roliúde, Ala Cinema Novo
Roliúde-ude,
A Cinderela bugue-ugue,
Bugue-ugue bugue,
Prefiro meu pagode-wood,
God me sacode,
Te deixo com teu rock-bode.
Doutor, este teu papo não cola: Ala Semana de 22
Você vaiou a bossa-nova n´O Pato.
A gente, além de não ter escola,
Essa cultura de massa é um saco-de-gato.
Saco-de-gato, saco-de-gato Ala Poesia Concreta
Saco-de-gato, saco-de-gato.
O desentendimento se torna tal que o planeta explode em desacordo, guerra e confusão, dando fim a uma era da vida humana.
7. CANÇÃO DE NORA (CASA DE BONECAS)
Tom Zé
Homem do Gênesis: Sobre o abismo pairava
Deus:
O homem era um dos aliados
Seus.
Era de se ver,
Era de se ver.
Mas Nora ignora os poderes
Reais,
O chicote, a espada e suas leis
Morais.
Era de se ver,
Era de se ver.
E quando decide escrever
O seu próprio roteiro,
Quebrar as correntes
Do secular cativeiro,
Então ela pede
Às forças do sangue
Valia
E logo a sala se torna,
Da sua pessoa,
Vazia.
Coro de Ibsen: Na hora em que Nora
Sai, bate a porta
Abre-se um vão
O céu quase aborta
A lei que era morta
Cai no porão.
8. O AMOR É UM ROCK
Tom Zé
MÚSICA INCIDENTAL: Meu Primeiro Amor, de Hermínio Gimenez, versão de José Fortuna e Pinheirinho Jr.
Jasão chora os filhos mortos: Se você tá procurando amor
Deixe a gratidão de lado:
O que que amor tem que ver
Com gratidão, menino,
Que bobagem é essa?
Dr. Burgone: O amor é egoísta,
Coro de Medéia: Sim – sim – sim,
Tem que ser assim.
Dr. Burgone: O amor, ele só cuida
Coro de Medéia: Si – si – si
Só cuida de si.
Dr. Burgone: Então quer dizer que o amor é mesmo sem caráter?
Coro de Medéia: Sim – sim – sim – sim
Tem que ser assim,
Dr. Burgone: E sem caráter, de quem é que ele cuida?
Coro de Medéia: Si – si – si
Só cuida de si.
Medéia, Ariadne e Electra: Sem alma, cruel, cretino,
Descarado, filho da mãe,
O amor é um rock
E a personalidade dele é um pagode.
Canto de Ofélia: Meu primeiro amor
Tão cedo acabou
Só a dor deixou
Neste peito meu.
Meu primeiro amor
Foi como uma flor
Que desabrochou
E logo morreu.
Nesta solidão,
Sem ter alegria
O que me alivia
São meus tristes ais.
São prantos de dor
Que dos olhos saem
Pois que eu bem sei
Quem eu tanto amei
Não verei jamais.
9. DUAS OPINIÕES
Tom Zé
Zélia Bamba: Ridículo chorar,
Patético viver,
Paradoxal prazer,
Apologia do sofrer.
Mônica Sol-Musa: Leal, fiel,
Ilusão
Não sabe quem não quer
Meu bem chora por ti,
Soluço pra te ver chorar
Cantando venho soluçar.
Recitativo-fuxico de Maneco Tatit: Mas meninas, vocês souberam? Foi o pagode, foi o pagode. Foi o pagode, esse alcoviteiro sem vergonha, lascivo, que foi perverter, desviar, desatinar a cabeça de um rei da Inglaterra, que largou a coroa, largou tudo por causa desse pagode. Esse facilitador de namoro! E não respeita uma potência como a Inglaterra! Que sujeito subvertedor da ordem, do respeito, da lei! Até na Inglaterra…
Zélia Bamba: Até na Inglaterra
Ele destronou
Um rei
Que por sua paixão
Abandonou o trono
E a lei.
Até Santo Augustinho
Por amor
Foi sua presa
E Deus, para esperá-lo
Assistiu
muita proeza.
No pagode,
Decoro
Não tem lugar;
É useiro
Vezeiro
Mônica Sol-Musa: Ôô
Aquele
Da sedução
Ôô
A corte
Deixou de mão
Ôô
Viveu
Pecado só
Sentiu
Em si
Carne e pó
É carne
Senhor, tem dó
De ter em si
Pecado e pó
Zélia Bamba e Mônica Sol-Musa: Em mal ma ma ma ma ma maltratar.
10. ELAEU
Tom Zé
Gueis A e B: Elaeu ela ela ela
Ela elaeu
Elaeu ela ela ela
Ela elaeu
Guei A: Ela
A coisa medonha
Vive se orgulhando
Do que me envergonha.
Ela
Sendo meu avesso
Usa do meu corpo
Como endereço
E, presa de fraqueza
Minha vontade ainda
Duela
Com ela.
Gueis A e B: Elaela ela ela
Ela elaeu
Elaeu ela ela ela
Ela elaeu.
Guei B: Ela
Este meu oposto
Que a contragosto
Tanto me fascina.
Ouso
Mesmo receoso
Procurar seu rosto
E louco e sem conselho
Pela sua face
Me vejo no espelho.
Gueis A e B: Elaeu ela ela ela
Ela elaeu
Elaeu ela ela ela
Ela elaeu
11. VIBRAÇÃO DA CARNE
Tom Zé
Coro das mulheres: Tortura que ela atura com fartura
No viver social,
Então leve uma banana, também social.
Toda vez pela primeira vez
Que o cara sai com a garota, logo ali
No bar tem um rali de tititi,
Amigos dele com ele – com ele, por ele.
De repente, cara, ela encara
Um desaforo inocente – sente só,
Que sai no subliminar do papo
Com alho pelo soalho.
Tortura que ela atura… etc
Maneco Tatit: Desde criança a mulher
Enfrenta aquela
Dissimulada agressão:
Eram descarados provérbios maldosos,
E duros, naquele tom brincalhão.
E na dureza do escárnio
Se o amor-próprio se parte…
………………………………………………
Pode interromper no corpo
Aquela natural vibração da carne,
Gozo da mulher, que se o cara
Não doar atenção – é tarde.
Coro das mulheres: Porque a dois, não dá pra viver,
Se somos dois, que seja a valer.
Baião-de-dois não dá, não dá pra fazer
Sem dividir a bênção do prazer.
Maneco Tatit: Mas o castigo pior, a porrada
Que agora o homem sofreu,
Foi daquele tipo de mulher
Que no seu desespero aprendeu
E tentando imitar
Em atitude vulgar
Repete o idiota do machão
No que ele faz de pior – agora
Por exemplo, ela no volante
A debulhar palavrão – ó senhora!
Coro das mulheres: Porque a dois não dá pra viver… etc
12. PARA LÁ DO PARÁ
Tom Zé
Mulher: O que você pensa
Eu sei que você pensa
Que a mulher não pensa
Mas pensa
O que você quer
Eu sei que você quer
Que a mulher não quer
Mas quer
E quer muito mais para lá
Dessa nossa disputa imbecil
Quero,ali na fronteira
Do Tato e do Tempo,
Estar nua no vazio,
Para que Deus me assalte o salto
O salto além do sentimento.
Porém,depois dali,só me conduz
Quem viaja nos braços do ano-luz,
Para tomar a três vidas daqui
O trem atrasado do esmo,
Que vai parar
Agora mesmo,
Exatamente aqui.
Exatamente aqui:
Para lá do Pará,
Para lá do pensar,
Para lá do pensar.
Para lá do Pará,
Para lá do pensar.
Para lá do pensar.
O que você pensa… etc.
Para lá do Pará
Para lá do pensar
Para lá do pensar
Para lá do Pará
Para lá do pensar
E Pasárgada vem pra Maracangalha.
13. PRAZER CARNAL
Tom Zé
MÚSICAS INCIDENTAIS: Ária da Quarta Corda, de Bach; Dindi, de Tom Jobim; Amor em Paz, de Tom Jobim/Vinícius de Moraes
Rebeca do Mato: Prazer carnal,
Querem te afastar do amor;
Como sinal
De chama e chuva, enxofre e sal
Sacode a fera em fúria animal.
Mas apesar de toda essa vergonha
Com ele ainda a alma sonha
Fiar a renda, cuja lenda
Deus há de cifrar,
Fiar a renda, lenda,
Será deus quem decifrar.
É quase um vintém;
Quando a faísca vem,
Só depois a tempestade
Arrebenta o cais
E arrebenta mais,
Pois o amor
É a coisa mais linda
Quando o vento traz.
Pois o amor
É a coisa mais linda
Quando o vento traz.
Maneco Tatit: Se a mulher cultiva essa vibração
Até
Se no casamento da paixão,
Será desvairada, possessa e meretriz,
Uma louca varrida e sem juiz.
Céu, tão grande o céu
Estrelas que são de ninguém
Mas que são minhas
E de você também
Sobre você também
Rebeca do Mato e Maneco Tatit: Mas apesar de toda essa vergonha
Com ele ainda a alma sonha
Fiar a renda cuja lenda
Deus há de cifrar.
Fiar a renda, lenda,
Será deus quem decifrar.
Rebeca do Mato e Maneco Tatit: Pois o amor
É a coisa mais linda
Quando o vento traz.
Pois o amor
É a coisa mais linda
Quando o vento traz.
14. TEATRO (DOM QUIXOTE)
Tom Zé
Dom Quixote: Tem teatro no canto do bode,
Agora também no pagode.
…Que somente os dementes, os loucos, os teatros,
Os corações, os quixotes, os palhaços,
Podem vencer os dragões aliados
Aos caminhões e aos supermercados.
E assim retornando essa doce loucura
Que o transe, o abandono e o delírio procura
Pra devolver ao amor plenitude
No êxtase ter-se outra vez a virtude.
Que a inocência, essência do sonho, devolva
Os sais abissais do amor às alcovas.
Desta casa onde casa e se cria
Um degrau
Da minha catedral
O teatro do ator que recria
Quixotes de Espanha
La Mancha e Bahia.
E pelo arauto
No alto do palco
Onde o mito vomita uma história
Que repete a estória da história.
O canto do bode
Espermatozóide
E o pagode na prece
Do samba-enredo reconhece
Sancho Pança: Que somente os dementes… etc
15. A VOLTA DO TREM DAS ONZE (8,5 MILHÕES DE Km)
Tom Zé
Maneco Tatit: Pra Iracema em Jaçanã
A esperança parece vã
Mas na maloca, Adoniran
Já se reforça, com tapioca, caldo de rã,
E convoca Joca pra derrotar Leviatã e Tio Sam.
Coro dos personagens de Adoniran: De ferro e bronze
O trem das onze
Voltará,
Em Jaçanã bem de manhã
Apitará.
Comemoremos Mato Grosso eu e Joça
Com Iracema e o Arnesto na maloca.
Maneco Tatit: Soja disse que este ano vem
Coro dos personagens de Adoniran: Andar de trem,
Maneco Tatit: E o milho vai querer também
Coro dos personagens de Adoniran: Andar de trem,
Maneco Tatit: Feijão disse que ninguém vai ficar sem
Coro dos personagens de Adoniran: Andar de trem.
Maneco Tatit: Inês e todo o pessoal da Mooca e do Belém
Coro dos personagens de Adoniran: Andar de trem.
Coro dos personagens de Adoniran: De ferro e bronze… etc.
Maneco Tatit: Frankfurt, Roma,
Europa forte,
É povo rico de toda sorte,
Tudo barateia nesse transporte;
Até Las Vegas,
Ó trem carregas pra Nova Iorque,
Mas aqui o gringo tirou o trilho
Pra não deixar trem passar.
Coro dos personagens de Adoniran: De ferro e bronze… etc.
16. BEATLES A GRANEL
Tom Zé
Maneco Tatit: Amar, amar, amar
Coro da anima: Demais é só
Maneco Tatit: Sofrer demais é só
Coro da anima: De nada há
Maneco Tatit: Sobrar de nada há
Coro da anima: Faça melhor
Maneco Tatit: Que Deus faça melhor
Coro da anima: Amar, amar
Maneco Tatit: Amar
Diotima de Mantinéia: Olhe aí o macho a cantar
Maneco Tatit: Amar
Diotima de Mantinéia: Mentiras a desfiar
Tatit e Diotima de Mantinéia: No seu tralalá
Amar, amar, amar
Se a mulher enternecer
É pão-de-ló
No suco de caju
Mas se ela enfurecer
Pra ele é só
Amor com Red Bull
Maneco Tatit: Amar é só só só viver
Diotima de Mantinéia: Tirando versos vai
Maneco Tatit: Pra ser
Diotima de Mantinéia: Na velha lira, sua lira…
Maneco Tatit: A casca pro outro
Diotima de Mantinéia: No cio eterno seu
Maneco Tatit: Viver
Diotima de Mantinéia: Delira, ele delira, ele delira
Maneco Tatit: E ter e ter e ter
Teresa: Quanto maior romantismo
Mais cruel se transfigura
O carinho em tortura
Maneco Tatit: Amarguras mil sem ter
Por que nem pra que tecer
E ser…
Teresa: Destruindo a mulher
Vai ficar sem o tripé,
Sem panela e sem colher
Maneco Tatit: Como uma varinha de condão
Pra quando riscar no chão
Espalhar…
Maneco Tatit, Teresa e Diotima: Espalhar no céu
Beatles a granel
Em sonhos de papel
Porque na vida
Amar é fel e mel
Amar é fel e mel
Teresa, recitativo: Mel? Mel o quê, seu vagabundo! Quero lhe mostrar algumas das crueldades que caíram sobre a mulher nestes séculos. Então fique aí escutando, vamos ver.
IMPRENSA CANTADA (2003)
REPERTÓRIO
1) DONA DIVERGÊNCIA
(FELISBERTO MARTINS/LUPICÍNIO RODRIGUES)
Oh Deus, que tens poderes sobre a Terra
Deves dar fim a esta guerra
E aos desgostos que ela traz.
Deves encher de flores os caminhos,
Mais canto entre os passarinhos,
Na vida maior prazer.
E assim, a humanidade seria mais forte,
Ainda teria outra sorte,
Outra vontade de viver.
Não vás bom Deus
Julgar que a guerra de que estou falando
É onde estão se encontrando
Tanques, fuzis e canhões.
Refiro-me à grande luta em que a humanidade
Em busca da felicidade, combate pior que leões.
Onde a Dona Divergência com o seu archote
Espalha os raios da morte,
A destruir os casais.
E eu, combatente atingido
Sou qual um país vencido
Que não se organiza mais.
2) COMPANHEIRO BUSH
(TOM ZÉ)
SE VOCÊ JÁ SABE
QUEM VENDEU
AQUELA BOMBA PRO IRAQUE
DESEMBUCHE
EU DESCONFIO QUE FOI O BUSH.
refrão: FOI O BUSH,
FOI O BUSH,
FOI O BUSH.
ONDE HAVERÁ RECURSO
PARA DAR UM BOM REPUXO
NO COMPANHEIRO BUSH
QUEM ARRANJA UM ALICATE
QUE ACERTE AQUELA FASE
OU CORRIJA AQUELE FUSO
TALVEZ UM PARAFUSO
QUE TÁ FALTANDO NELE
MELHORE AQUELE ABUSO.
UM CHIP QUE DESLIGUE
AQUELE TERREMOTO,
AQUELA COQUELUCHE.
SE VOCÊ JÁ SABE… … … etc.
3) REQUERIMENTO À CENSURA
(TOM ZÉ)
Ilustríssimo Senhor Diretor
Da Divisão de Censura de Diversões Públicas
Do Departamento de Polícia Federal, Brasília
Antonio José Martins, brasileiro,
Avenida Brigadeiro Faria Lima, 1857, 1.º andar,
Conjunto 112 e 113 e 114, São Paulo, Capital,
Vem mui respeitosamente solicitar
A Vossa Senhoria
Que se digne mandar
Censurar as letras musicais anexas.
São Paulo, 10 de fevereiro
De mil novecentos… e 2 010.
Nestes termos, nestes termos, nestes termos
Pede, pede defé defé
De fede fede fede
De-fe-ri-men-to.
4) DesenRock-se
(TOM ZÉ)
Eu já sei que essa panorâmica
É a 2.ª Lei da Termodinâmica
Para desintoxicar de tanto rock nem
Nem um choque, nem um choque
Para desintoxicar de tanto rock só
Só um xote chamegá
Eu digo desenrock-se
Meu nego desenrock-se
Desintoxique-se desse apocalipse
Para evitar complicação com a intoxicação
E o buraco das meninas não aparecer com cera
Paraguai e Argentina querem fechar a fronteira.
5) INTERLAGOS F1
(MÚSICA: TOM ZÉ e PAULO LEPETIT / LETRA: TOM ZÉ)
Interlagos
Isso na língua da Fórmula 1 quer dizer
Nem um segundo de descontração
Interlagos
Isso na língua da Fórmula 1 quer dizer
Toda concentração
Ultraconcentração
A largada:
Apaga 1 – apaga – apaga 2 – apaga 3 – apaga – apaga 4
Apaga 4 – apaga 5 e largou!
Tchic tchic oêum
Tchic tchic (etc)
Cada segundo tem décimos, centésimos
tem pêlos e cabelos de milésimos
Logo na curva do S
O pneu canta e se aquece
E como esse S é do Senna
A pista fica pequena
Depois da Curva do Sol
A reta oposta é segura
Mas a descida do Lago
Embica na Ferradura
Tchic tchic… etc
E o inimigo colado
Fungando pra todo lado
Quem freia cedo se arrisca
Quem freia tarde acaba a pista
(Lá vai o moleque pra grama outra vez)
Agora vem o miolo
Essa complicada seqüência
Precisa tino e ciência
Segura o carro seu tolo
(Tolo, aí não, que aí só tem louco)
O Pinheirinho não é canja
Não é curva pra novato
Pois nem acaba o Laranja
Vem logo o Bico do Pato
Tchic tchic… (etc.)
E o inimigo colado… (etc.)
(Faz logo uma pista nova pra ele aí)
Fico enjoado e me embrulho
Só de pensar no mergulho
Agora é a Junção
.Junção, subida e mais nada
Agora é só a chegada
Cada segundo… (etc.)
O pedal da direita
É o que a turma respeita
Ele injeta o veneno
Quem pisa mais chora menos.
Mas o buraco é atrás
Quem menos tem corre mais
6) 1, 2, IDENTIFICAÇÃO
(TOM ZÉ)
Identificação
Identificação
RG 1231232 São Paulo
CIC 743748747-00
ISS 1231558-06
INPS 452749-748
Ordem dos Músicos do Brasil 0840 Bahia
CGC 958.742/0000-001
Títulos protestados, 7
Impulsos de medo, 1 106
Sintomas neuróticos, 36
Horas semanais de catequização pela TV, 16
Ôô, 16, êê, 16, ôô, 16, êê, 16
Impulsos de amor, de amor, 3
Propaganda consumida, 1 106
Alegrias, alegriazinhas espontâneas, 2
Idas ao banheiro para atividades diversas, 36
Ôô, 36, êê, 36, êê, 36, êê, 36
Tempo de vida previsto para o cidadão
Tempo de vida previsto para o cidadão
600 mil horas de vida, de vida, de vida…
Abatimento pelo consumo de alimentos envenenados
Refrigerantes, remédios e enlatados, 1 125 horas
Abatimento pelo desgosto que se padece
Naquela fila do INPS, 1 125 horas
Abatimento por ficar só no desejo
Daquela mulher bonita que aparece na propaganda de cigarro, 1 125 horas
Pelo medo de doenças incuráveis
Como cólera, câncer e meningite, ê ê ê
1 125 horas
Abate aqui
Abate ali
Abate isto
Abate aquilo
E jazzz pela cidade
Um zumbi sem sepultura
Classificado, numerado
É o cidadão bem-comportado.
7) URGENTE PELA PAZ
(TOM ZÉ)
POVO PERIGO PADECE
POVOA A PRAÇA DEPRESSA
DE PANDEIROS E PRECES,
URGENTE PELA PAZ.
,
DE PÉ, O PAÍS REPUDIA
VADIA GUERRA QUE ADIA
O DIA AZUL QUE SERIA.
URGENTE PELA PAZ.
OS PODEROSOS QUEREM GUERREAR
MAS PRA LÁ DO PAQUISTÃO, DO QUIXADÁ,
E BEM ALÉM DAS ÁGUAS DO JORDÃO,
PELA PAZ É URGENTE, É URJÁ
PELA PAZ É URGENTE, É URJÁ
REPETIÇÃO, PETIÇÃO,
NOS QUATRO CANTOS, JAPÃO,
DAQUI ATÉ O SUDÃO,
URGENTE PELA PAZ.
ATÉ NO BAIÃO BATO PÉ,
SE QUER PAGODE OU AXÉ,
PAGÉ, NO TACO BOTO FÉ
URGENTE PELA PAZ
OS PODEROSOS QUEREM GUERREAR
MAS PRA LÁ DO PAQUISTÃO, DO QUIXADÁ,
E BEM ALÉM DAS ÁGUAS DO JORDÃO
PELA PAZ É URGENTE, É URJÁ,
PELA PAZ É URGENTE, É URJÁ.
8) SEM SAIA, SEM CERA, CENSURA
(TOM ZÉ)
É a rima, a rima ditada por lei, por decreto
É a múmia que mama no feto
É a luz que se filtra nas grutas
O insosso temperando as frutas
O medo, o medo tem que censurar para criar
A parceria da pedra com a vidraça
Do elefante com a graça, com a taça
A parceria da bala de canhão, canhão, canhão
Com a bolinha de sabão.
A censura, ela gosta da arte
Mas é a Medusa retocando a musa
A censura, ela ama a arte
Mas é como a fera penteando a bela.
A censura, ela morre de amor pela arte
Mas é a enxada
Acarinhando a fada
A censura, ela adora a fragrância da arte
Mas é o machado
Entre as flores do prado.
9) VAIA DE BÊBADO NÃO VALE
(MÚSICA: TOM ZÉ e VICENTE BARRETO / LETRA: TOM ZÉ)
Primeira Edição
No dia em que a bossa-nova
inventou o Brasil,
No dia em que a bossa-nova pariu
o Brasil
Teve que fazer direito . . . . . . . . . .
Teve que fazer Brasil . . . . . . , . Bis
Criando a bossa-nova em 58
O Brasil foi protagonista
De coisa que jamais aconteceu
Pra toda a humanidade
Seja na moderna História
Seja na História da Antigüidade.
Por isso, meu nego:
Vaia de bebo não vale . . . . . . . . . . . .
De bebo vaia não vale . . . . . . . . . Bis
(refrão)
Segunda Edição
No dia em que a bossa-nova
inventou o Brasil, . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Quando aquele ano começou, nas
Águas de Março de 58,
O Brasil só exportava matéria prima
Essa tisana
Isto é o mais baixo grau da
capacidade humana
E o mundo dizia:
Que povinho retardado . . . . . . . . . . .
Que povo mais atrasado . . . . . . .Tris
Terceira Edição
No dia em que a bossa-nova
inventou o Brasil, . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A surpresa foi que no fim daquele
mesmo ano
Para toda a parte
O Brasil d´O Pato
Com a bossa-nova, exportava arte,
O grau mais alto da capacidade
humana
E a Europa, assombrada:
Que povinho audacioso . . . . . . . . . . .
Que povo civilizado . . . . . . . . . . .Tris
Pato ziguepato ziguepato pato
Pato ziguepato ziguepato pato
Tratou com descaso nosso amado pato
Viva a vaia, seu Augusto,
Viva a vaia, seu João,
Viva a vaia, viva a vaia.
Viva a vaia com Diós, amor,
Porque yo soy argentino
Gentino, gentino, gentino.
10) LÍNGUA BRASILEIRA
(TOM ZÉ)
Quando me sorris,
Visigoda e celta,
Dama culta e bela,
Língua de Aviz…
Fado de punhais
Inês e desventuras,
Lá onde costuras,
Multidão de ais.
Mel e amargura,
Fatias de medo,
Vinho muito azedo,
Tudo com fartura.
Cravos da paixão,
Com dores me serves,
Com riso me pedes
Vida e coração,
Vida e coração.
Babel das línguas em pleno cio,
Seduz a África, cede ao gentio,
Substantivos, verbos, alfaias de ouro,
Os seus olhares conquistam do mouro.
Mares-algarismos,
Onde um seu piloto
Rouba do ignoto
Almas e abismos.
Verbo das correntes
Com seu candeeiro
Todo marinheiro
Caça continentes.
E o gajeiro real,
Ao cantar matinas,
Acha três meninas
Sob um laranjal.
Última das filhas,
Ventre onde os mapas
Bordam suas cartas
Linhas Tordesilhas,
Linhas Tordesilhas.
Em nossas terras continentais
A cartomante abre o baralho,
Abismada vê, entre o sim e o não
Nosso destino ou um samba-canção.
11) VAIA DE BÊBADO NÃO VALE (VERSÃO INSTRUMENTAL)
(MÚSICA: VICENTE BARRETO/TOM ZÉ)
12) SÃO SÃO PAULO MEU AMOR
(TOM ZÉ)
São São Paulo, quanta dor
Sâo Sâo Paulo, meu amor
São vinte milhões de habitantes
de todo canto e nação
que se agridem cortesmente
correndo a todo vapor
e amando com todo ódio
se odeiam com todo amor
são vinte milhões de habitantes
aglomerada solidão
por mil chaminés e carros
gaseados a prestação.
Porém com todo defeito
te carrego no meu peito
São São Paulo, quanta dor
São São Paulo, meu amor
Salvai-nos, por caridade!
Pecadoras invadiram
todo o centro da cidade
armadas de ruge e batom
dando vivas ao bom humor
num atentado contra pudor.
A família protegida
o palavrão reprimido
um pregador que condena
[um festival por quinzena]
Porém com todo defeito
te carrego no meu peito.
São São Paulo, quanta dor
São São Paulo, meu amor.
Santo Antonio foi demitido
e os ministros de Cupido
armados da eletrônica
casam pela tevê
crescem flores de concreto
céu aberto ninguém vê.
Em Brasília é veraneio
no Rio é banho de mar
o país todo de férias
e aqui é só trabalhar.
Porém com todo defeito
te carrego no meu peito.
13) VOCÊ É O MEL “You’re The Top”
(COLE PORTER) Versão: AUGUSTO DE CAMPOS
Meu dom poético é tão patético,
Que eu não sei mais falar
E já prefiro até me calar
Para não me abalar.
Não acho bom
Mostrar o meu som,
Vou ficar só no ABC.
Mas se a cantiga
É um pouco antiga,
Talvez lhe diga
Como é você.
Você é
O Museu do Prado,
Você é
Meu supermercado;
É a melodia de uma sinfonia de Strauss,
É Copacabana,
Ode shakespeariana,
É Mickey Mouse;
Paraíso
Ou Torre de Pisa,
O sorriso
Da Mona Lisa;
Sou um boy de banco, um cheque em branco, um réu,
Mas, meu bem, se eu sou o fel,
Você é o mel.
Você é
Meu Mahatma Gandhi,
Você é
Um Napoleon Brandy;
Luz do sol que vai quando a noite cai na Espanha,
É uma boa ducha,
O cachê da Xuxa,
O melhor champanha;
É um toque
De Botticelli,
Hitchcock
Com Grace Kelly;
Sou só um galão do multifilão da Shell,
Mas, meu bem, se eu sou o fel,
Você é o mel.
Você é
O dry do Martini,
Você é
Filme de Fellini;
É o novo som que nasceu de Tom Jobim,
Gal, Caetano e Gil,
Oswald, “Pau Brasil”,
É “Serafim”;
Maradona
Driblando a zaga,
A sanfona
Do Luiz Gonzaga;
Sou só um Romeu que esqueceu o seu papel,
Mas, meu bem, se eu sou o fel,
Você é o mel.
Você é
Minha Mata Hari,
Você é
LIFE de Pignatari;
É Noel que bisa em Vila Isabel,
É uma obra-prima,
É “Macunaíma”,
É “Demoiselle”;
Ezra Pound,
Gamelão de Bali,
É um round
Do Mohammed Ali;
Sou só uma bagana do havana do Fidel,
Mas, meu bem, se eu sou o fel,
Você é o mel.
14) BATE-BOCA
(MÚSICA: TOM ZÉ e GILBERTO ASSIS / LETRA: TOM ZÉ)
(Sopranos) qui qui qui qui qui qui
(Baixos) có có có có có có
(Coro dos Filhos de Beckett)
Di godi godi
godô godi
godi
di godi godi
godô godi
godi
(Coro das Filhas Dadaístas)
Na pá de cá
na pá de lá de cá
na pá de cá
na pá de lá de cá
(Coro do Samba-de-Roda)
Zé do pé duro
Zé-duro
pereba tu Zé-bu
Zé do pé duro
Zé-duro
pereba tu Zébu
(Contracoro do samba de sarapatel)
Urubu-ti pereba-tu
tubacuru pega-urubu
(Parábase Caipira)
Vá ti ti catá vá ti
vá ti ti catá vá ti
vá ti catá vá ti catá
vá ti
catá catá catá
vá ti vá ti
catá ti vá
catá ti vá
vá ti catá vá ti cata
SANTAGUSTIN (2002) – Grupo Corpo
Música: Tom Zé e Gilberto Assis
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Cenário: Paulo Pederneiras e Fernando Velloso
Figurino: Ronaldo Fraga
Iluminação: Paulo Pederneiras
As Funções Tonais da Harmonia Tradicional
É conhecida a estratégia de provocar uma infecção dosada para obter o antídoto. Aqui, por meio de um erro controlado nas funções tonais, provocamos uma fermentação que, a depender do grau, fica entre a raiva e a vacina.
Mesmo falando em termos estritamente musicais, nas peças 5 e 7 esse estranhamento abre o ventre do tempo e nos precipita numa janela do espaço.
Conhecemos isso no mito e no cotidiano. Seja o príncipe da Dinamarca, seja o Orestes de Ésquilo, seja Sir Patrick Spence, navegador da lendária canção escocesa, seja na vida comum de qualquer um de nós. Muitas vezes estranhamos em zonas de atrito ou até em mares tempestuosos. E, quer reajamos com um limbo de indecisões, quer nos lancemos em uma luta temerária, quer nem percebamos a virose que nos consome, a nossa vida diária está repleta dessas tonalidades conflitantes.
Mas o caso que atamos a esta peça foi o de Santo Agostinho, por causa da amorosidade romântica que nos contaminou durante a composição dela. No século V d.C. o santo da igreja também se deparou com funções tonais conflitantes e harmonias paradoxais quando, munido do gnosticismo neoplatônico, sofria para harmonizar o prazer sexual e o amor carnal do corpo sagrado de uma religião cristã, que, naquele tempo, ensaiava a tessitura de seus dogmas.
Cavalo e cavaleiro, Santo Agostinho queria subir ao céu pelos buracos.
Ambivalente também, o âmago dessas idéias musicais foi inspirado numa fonte de tempos e noutra de espaços. Não digo “tributo” para evitar um termo pomposo e meio malandro. Entretanto foram, de um lado, Pixinguinha, mais a família Carrasqueira, mais os músicos do gênero chamado instrumental brasileiro – especialistas na estruturação do tempo – ; e, de outro lado, Rodrigo Pederneiras – especialista em prover de sentido o espaço -, as fontes onde, ao lado de Gilberto Assis, me embriaguei de romantismo e mendiguei engenho para plagiar as pequenas peças aqui contidas.
Tom Zé
Músicas:
1. Choro 1: Marco da Era 2:17
2. Choro 2: Ayres da Mantiqueira 5:37
3. Choro 3: Nogueira do Monte 3:25
4. Choro 4: Moura-Sion 5:17
5. Choro 5: Pixinguim-Rasqueira 9:25
6. 5a: Marky-Patifório
7. 5b: Hermetório
8. 5c: Joãogilbertório
9. 5d: Yamanduzório
10. Choro 6: Cyro-Gberto 7:38
11. Choro 7: Bate-Boca 7:07
5. Choro 5: Pixinguim-Rasqueira
Música: Tom Zé e Gilberto Assis
Letra: Tom Zé
(Coro dos Homens Egoístas)
Pandê que chó
que chora mi
pandê que chó
que chora ti, ti, ti
cati cati
que choro cativan
(Coro das Mulheres Fuxiqueiras)
Que ti que ti que ti
que ti que ti que ti
que ti que ti que ti
que ti que ti que ti que ti
6. 5a: Marky-Patifório
Música: Tom Zé e Gilberto Assis
Letra: Tom Zé
(Bandinha dos Anjos fm 103,3)
(Anjinho contraltos) Íe róe rié ró e ró
(Anjinhos sopranos) Íe róe ríe ró e ró
… … … etc.
Oh oh oh oh oh
ah oh oh ah … … … etc.
7. 5b: Hermetório
Música: Tom Zé e Gilberto Assis
Letra: Tom Zé
(coro: Homo-Sapo)
Bedê bidu batuca mi
bedê bidu batuca ti ti ti
bedê bidu batuca tu tu tu
Pandê que chó … … …
(Coro das mulheres Fuxiqueiras)
Qui ti qui ti qui ti … … … etc.
(Coro das Mulheres Realistas)
Ridículo chorar a a
patético viver ê ê
paradoxal prazer
apologia do sofrer
Ridículo chorar a a
(Coro das mulheres Românticas)
Chorar é coisa do amor
amor, coisa do coração,
o coração é do sonhar
sonhar este chorinho, chorar.
8. 5c: Joãogilbertório
Música: Tom Zé e Gilberto Assis
Letra: Tom Zé
(Coro das Mulheres Pragmáticas)
Só ilusão
não sabe quem não quer
saber,
inocente mulher:
é só paixão.
(Coro das Mulheres Inconformadas)
0 choro
tão doce
é enganador.
Sincero
Se fosse,
teria mais pudor.
Mas rasga o coração
e gosta de sofrer;
lascivo, ele exalta
a dor como prazer
(Interrupção do Coro das mulheres Pragmáticas)
Porém no laço
dos martírios teus,
ou nos lírios
e delírios meus,
somos a multidão:
um simples coração
só
só
gritando no porão.
(Coro dos homens-fêmeos)
Chorinho que chó
chorinho que chó
chorinho que chó
… … … etc.
(Coro das mulheres Gozadoras)
Meu bem chora por mim
meu bem chora por ti
soluço pra te ver cantar
cantando, venho soluçar.
9. 5d: Yamanduzório
Música: Tom Zé e Gilberto Assis
Letra: Tom Zé
(Coro das Mulheres Épicas)
Até na Inglaterra
o choro destronou
um rei,
que por sua paixão
abandonou o trono
e a lei.
(Cora das Mulheres Concordantes)
Ô ô
aquele
da sedução
ô ô
a corte
deixou de mão
(Coro das mulheres santas)
Até Santo Agostinho
por amor foi sua presa
e Deus, para esperá-lo,
assistiu muita proeza.
(Coro das Mulheres Beatas)
Ô ô
martírios
pecado só
em lírios
delírios
pecado e pó.
(Coro das Noras de Ibsen)
No choro
decoro
não tem lugar
é useiro
vezeiro
em maltratar
(Bandinha dos Anjos 103,3)
(Anjinhos contraltos) Íe róe ríe ró e ró
(Anjinhos sopranos) Íe róe rí e ro e ró … … … etc.
oh oh oh oh
oh ah oh ah
(Coro dos homens Sedutores)
Di guidi-guidi guidi-guidi
guidi-guidi guidi-guidiiii
di guidi-guidi guidi-guidi
guidi-guidi guidi-guidiiii
Digui digui digui di di
(Algumas aderem)
Di guidi-guidi guidi-guidi … … … etc.
(Coro dos homens Egoístas)
Pande que chó … … … etc.
(Coro dos Homens?fêmeos)
Chorinho que chora mi
chorinho que chora ti
chorinho que chora chorá rá
quitiquirá quitiquirá
(Coro das Mimosas de Siracusa)
Quitiquirá
quitiquirá
(Coro dos homens Sedutores com as Mimosas de Siracusa)
Quitiquirá
quitiquirá
quitiquirá
quitiquirá
11. Choro 7: Bate-boca
Música: Tom Zé e Gilberto Assis
Letra: Tom Zé
(Sopranos) qui qui qui qui qui qui
(baixos) Có Có Có Có Có Có
(Coro dos filhos de beckett)
Di godi godi
godô godi
godi
di godi godi
godô godi
godi
(Coro das Filhas Dadaístas)
Na pá de cá
na pá de lá de cá
na pá de cá
na pá de lá de cá
(Coro do Samba-de-Roda)
Zé do pé duro
Ze-duro
pereba tu Zébu
Ze do pé duro
Zé-duro
pereba tu Zébu
(Contracoro)
Urubu-ti pereba-tu
tubacuru pega-urubu
(Parábase Caipira)
Vá ti ti catá vá ti
vá ti ti catá vá ti
vá ti catá vá ti catá
vá ti
catá catá catá
vá ti vá ti
catá ti vá
catá ti vá
vá ti catá vá ti catá
Ficha Técnica:
Música: Tom Zé e Gilberto Assis
Letras: Tom Zé
Vange Milliet (Solo-contralto)
Tetê Espíndola (Solo-soprano)
Produção: Paulo Lepetit e Gilberto Assis
Supervisão Musical: Cristina Carneiro
Mixagem: Paulo Lepetit e Gilberto Assis
Estúdio: WAH-WAH
Engenheiro de Som: Paulo Lepetit
Taxinomia: Marta Fonterrada
Masterização: Carlinhos Freitas
Choro 1: Marco da Era
Arrastão de Marco Antônio Guimarães
Hertzé: Tom Zé, Gilberto Assis, Paulo Lepetit
Choro 2: Ayres da Mantiqueira
Arrastão de Nelson Ayres e Banda Mantiqueira
Garrafas e Apitos: Gilberto Assis, Cristina Carneiro, Míriam Cápua, Jarbas
Mariz, Sérgio Caetano
Trombone Plástico: Bocatto
Metais: Bocatto, Ubaldo Versolato, Demétrio S. Lima, Cláudio Faria
Violões: Gilberto Assis, Paulo Lepetit
Guitarra: Sérgio Caetano
Contrabaixo e bandolim: Gilberto Assis
Hertzé: Paulo Lepetit Gilberto Assis, Tom Zé
Bateria: Lauro Léllis
Percussão: Lauro Léllis, Míriam Cápua
Choro 3: Nogueira do Monte
Arrastão de Paulinho Nogueira e Heraldo do Monte
Vocais: Vange Milliet Ceumar Coelho
Violões: Tom Zé, Gilberto Assis, Sérgio Caetano
Bandolim: Webster Santos
Flauta e Clarinete: Amintas Brasileiro
Percussão: Guilherme Kastrup
Choro 4: Moura-Sion
Arrastão de Paulo Moura e Roberto Sion
Vocal-solo: Vange Milliet
Piano: Cristina Carneiro
Bandolim: Luiz Waack
Coro: Gilmar de Oliveira Ayres, Cristina Carneiro,
Gilberto Assis, Sérgio Caetano
Choro 5: Pixinguin-Casqueira
Arrastão de Pixinguinha e dos Carrasqueiras
5a: Marky-Patifório
5b: hermetório
5c: Joãogilbertório
5d: Yamanduzório
Vocal-solo: Tetê Espindola (Soprano)
Vange Milliet (Contralto)
Coro feminino: Vange Milliet Ceumar Coelho
Coro masculino: Sérgio Caetano, Jarbas Mariz, Gilberto Assis, Tom Zé
Aconselhamento Vocal: Júlio Medaglia
Cornetinhas: Tom Zé, Gilberto Assis
Guitarra e Viola Caipira: Luiz Waack
Guitarra e Violão: Gilberto Assis
Violão 7 cordas: Swami Jr.
Hertzé: Cristina Carneiro
Flauta e Clarinete: Amintas Brasileiro
Choro 6: Cyro-Gberto
Arrastão de Cyro Pereira e Egberto Gismonti
Coro Feminino: Vange Milliet Ceumar Coelho
Contrabaixo, Violões e hertzé: Gilberto Assis
Flauta e Clarinete: Amintas Brasileiro
Choro 7: Bate-boca
Arrastão do Diálogo Brasileiro
Violões: Tom Zé, Sérgio Caetano
Violão 7 cordas: Gilberto Assis
Bandolim: Webster Santos
Percussão: Guilherme Kastrup
Coro Feminino: Vange Milliet, Ceumar Coelho
Coro Masculino: Sérgio Caetano, Gilmar de Oliveira Ayres,
Lenin Silveira Gimenes, Tom Zé, Gilberto Assis
Flauta e Clarinete: Amintas Brasileiro
Hertzé de Metais: Paulo Lepetit e Gilberto Assis
Direção de Arte: Guili Seara
Fotos: José Luiz Pederneiras
Designers Assistentes: Anna Carolina Perim e Fernando Jorge
Arte Final: Túlio Linhares
Produção Gráfica: Marden Diniz
Mockup: Ilacir César
JOGOS DE ARMAR (2000)
1. PASSAGEM DE SOM
(Tom Zé/ Gilberto Assis)
Gênero:chamegá-exaltação
ARRASTÃO DE ARI BARROSO E DO
COMPOSITOR DAVID GORENCHENDLER
Ed. Irará (Trama) 70274607
FALA:
Alô! Tem som aqui neste microfone?
Quanta microfonia!
1, 2, 3, som, experiência
1, 2, 3, som, experiência
Alô alô som
O cio do som
Alô alô som
O vinho do som
Alô alô som
A caixa de som om om
A caixa de som om om
Bota um pouco mais de agudo
Aqui para o vocal
O sal que tempera o vocal
Coro: Tão grave é mau
Tão grave é mau
Mais grave aqui no contrabaixo
Que me desabotoa na boa
E me racha por baixo
Coro: E que me racha por baixo
Que me racha por baixo
Um toque na sua guitarra
Me amarra e grita no meu peito
Coro: Não dá mais jeito
Desse jeito
Um toque no seu bandolim
Que jasmim sobre mim
Sobe em mim
Coro: Ai ai ai ai ai ai ai
É tão gostô
Baté contrabá
Guitá guitá gritar
Coro: Ai! Joãojacksonjoãogonzagá
Gonzá Gonzá
Ai ai Gonzá Gonzá
Ai Gonzá ai Gonzá
… … Gonzá Gonzá Gonzá
Ó ó ó ó ó
VERSOS PARA POSSÍVEIS PARCERIAS
Ser o abismo
De ser o não-ser
E ter a gula
De nada reter
O sétimo selo do sétimo véu
Õ õ ô
Sem si ré lá
No sol fá
Mi
Por cima de si
Sem dó
(Vocalises,Tom Hert-Zé, etc
2. PEIXE VIVA
(Tom Zé/ Zé Miguel Wisnik)
Gênero:chameguinho choro
ARRASTÃO DE EDU LOBO
Ed. Irará (Trama) 70274619
Iê quitíngue lelê
Lambaio enguia curimã
Lambaio enguia curimã
Lambaio enguia vermeio
Iê quitíngue
Iê quitíngue
Iê quitín
Gue lê quitíngue lê
Iê quitín
Iê quitín
3. JIMI RENDA-SE
(Tom Zé/ Valdez )
Gênero: maracapoeira
ARRASTÃO DO FALAR SOFISTICADO
Ed. Sonata (Fermata) 70274620
Guta me look mi look love me
Tac sutaque destaque tac she
Tique butique que tique te gamou
Toque-se rock se rock rock me
Bob Dica, diga,
Jimi renda-se!
Cai cigano, cai, camóni bói
Jarrangil century fox
Galve me a cigarrete
Billy Halley Roleiflex
Jâni chope chope chope chope
Ô Jâni chope chope
Ie relê reiê relê
MOEDA FALSA
(Tom Zé)
Gênero: maracapoeira
Ed. Irará (Trama) 70274632
Fala: E logo o Brasil, que vai ser um país rico, quando esse diabo desse petróleo acabar
O dólar é moeda falsa
O americano já não segura as calças
A Alemanha quase pedindo esmola
A inglesa não usa mais calçola
Na Itália não tem mais sutiã
Suíça não lava a bunda de manhã
Ô, cabrobó,
Eles vão tomar no fiofó
4. CHAMEGÁ
(Tom Zé/Vicente Barreto)
Gênero: chamegá
ARRASTÃO DE JACKSON DO PANDEIRO E GORDURINHA
Ed. Irará (Trama) 70274644
Com ê
Seu jei de tê
Graça no balan
Miná meu tem
Crian
Passa na lembran
Conté
Que o no
me dé
era diferen
seu nom era Embolá
no falar da gen
“Aí chegou o gringo com
o sequencer para prender
o músico brasileiro na camisa-de-força do metronímico 4/4 rock-pop-box.” (David Byrne, em carta)
Xanduzinha, que vergonha
Espezinharam-na-fulô
E chegou um chamego chamado pop
Ah, puta que pariu,
Bate funk bate folk
Ah, puta que pariu
Bate estaca, bate rock
Ah, puta que pariu,
Gonzaga filho adotado
Yê Olodum
Renasceu mais avexado
Yê Olodum
‘’
5. DESAFIO
(Tom Zé / Gilberto Assis)
Gênero: desafio nordestino
ARRASTÃO DE JORGE MELO
Ed. Irará (Trama) 70274656
Doutor: Meus senhores, vou lhes apresentar
A figura do homem popular,
Esse tipo idiota e muquirana
É um bicho que imita a raça humana.
O homem: O doutor exagera e desatina
Pois quando o pobre tem no seu repasto
O direito a escola e proteína
O seu cérebro cresce qual um astro
E começa a nascer pra todo lado
Jesus Cristo e muito Fidel Castro
Refrão:
Africará mingüê e favelará
mérica de verme que deusará
Iocuné Tatuapé Irará
Doutor: Veja o pobre de hoje: quer tratar
Do direito, da lei, ecologia.
É na merda que eles vão parar
Ou na peste, maleita, hidropisia.
O homem: Mas o Direito, na sua amplitude
Serve o grande e o pequeno também.
Além disso quem chega-se à virtude
E da lei se aproxima e se convém
Tá mostrando ao doutor solicitude
Por querer o que dele advém.
Refrão:
Africará minguê … … etc.
6. PISA NA FULÔ
(João do Valle/ Ernesto Pires/ Silveira Júnior)
Gênero: xote
Ed. Warner/Chapell 70274668
Pisa na fulô, pisa na fulô,
Pisa na fulô,
Não maltrata o meu amor
Eu vi menina que nem tinha doze anos
Agarrar seu par e também sair dançando
Sastifeita, dizendo: “Meu amor,
Ai, como é gostoso
Pisa na fulô”.
Pisa na fulô, pisa na fulô … … …
Sô Serafim cochichava com Diõ
Sou capaz de jurar
Que nunca vi forró melhor
Inté vovó
Garrou na mão de vovô
Vambora meu veinho
Pisa na fulô.
Pisa na fulô, pisa na fulô … …
De madrugada Zeca Caxangá
Disse ao dono da casa:
“Não precisa me pagar.
Mas por favor,
Arranje outro tocador
Que eu também quero
Pisá na fulô”.
7. ASA BRANCA
(Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira)
Gênero: baião
Ed. Fermata 70274670
Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Bis Eu perguntei, ei, a Deus do cé – éu
Por que tamanha judiação?
Que braseiro, que fornalha,
Nem um pé de plantação
Bis Por falta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Bis Entonce eu disse: Adeus, Rozinha,
Guarda contigo meu coração
Quando o verde dos teus olhos
Se espalhar na plantação
Bis Eu te asseguro, não chores não,viu,
Que eu voltarei, viu, meu coração.
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar, viu, pro meu sertão
8. CONTO DE FRALDAS
(Tom Zé)
Gênero: baião-acalanto
ARRASTÃO DOS QUEBRA-LÍNGUAS NORDESTINOS
Ed. Irará (Trama) 70274681
Penso
Que pena que seja pouco
Só penso pensamento
Que possa te procurar
De cá, de lá
Baile beijinho
Beijo beijoca
O b da brincadeira
Brinquedo balbuciar, ciar
Tim-tirim-tirim-tim
Tirim-tirim-tim
Tirim
My love lua da lenda
Longe me leva lá
No dia em que te conheci
Eu ainda molhava a cama
Molhava a cama-a-a-a
9. MEDO DE MULHER
(Tom Zé)
Gênero: chamegá
ARRASTÃO DE UM JINGLE PARA MÁQUINAS DE ESCREVER ENCOMENDADO POR WASHINGTON OLIVETTO EM 1977
Ed. Irará (Trama) 70274693
Iê le le lê
Iê le le lê
A Dora me botou fora
A Biu me despediu
A Marta nem uma carta
Dorete nem um bilhete
Dudinha nem uma linha
Zenai nem gudi bai
Susana fui rolimã
Pra Lana fui tobogã
Pra Beta fui bicicleta
Teresa bateu de “t”
Zenai bateu de ai
Patrícia bateu de pá
A Benta me acorrenta
Teresa no pé da mesa
Joana no pé da cama
Anália com a navalha
Adele me corta a pele
A Gal é que bota sal
Celeste botou-me peste
Edite botou-me gripe
Soraia me botou saia
A Malva me depilava
A Cáti de alicate
Odete de canivete
Luzia, cada fatia
Que a Bia me dividia
Maria distribuía
Socorro como um cachorro
A Tânia como uma aranha
A Dora com a espora
A sombra se aproxima
Enorme sobre o meu berço
Levanta-me pelo ar
Mamãe, me bota no colo
Me dá de mamar no peito
Balança pra eu arrotar
Balança pra eu arrotar
Boi, boi, boi da cara preta
Pega o Toim Zé que ele tem medo de careta
Boi, boi, boi cara de louça
Pega o Toim Zé que ele tem medo de moça
Boi, boi, boi cara de lua
Toim Zé ainda chora
Quando vê moça nua.
10. O PIB DA PIB
(Tom Zé / Sérgio Molina / Alê Siqueira)
Gênero: Bloco de Turistas Europeus para o Cordão das Meninas do Nordeste
ARRASTÃO DE ROSSINI – O BARBEIRO DE SEVILHA
Ed. Irará (Trama) 70274716
Catorze, catorze anos,
Doze anos, doze anos
Imagine um gringo daquele tamanho
Em cima da criança pobre nordestina,
Sufocada, magricela, seca, pequenina,
Ah, Nossa Senhora minha
O PIB da PIB que pimba no seco
Pimba no molhado
Pimba no seco saco seco
Peixe badesco na filha dos outros é refresco
Ô Senhora, Mãe Senhora,
Nessa hora olha pra tua menina, Senhora
A Prostituição Infantil Barata
É a criança coitadinha do Nordeste
Colaborando com o Produto Interno Bruto
E esse produto enterra bruto
Refrão: Que dor, que dor
Que suja a bandeira
Oi, essa quebradeira
Oisquindô – lalá
Catorze, catorze anos,
Doze anos, doze anos
11.CAFUAS, GUETOS E SANTUÁRIOS
(Tom Zé)
Gênero: improviso hip-hop. Tema solicitado por Sinval Itacarambi para cabeça de um programa de televisão
ARRASTÃO DO SOM DOS MANOS DA PERIFERIA
Ed. Irará (Trama) 70274728
Tum tum tum cafuas
Tum tum tum guetos
Tum tum santuários
São Paulo
Coro: São Paulo, São Paulo
Em algum lugar da tua violência és domingo
Coro: Domingo, domingo
Em algum lugar do teu domingo
Tens um útero de idéias
Coro: Idéias, idéias
Cafuas, guetos e santuários
Vêm hoje aqui na periferia
Procurar o ouro das cabeças
Coro: Cabeças, cabeças
Tum tum tum cafuas
Tum tum tum guetos
Tum tum
12. A CHEGADA DE RAUL SEIXAS E
LAMPIÃO NO FMI
(Tom Zé)
Gênero: baiãolenda
ARRASTÃO DE CANÇÃO FOLCLÓRICA E DO ESTILO TROVADOR NORDESTINO
Ed. Irará (Trama) 70274730
É Raul, Raul, Raul,
É Raul Seixas, é Lampião
Chegaram no FMI
Que nem tentou resistir
É Raú, Raú, Raú,
Lampião não anda só
Trouxe Deus e o diabo
Raul, a terra do sol
Lampião com o clavinote
Raul trouxe o Ylê Ai Ê
Tiraram os colhões do rock
Enrabaram o iê-iê-iê.
Chegaram na Casa Branca
Os dois de carro-de-boi
Tio Sam fugiu de tamanca
Ninguém viu para onde foi
Wall Street fechou
E a ONU não deixou pista
O presidente jurou
Que sempre foi comunista
Mano Brown disse a Raul
O dinheiro a gente investe
No Banco Carandiru
Xingu, favela e Nordeste
Todo-poderoso e rico
O grande senhor dali
Cagou-se, pediu pinico
Aflito, fora de si
Pois o FMI
Viu que não tinha mais jeito
E entregou todo o dinheiro
Para o pobre dividir
E o mundo se viu diante
De grande felicidade:
Trabalho pra todo o dia
Comida pra toda a tarde
Mas entre os países pobres
Não houve fazer acordo
Para dividir os cobres
E a guerra pegou fogo
TRECHOS DE LETRA INCOMPLETA: SUGESTÕES PARA PARCERIA
Mas chegou Renato Russo
De Belém trouxe Fafá
E ela só trouxe um busto
Pra Ásia toda mamar
Nesse dia moribundo
O FMI se fechou
E o povo inteiro do mundo
Sofrido comemorou
13. PERISSEÍA
(Tom Zé / Capinan)
Gênero: samba rap
ARRASTÃO DE HOMERO
Ed. Irará (Trama) 70274741
Sabe com quem tá falando?
Eu sou amigo do Rei…
Que importa o nome que eu tenho
Que importa aquilo que eu sou
Se eu tenho um sonho impossível
Pra mim o tempo parou
Meu nom, meu nome é Peri
Meu nom, meu nome é Zumbi
Meu nom, meu nome é Galdino
Meu nome é Brasil
Um gigante-menino
Um navio sem destino
No ano dois mil
CORO
Se eu pudesse atrasaria
Este relógio dois mil
Pra rezar na primeira missa
Pelo futuro do Brasil
ACALANTO
Inhem inhem inhem
Inhem inhem inhem
Nhem … nhem nhem
Nhem nhem
CORO
Iê Peri iê Peri iê camará
Iê Peri camará
Peri Brasil
PERI
E eu, o que sou?
E eu, o que sei?
Macunaíma, sou eu?
Tiradentes, sou eu?
Sou eu um poeta
Sou eu um pião?
Quantos anos eu tenho
Quantos anos terei?
Eu que vivo sem, jamais saberei
Ó meu pai, não me abandone,
Minha mãe, como é meu nome
Este mundo tem lei?
Este mundo tem Rei?
CORO
Se eu pudesse atrasaria …
14. SONHAR
(SONHO DA CRIANÇA-FUTURO-BANDIDO DA FAVELA, NA NOITE DE NATAL)
(Tom Zé / Sérgio Molina)
Gênero: samba-enredo
ARRASTÃO DA ALA ESFARRAPADOS DE JOÃOSINHO TRINTAE DO PROGRAMA DO MAESTRO WALTER LOURENÇÃO NA RÁDIO CULTURA FM
Ed. Irará (Trama) 70274753
TEXTO DO CANTOR
Iê iô
Ié quá foguê (Bis)
Sonhar o pão
Toda a manhã
E ser aquele que mastiga
Sonhar o gosto
Do alimento
Se misturando na saliva
Aquele aroma
Que a gente sente
Pó de café na água quente
Sonhar escola
Senhor São Bento
Sonhar o tal discernimento
Sonhar a besta
Que em seu fastio
A fúria do começo viu
Sonhar o fogo
Do quilarão
Que veio do ainda-não
Gratia plena
Vida terrena
O céu aqui a gente pare
Filii tui
Na via crucis
Per mare nostrum navigare
Iê iô
Ié quá foguê
Sonhar a porta
Da esperança
O entra e sai da vizinhança
Sonhar o curso
Do marinheiro
Que viajou o mundo inteiro
Sonhar a lenda
Por cuja fenda
Sabedoria nos assalta
Sonhar o mito
Que em todo o rito
O filho ao parricídio ata
Iê, iô
Ié quá foguê (Bis)
De San Juãããã
ão dá dó de
TEXTO CONTRA O CANTOR
Quê tum guê guê
Quê tum gô
Quê quê quê quê ta dê
Nem sonho
Me apanha
Porca dessa bronha
Sacana
Me engana
Rabo de mundana
Na luta
Labuta
Tã tã tã tão bruta
Insulta
Disputa
Tã tã tã tão bruta
A merda
Quem herda
Desfruta
A terra
Tempera
A fruta
Quê tum guê guê
Quê tum gô
Quê quê quê quê ta dê
Sinala
A sina
Assa sa sassina
Infausto
Me arrasto
Solto neste pasto
Assusta
Degusta
Tanto faz
Renego
Arredo
Satanás
Quê tum guê guê
Quê tum gô
Quê quê quê quê ta dê
IMPRENSA CANTADA – VAIA DE BÊBADO NÃO VALE (1999)
1) Vaia de Bêbado Não Vale
Tom Zé / Vicente Barreto
Primeira edição
No dia em que a bossa nova inventou o Brasil
No dia em que a bossa nova pariu o Brasil
Teve que fazer direito
Teve que fazer Brasil
bis
Criando a bossa nova em 58
O Brasil foi protagonista
De coisa que jamais aconteceu
Pra toda a humanidade
Seja na moderna história
Seja na história da antiguidade
E por isso, meu nego,
Vaia de bebo não vale
De bebo vaia não vale
bis
Segunda edição
No dia em que a bossa nova inventou o Brasil
No dia em que a bossa nova pariu o Brasil
Teve que fazer direito
Teve que fazer Brasil
bis
Quando aquele ano começou, nas Águas de Março de 58,
O Brasil só exportava matéria-prima
Essa tisana
Isto é o grau mais baixo da capacidade humana
E o mundo dizia
Que povinho retardado
Que povo mais atrasado
bis
Terceira edição
No dia em que a bossa nova inventou o Brasil
No dia em que a bossa nova pariu o Brasil
Teve que fazer direito
Teve que fazer Brasil
bis
A surpresa foi que no fim daquele mesmo ano
Para toda a parte
O Brasil d’O Pato
Com a bossa nova, exportava arte
O grau mais alto da capacidade humana
E a Europa, assombrada:
“Que povinho audacioso”
“Que povo civilizado”
Pato ziguepato ziguepato Pato
Pato ziguepato ziguepato Pato
Tratou com desacato o nosso amado Pato
desacato nosso Pato
Viva a vaia, seu Augusto
Viva a vaia, seu João
Viva a vaia, viva a vaia
Viva a vaia com Diós, amor
Porque me soy argentino
Argentino, gentino, gentino
2) Vaia de Bêbado Não Vale (instrumental)
3) NO DIA EM QUE A BOSSA NOVA INVENTOU O BRASIL
Tom Zé / Vicente Barreto
No dia em que a bossa nova pariu o Brasil
O nosso céu de anil não ficou mais anil
Nem mesmo o presidente
Encontrou motivo
Pra um ponto facultativo
Parada não saiu
Na rua nem se viu
Passeata de Deus com o Brasil pra frente
No dia em que a bossa nova pariu o Brasil
A cinderela acordou a Bela Adormecida
Que, mesmo quase fada, ficou puta da vida
E tão aborrecida
Que fez um espalhafato
E tratou com desacato
O nosso tão amado pato
No dia em que a bossa nova pariu o Brasil
NO JARDIM DA POLÍTICA (1998)
NO JARDIM DA POLÍTICA (Introdução)
Tom Zé
Teatro Lira Paulistana, 1984.
Eu, Tom Zé, o locutor que vos fala,
mais Charles Furlan, que me ajudava na sala
e o violão decantava,
canto,
vamos apresentar um show
que se chamava
“No Jardim da Política”.
É, meu bem,
vamos passear.
Chega nega morena, vem
vamos passear
vamos passear, sim,
vamos dar um passeio juntos
me dê a mão, vamos passear
neste antigo documento:
um passeiozinho que é pertinho,
tá catá pé daqui, pé de lá, oh,
que cheiro bom de jardim!
DEMOCRACIA
(Sobre a democracia)
Tom Zé / Vicente Barreto
Democracia que me engana
na gana que tenho dela
cigana ela se revela, aiê;
democracia que anda nua
atua quando me ouso
amua quando repouso.
É o demo o demo a demó
é a democracia
é o demo o demo a demó
é a democracia.
Democracia, me abraça
com tua graça me atira
desfaz esta covardia, aiê;
democracia não me fere
mira aqui no meio
atira no meu receio.
Democracia que escorrega
na regra não se pendura
na trégua não se segura, aiô;
democracia pois me fere
e atira-me bem no meio
daquilo que mais eu mais receio.
Democracia, não me deixe
sou peixe que fora d’água
se queixa, morre de mágoa, aiê;
democracia não se dita
maldita seja se dura,
palpita pela doçura.
SOBRE A LIBERDADE
Tom Zé / Vicente Barreto
A liberdade é um mistério,
todo dia se decifra
todo dia se disfarça.
A liberdade é só presente,
não promete pro futuro
não comete ter saudade.
A liberdade é traiçoeira
que nem amor de menina
se amoita em cada moita
se esquiva em cada esquina.
A liberdade é vaidosa,
quer cuidados e desejos
quer escovas e limpeza.
A liberdade é muito prosa,
é azeite pelas juntas
penteada e caprichosa.
NO JARDIM DA POLÍTICA
Tom Zé
Canção que se refere a uma tal “democracia relativa” criada no governo Geisel
No jardim da política, meu bem,
vamos passear.
Chega nega morena vem
vamos passear
no jardinzinho bonitinho
cheirosinho formosinho da política
ô meu bem
vamos passear.
Chega neguinha morena vem
vamos passear.
Eu te dou um beijo esquerdista
na ponta do pé
— você se irrita
e diz que essa servidão capitalista
não lhe conquista.
Eu te peço
a boquinha molhada de saliva,
minha diva,
você diz que essa liberdade
é excessiva.
E diante desta contradição ideológica
te ofereço a rosa comemorativa
desta tua democracia relativa.
E eu pego esse teu rostinho
verde e cor-de-rosa
pego todo o jardim para te dar
e também a rosinha
vermelhinha do PC
e a rosinha
mais vermelhinha do PC do B.
E eu pego todo o jardim para te dar.
CLASSE OPERÁRIA
Tom Zé
Sobe no palco o cantor engajado Tom Zé,
que vai defender a classe operária,
salvar a classe operária
e cantar o que é bom para a classe operária.
Nenhum operário foi consultado
não há nenhum operário no palco
talvez nem mesmo na platéia,
mas Tom Zé sabe o que é bom para os operários.
Os operários que se calem,
que procurem seu lugar, com sua ignorância,
porque Tom Zé e seus amigos
estão falando do dia que virá
e na felicidade dos operários.
Se continuarem assim,
todos os operários vão ser demitidos,
talvez até presos,
porque ficam atrapalhando
Tom Zé e o seu público, que estão cuidando
do paraíso da classe operária.
Distante e bondoso, Deus cuida de suas ovelhas,
mesmo que elas não entendam seus desígnios.
E assim,, depois de determinar
qual é a política conveniente para a classe operária,
Tom Zé e o seu público se sentem reconfortados e felizes
e com o sentimento de culpa aliviado.
DESAFIO DO BÓIA-FRIA (folclore)
Tom Zé
Patrão:
Meus senhores, vou lhes apresentar
uma gente não sei de que lugar,
uma coisa que imita a raça humana:
eis aqui o trabalhador da cana.
Pois agora eles só querem falar
em direitos e leis a registrar,
imagine a confusão que dá!
Eu explico pra eles a tarde inteira
esse tal de registro na carteira
atrapalha, é burrice, é besteira.
Bóia-Fria:
Mas o traquejo da lei e do direito
não degrada quem dele se apetece
pois enquanto se nutre de respeito
é o trabalhador que se enobrece.
Além disso quem chega-se à virtude
e da lei se aproxima e se convém
tá mostrando ao patrão solicitude
por querer o que dele advém.
Desse modo o registro na carteira
será nossa causa verdadeira.
Patrão:
Mas que raça de gente muquirana
me saiu esse trabalhador da cana!
ignora que a lei e a justiça
é da autoridade submissa
e quando jegue se mete a gato mestre
vai um pé pr’oeste e outro pro leste.
E assim no seu tema predileto
o diabo já passa por dileto
com esse tal de registro na carteira
que atrapalha, é burrice, é besteira.
Bóia-Fria:
Da justiça e da lei quem se aproxima
tá louvando o que vem de lá de cima
mas o luxo, o palácio, o desperdício
é com Deus que se ajusta cada vício.
Sei que a nossa caneta é o machado
mas poetas da popularidade
com sonetos e versos caprichados
já disseram por nós lá na cidade:
Que lutar por registro na carteira
será nossa causa verdadeira.
Patrão:
Não me traga cantores de protesto,
eta raça de gente que eu detesto,
só de ouvir este nome de política
eu já fico agastado e com azia,
sinto dores, a febre me arrepia
tenho a tosse a maleita e a raquítica,
pelo campo é o voto, a abertura,
já não tem mais pureza a criatura
com esse tal de registro na carteira
que atrapalha, é burrice, é besteira.
Bóia Fria:
Pois pra mim você tá é misturando
ter pureza com ser ignorante
tá chamando a burrice de elegante
a bobeira mental advogando.
Se eu estudo é lutando na peleja
da maneira de a vida melhorar
e com isso não vou abandonar
a pureza da alma sertaneja.
Desse modo o registro na carteira
será nossa causa verdadeira
MARCHA-PARTIDO (Política dos partidos)
Tom Zé
Com um beijo na vanguarda
e uma palmada na retaguarda
do bebê bumbum de anjo
e a política
petife patifo patifa patifa patifafafá
E o PMDB padece patifa patifa fafá
no colo do PDS patifa patifa fafafá
o PTB percebeu patifa patifa fafafá
mas o PDT quer deter
se apetece ao PT ter poder
pode ser, pode não ser
Segura o pé, neném
porque na política do amor
só tem sufrágio direto
aqui também quem decide a eleição
é o voto do analfabeto.
FIGURA NACIONAL
Tom Zé
Deram parte ao delegado
que eu era filho vadio
semana que eu não trabalhava
sustentava mulé com cinco fio.
O delegado me intimou
pra eu ir na delegacia:
fui prestar depoimento
daquilo que eu não sabia.
Mas seu doutor eu tenho tanta profissão
que já não sei negar
inventor, industrial até cirurgião
a língua do meu canivete opera apendicite
seu doutor, em muita gente que não presta
fiz intervenção.
Vou lhe contar
no fabrico de bonecos sou industrial
mas vosmecê guarde segredo pela caridade
pois eu atendo em domicílio na sociedade.
E como inventor
eu me orgulho porque já
honrei a memória de Santos Dumont.
Inventei um maquinário
ainda lá na minha terra
que fabricava nota de cinqüenta mil cruzeiros
mais bem-feitas que as da Casa da Moeda.
Eu sei que quem rouba um é moleque,
aos dez promovido a ladrão,
se roubar cem já passou de doutor,
e dez mil é figura nacional.
E se roubar oitenta milhões
é a diplomacia internacional
a boa vizinhança e outras tranças.
É que na profissão de ladrão
injustiça e preconceito
dá chuva pra inundação
pra alguns fama e respeito
pra outros a maldição,
pois o tamanho do roubo
faz a honra do ladrão.
E é por isso que eu só vou
para o xadrez, seu delegado
se o senhor trouxer primeiro
toda classe para o meu lado.
Mas neste dia de aflição
não vai ter prisão no mundo
pra caber a multidão
DÓLAR
Tom Zé
Porque como um grande chefe de família,
como um respeitado,
direito e distinto chefe de família
ele soube sempre encaminhar
seus filhos para a glória.
Glória, glória, glória eterna.
Mas aguardando aquele tal
de dia do Juízo
que tá escrito naquele livrinho preto
— será que aquilo é verdade,
será que é mentira?
Aqui na terra, que tá valendo
foi ensinando os meninos
a juntar muito dólar
dólar, dólar, dólar na terra.
Ensinou-lhes bem cedo
que a honra
todos devem cultivar
entretanto ao tomar decisões
ela nunca deve atrapalhar.
Mostrou que as boas ações
a causa justa e que é nobre
convive é com os milhões.
E tudo isso ensinou
com poucas palavras e
muitas ações
VÁ TOMAR
Tom Zé (primeira versão, 1.980)
Meta sua grandeza
no banco da esquina,
vá tomar no verbo
seu filho da letra
meta sua usura
na multinacional
vá tomar na virgem
seu filho da cruz.
Meta sua moral,
regras e regulamentos
escritórios e gravatas
sua sessão solene.
Pegue e junte tudo
passe brilhantina
enfie, soque, meta
no tanque de gasolina.
MINHA CARTA
Tom Zé
Eu preciso mandar notícias
pro coração do meu amor
me cunzinhar
pro coração do meu amor
me refazer
me sonhar, me ninar, me comer,
Me cunzinhar
como um peru bem gordo
me cunzinhar
como um garrote arrepiado
um casal de pombas
que saiu da sombra.
Me cunzinhar
como um bezerro santo
canário preso
pra limpar o canto
luxa no alpiste
mas o trinado é triste.
Eu escrevo minha carta
num papel decente
quem se sente
quem se sente com saudade
não economiza
martiriza
Martiriza o pensamento
eu digo no papel
que o anel
no anel do pensamento
andei duzentas léguas
minha égua
minha égua esquipando
o peito me sacode,
cada golpe.
Nesse golpe do galope
que o envelope engole
cada gole
cada gole da lembrança
vale um tesouro
é besouro
é besouro que se bate
sempre na vidraça
quando passa
quando passa em pensamento
volta na saudade
toda tarde.
Eu preciso mandar
mandar notícia.
Ai, ai, ai, ui (repete)
(UI!) VOCÊ INVENTA
Tom Zé / Odair Cabeça de Poeta
Falado: Você inventa o remédio
e eu invento a doença
você inventa a corda
e eu invento o pescoço.
Você inventa “grite!”
eu invento “ai!”
você inventa “chore!”
eu invento “ui!”.
Você inventa o luxo
eu invento o lixo
você inventa o amor
eu invento a solidão.
Você inventa Deus
e eu invento a fé
você inventa lei
e eu invento a obediência.
Você inventa o trabalho
e eu invento as mãos
você inventa o peso
e eu invento as costas.
Você inventa a outra vida
e eu invento a resignação
você inventa o pecado
e eu fico aqui no inferno.
Meu Deus, no inferno
Valha-me, Deus.
Com Defeito de Fabricação (1998)
Luaka Bop/wea – 1998 – Trama -1999
Luaka Bop/ WEA, Setembro 1998
Edição Brasileira pela Gravadora TRAMA – 1999
APCA 98 – Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte – Música Popular
Escolhido pelo The New York Times como um dos 10 melhores discos de 1998.
“… um disco delicioso de se ouvir, no qual os efeitos de sua inquietação transculturalista não trazem os defeitos da empolada erudição. “Com Defeito…” é um disco lúcido e lúdico.”
Tatiana Lima – A Tarde
“De célula a célula vai construindo um painel fragmentário da errática vida brasileira.”
Luís Antonio Giron – Gazeta Mercantil
Ficha Técnica:
Defeito de Fabricação
O Terceiro Mundo tem uma crescente população. A maioria se transforma em uma espécie de “andróides”, quase sempre analfabetos e com escassa especialização para o trabalho.
Isso acontece aqui nas favelas do Rio, São Paulo e do Nordeste do país.E em toda a periferia da civilização.
Esses andróides são mais baratos que o robô operário fabricado em Alemanha e Japão.
Mas revelam alguns “defeitos” inatos, como criar, pensar, dançar, sonhar; são defeitos muito perigoso para o Patrão Primeiro Mundo.
Aos olhos dele, nós, quando praticamos essas coisas por aqui, somos “andróides” COM DEFEITO DE FABRICAÇÃO.
Pensar sempre será uma afronta.
Ter idéias, compor, por exemplo, é ousar. No umbral da História, o projeto de juntar fibras vegetais e criar a arte de tecer foi uma grande ousadia. Pensar sempre será.
A Estética do Plágio
A Estética de Com Defeito de Fabricação re-utiliza a sinfonia cotidiana do lixo civilizado, orquestrada por instrumentos convencionais ou não: brinquedos, carros, apitos, serras, orquestra de Hertz, ruído das ruas, etc. , junto com um alfabeto sonoro de emoções contidas nas canções e símbolos musicais que marcaram cada passo da nossa vida afetiva. A forma é dançável, rítmica, quase sempre A-B-A. Com coros, refrões e dentro dos parâmetros da música popular.
O aproveitamento desse alfabeto se dá em pequenas “células”, citações e plágios. Também pelo esgotamento das combinações com os sete graus da escala diatônica (mesmo acrescentando alterações e tons vizinhos) esta prática desencadeia sobre o universo da música tradicional uma estética do plágio, uma estética do arrastão (**).
Podemos concluir, portanto, que terminou a era do compositor, a era autoral, inaugurando-se a Era do Plagicombinador, processando-se uma entropia acelerada.
** Arrastão: Técnica de roubo urbano, inaugurada em praias do Rio de Janeiro. Um pequeno grupo corre violentamente através de uma multidão e “varre” dinheiro, anéis, bolsas, às vezes até as roupas das pessoas.
1. Defeito1: O GENE 2:00
2. Defeito2: CURIOSIDADE 4:12
3. Defeito3: POLITICAR 2:37
4. Defeito4: EMERÊ 3:09
5. Defeito5: O OLHO DO LAGO 2:04
6. Defeito6: ESTETICAR 2:53
7. Defeito7: DANÇAR 2:18
8. Defeito8: ONU, ARMA MORTAL 1:04
9. Defeito9: JUVENTUDE JAVALI 2:47
10. Defeito10: CEDOTARDAR 1:10
11. Defeito11: TANGOLOMANGO 2:51
12. Defeito12: VALSAR 1:12
13. Defeito13: BURRICE 2:33
14. Defeito14: XIQUEXIQUE 5:25
1. Defeito1: O GENE
(Tom Zé / Pedro Braz)
A gente já mente no gene
A mente do gene da gente
Faça suas orações
Uma vez por dia
Depois mande a consciência
Junto com os lençóis
Pra lavanderia
Arrastão de Santo Agostinho
2. Defeito2: CURIOSIDADE
(Tom Zé / Gilberto Assis)
Quem é que tá botando dinamite
Na cabeça do século ?
Quem é que tá botando tanto piolho
Na cabeça do século ?
Quem é que tá botando tanto grilo
Na cabeça do século ?
Quem é que arranja um travesseiro
Pra cabeça do século ?
Pra cabeça do século ?
Arrastão de Alfred Nobel e de sua dinamite
3. Defeito3: POLITICAR
(Tom Zé)
Filha da prática
Filha da tática
Filha da máquina
Essa gruta sem-vergonha
Na entranha
Não estranha nada bis
Meta sua grandeza
No Banco da esquina
Vá tomar no Verbo
Seu filho da letra
Meta sua usura
Na multinacional
Vá tomar na virgem
Seu filho da cruz.
Meta sua moral
Regras e regulamentos
Escritórios e gravatas
Sua sessão solene.
Pegue, junte tudo
Passe vaselina
Enfie, soque, meta
No tanque de gasolina.
Arrastão de Rimsky Korsakov e do músico anônimo que toca na noite paulistana
4. Defeito4: EMERÊ
(Tom Zé / Zé Miguel Wisnik)
emeremê emeremê
emeremê emeremê
Arrastão dos cantos de trabalho de uma escravatura anterior, conforme o Brasil bucólico que as esquerdas queriam
5. Defeito5: O OLHO DO LAGO
(Cid Campos)
No lago do olho
De lado no lodo
De olho no lado
No lodo do lago
Lágrima afunda
Profunda lama
Olho
Lodo
Lado
Lago
Lama
Arrastão da Poesia Concreta
6. Defeito6: ESTETICAR (Estética do Plágio)
(Tom Zé / Vicente Barreto / Carlos Rennó)
Pense que eu sou um caboclo tolo boboca
Um tipo de mico cabeça-oca
Raquítico típico jeca-tatu
Um mero número zero um zé à esquerda
Pateta patético lesma lerda
Autômato pato panaca jacu
Penso dispenso a mula da sua ótica
Ora vá me lamber tradução inter-semiótica
Se segura milord aí que o mulato baião
(tá se blacktaiando)
Smoka-se todo na estética do arrastão
Ca esteti ca estetu
Ca esteti ca estetu
Ca esteti ca estetu
Ca esteti ca estetu
Ca estética do plágio-iê
Pensa que eu sou um andróide candango doido
Algum mamulengo molenga mongo
Mero mameluco da cuca lelé
Trapo de tripa da tribo dos pele-e-osso
Fiapo de carne farrapo grosso
Da trupe da reles e rala ralé
Arrastão dos baiões da roça. Espinha dorsal
7. Defeito7: DANÇAR
(Tom Zé)
Dançar escreve
Um traço leve
O verbo de Deus be-a-bá
A pele tensa
Papel-imprensa
O pergaminho do jaguar
Para pisar
Golpes de ar
Desambaraçam-se linhas
Alinhavar
Paixões e ais
Diagonais agonias
Ô menina que dança se
Você for
PernambuCatarinAmaraliNatal
Também vou
Ô menina que dança se
Você for
Que’sse cané de ou certá namô
Também vou
Andar com meu pé eu vou
Que o pé se acostuma a dançar
Arrastão de Jorge Luís Borges, Caetano Veloso e Gilberto Gil
8. Defeito8: ONU, ARMA MORTAL
(Tom Zé / André Abujamra)
No reco-reco U.N. ONU
Teleco-teco ONU U.N.
Nesse pagode U.N. ONU
Naquele rock ONU U.N.
Uma ONU pra manter a paz
E a turma lá, que turma,
Fabrica armas mortais
Bis Fuzil, metralhadora, cruzador
No squindô squindô dô
Bazuca, bomba, tanque arrasador
No squindô squindô dô
Arrastão de Martinho da Vila e do estilo pagode
9. Defeito 9: JUVENTUDE JAVALI
(Tom Zé)
Vinho das pernas abertas
Molha o altar das ofertas
Gritos, esperma e algema
Fúria de pura alfazema
Lua no quarto do cio – oh!
Tímida fruta, nudez – pudor
Tênis e tetas, licor – cor
Medo, cu doce, querer – pavor
Se na juventude já vem tudo javali
O afoito desse coito é coisa que já lá vi, la vi, la vi
Baco, buraco, curva, uva que já colhi
Meta-micose coça, cada um cuide si de si, de si
Arrastão de Tchaikovsky (concerto para violino em ré maior) e das antífonas e do falsobordão da Idade Média.
10. Defeito10: CEDOTARDAR
(Moacir Albuquerque /Tom Zé)
Tenho no peito tanto medo,
é cedo
Minha mocidade arde,
é tarde
Se tens bom-senso ou juízo,
eu piso
Se a sensatez você prefere,
me fere
Vem aplacar esta loucura,
ou cura
Faz deste momento terno,
eterno
Quando o destino for tristonho,
um sonho
Quando a sorte for madrasta,
afasta
Não, não é isto que eu sinto,
eu minto
Acende essa loucura
sem cura
Me arrebata com um gesto
do resto
Não fale, amor, não argumente
mente
Seja do peito que me dói,
herói
Se o seu olhar você me nega
me cega
Deixa que eu aja como louco,
que é pouco
No mais horroroso castigo,
te sigo
Arrastão dos trovadores provençais e de seus ecos
11. Defeito11: TANGOLOMANGO
(Tom Zé / Adoniram Barbosa)
Rico chega na dança
de braço dado
O diabo enche a pança
de braço dado
O olho grande e a ganância
de braço dado
Ao dólar reverência
todo arriba-saiado
Aos juros, esconjuros
todo calça-arriado
Isso é o tangolomango
O rico hoje, coitado,
É preso, todo cercado
Arrodeado de grades
Porteiroguarda e alarme
Arranje, Senhor, um porto
Que ele não ‘steja acuado
Com um pouco de conforto
Pra ele estar sossegado
Mas a verbá, a verbé, a verbí
A verborrologia dessa politimerdia
É o tangolomango
E a cárdio-filosoporria
É o tangolomango
E é nesse tangolomango
Que me voy pal pueblo
Arrastão do estilo musical latino e da reductio ad absurdum do Sermão do Padre Antonio Vieira para São Benedito
12. Defeito12: VALSAR
(Tom Zé )
Toma-me valsa
Nua e descalça
Sê em meu corpo
Deus ou José
Um dois três, sim
Senhor, oh não,
Dois três, pé-ante-pé
Um dois serei
De vinho e pão
Maria em Nazaré
Toma-me valsa …
Arrastão de Ernesto Nazareth, Zequinha de Abreu e da música pós-barroca e renascentista italiana, plagiadas pela assim chamada “música popular brasileira”
13. Defeito13: Burrice
(Tom Zé)
Veja que beleza
Em diversas cores
Veja que beleza
Em vários sabores
A burrice está na mesa
Veja que beleza!
Refinada, poliglota
Anda na direita
Anda na esquerda
Mas a consagração
Chegou com o advento
Da televisão
Da televisão
Da televisão
Veja que beleza…
Ensinada nas Escolas
Universidades e principalmente
Nas academias de louros e letras
Ela está presente
Ela está presente
Veja que beleza…
(DISCURSO POLÍTICO)
Senhoras e senhores,
Senhoras e senhores,
Se neste momento solene não lhes proponho um feriado comemorativo para a sacrossanta glória da burrice nacional, é porque todos os dias, graças a Deus, do Oiapoque ao Chuí dos pampas aos seringais, ela já é gloriosamente festejada, gloriosamente festejada.
Arrastão de Flaubert, no ”Sottisier” de “Bouvard et Pécuchet” e da música caipira
14. Defeito14: Xiquexique
(Tom Zé / José Miguel Wisnik )
Eu vi o cego lendo a corda da viola
Cego com cego no duelo do sertão
Eu vi o cego dando nó cego na cobra
Vi cego preso na gaiola da visão
Pássaro preto voando pra muito longe
E a cabra cega enxergando a escuridão
Eu vi a lua na cacunda do cometa
Vi o zabumba e o fole a zabumbá
Eu vi o raio quando o céu todo corisca
E o triângulo engulindo faiscá
Vi a galáctea branca na galáctea preta
Eu vi o dia e a noite se encontrá
Eu vi o pai, eu vi a mãe, eu vi a filha,
Vi a novilha que é filha da novilhá
Eu vi a réplica da réplica da bíblia
Na invenção dum cantador de ciençá
Vi o cordeiro de Deus num ovo vazio
Fiquei com frio, te pedi pra me esquentá
Eu vi o cego lendo a corda da viola
Cego com cego no duelo do sertão
Eu vi o cego dando nó cego na cobra
Vi cego preso na gaiola da visão
A asa branca a asa branca a asa branca
E a cabra cega enxergando a escuridão
E-um e-um e-um
Baião de dois
De bim-bom
Baião de um
Arrastão do fole da sanfona de Osvaldinho do Acordeon e de todos os sanfoneiros do Nordeste
Ficha Técnica:
Músicos:
Tom Zé – voz, violão, bochexaxado e bexiguinha no dente
Dino Baroni – violão
Marcos di Santis – trombone
Gilberto Assis – baixo, violão, bandolin, voz, rabeca, baixolão
Jarbas Mariz – percussão, violão de 12 cordas, bandolin, garrafas e voz.
Marco Prado – bongô, violão de 10 cordas
Lauro Léllis – bateria
Cristina Carneiro – voz, teclados e garrafas
Luanda – voz
Nilza Maria – voz
Tom Zé e Gilberto Assis – arranjos
Músicos Convidados :
Em “O Gene” :
Michael Sauri – violões ; Gary Negbaur – wurlitzer ; Bryan Martin – baixo, voz de fundo e participação nos arranjos ; Yianni Papodopoulos – programação ; Goran Petrovic – participação nos arranjos.
Em “Curiosidade”:
Yianni Papodopoulos – programação ; Goran Petrovic – violões, bandolin, voz de fundo e participação nos arranjos ; Bryan Martin – Wurlitzer, baixo, voz de fundo e participação nos arranjos.
Em “Politicar”:
Jarbas Mariz – vocais de contraponto; John Ragusa – flauta; Yianni Papodopoulos – programação; Jimmy Daniel – baateria e tamborim; Bryan Martin e Goran Petrovic – participação nos arranjos.
Em “Emerê”:
Siba – rabeca; Zé Miguel Wisnik – teclados; Paulo Tatit – pilão.
Em “O Olho do Lago”:
Yianni Papodopoulos – programação ; Gary Negbaur – piano e participação nos arranjos; Bryan Martin – baixo e participação nos arranjos
Em “Esteticar”:
Vicente Barreto- violão; Dimitrios Maragkos – sanfona
Em “Dançar”:
David Byrne – guitarra; Michael Sauri – violões; Jimmy Daniel – bata
Em “ONU, Arma mortal”:
André Abujamra – voz
Em “Juventude Javali”:
Marle Oliveira canta a introdução
Em “Valsar”:
Marle Oliveira – voz
Em “Cedotardar”:
Dimitrios Maragkos – acordeão
Em “Xiquexique”: Arnaldo Antunes, Zé Miguel Wisnik, Paulo Tatit e Ná Ozzetti – vozes; Jarbas Mariz – guitarra; Toninho Ferragutti – sanfona; Marcos Suzano – percussão; Neto- Fontes (Bochexaxado e Bexiguinha no Dente).
Produção – Bryan Martin
Produção brasileira – André Abujamra e Gilberto Assis
Engenharia – Adriano Cintra – Job Studio – Brasil
Gravações adicionais – Bryan Martin – Excello Studios – Brooklin, NY
Mixagens – Bryan Martin com alguns efeitos de David Byrne – Kampo Audio, NY
“Emerê” e “Xiquexique” produzidos por José Miguel Wisnik – estúdio Rosa Celeste – São Paulo, Brasil
Participação nos arranjos – Paulo Tatit e Alê Siqueira
Orientação e Direção – David Byrne e Yale Evelev
Direção de arte – Chris Capuozzo, Peter Girardi – Funny Garbage
Ilustrações – Chris Capuozzo – Funny Garbage
Tradução para o Inglês no libretto original – Alex Ladd
Consultoria Geral – José Miguel Wisnik
Pesquisa – Tatiana Lima e Marcos Botelho
Pesquisa Sociológica – Helena Abramo
Orientação espiritual – Melania
Dedicado a :
Luiz Tatit, compositor paulista, por suas canções e à minha esposa, Neusa.
Agradecimentos Especiais:
Elifas Andreato, Zuza Homem de Melo, Carlos Callad, Roberto Santana, Alfredo Moura, Grupo Corpo
——-
Arnaldo Antunes – cortesia de BMG Brasil Ltda.
Tom Zé, Pedro Braz, José Miguel Wisnik, Gilberto Assis, Cid Campos, Vicente Barreto e Moacir Albuquerque – publicados pela editora Arlequim, Brasil (EMI)
Carlos Rennô publicado pela editora Gegê, Brasil (EMI)
André Abujamra publicado pela Editora Spin, Brasil (ASCAP)
Adoniran Barbosa publicado pela editora Brasil, Brasil (EMI)
Edição Brasileira pela Gravadora TRAMA – 1999
PARABELO (1997)
Grupo Corpo, 1997
Fabricado por Microservice
Apoio Ministério da Cultura, Pronac e Ministério das Comunicações
Tom Zé e Zé Miguel Wisnik
Músicas:
1. Emerê 4:18
2. Emoremê 4:47
3. Assum branco 4:16
4. Baião velho 5:08
5. Uauá 3:00
6. Canudos 4:09
7. Bendegó 4:15
8. Cego com cego 4:09
9. Xiquexique 7:14
1. Emerê
(Tom Zé e Zé Miguel Wisnik) 67280218
Vozes: Tom Zé
Violão: Gilberto Assis
Rabeca: Siba
Teclado: Zé Miguel Wisnik
Pilão: Paulo Tatit
2. Emoremê
(Tom Zé e Zé Miguel Wisnik) 67280226
Vozes: Tom Zé, Zé Miguel Wisnik, Luanda, Nilza Maria
Bandolim: Jarbas Mariz
Guitarra: Marco Prado
Percussão: Marcos Suzano
3. Assum branco
(Tom Zé e Zé Miguel Wisnik) 67280161
Piano: Zé Miguel Wisnik
Violão: Gilberto Assis
Sanfona: Toninho Ferragutti
4. Baião velho
(Tom Zé e Zé Miguel Wisnik) 67280170
Vozes: Tom Zé, Zé Miguel Wisnik e Paulo Tatit
Violão, Baixolão, e Baixo: Gilberto Assis
Violão: Marco Prado
Rabeca: Siba
Percussão: Marcos Suzano
Fonte (serrote): Paulo Tatit
5. Uauá
(Tom Zé e Zé Miguel Wisnik) .67280234
Vozes: Luanda, Nilza Maria Fontes
(apito, gaita de chaveiro, garrafas): Gilberto Assis
6. Canudos
(Tom Zé e Zé Miguel Wisnik) 67280196
Bandolim:Jarbas Mariz
Guitarra: Marco Prado
Baixo: Gilberto Assis
Rabeca: Siba
Teclados: Zé Miguel Wisnik
Bateria:Lauro Léllis
Percussão: Marcos Suzano
Vozes: Luanda, Nilza Maria
7. Bendegó
(Tom Zé e Zé Miguel Wisnik) 67280188
Voz e assovios: Tom Zé
Violões: Paulo Tatit e Alê Siqueira
Guitarra: Marco Prado
Baixo: Gilberto Assis
Teclado: Zé Miguel Wisnik
Bateria: Lauro Lellis
Percussão: Marcos Suzano
8. Cego com cego
(Tom Zé e Zé Miguel Wisnik) 67280200
Vozes: Gilvanete Rocha Silva, Nà Ozzetti, Luanda, Nilza Maria, Tom Zé,
Zé Miguel Wisnik
Viola e Rabeca: Siba
Piano: Zé Miguel Wisnik
Fontes (cordas esfregadas, cincerros): Paulo Tatit, Alê Siqueira, Zé Miguel Wisnik
eu vi o cego lendo a corda da viola
cego com cego no duelo do sertão
eu vi o cego dando nó cego na cobra
vi cego preso na gaiola da visão
pássaro preto voando pra muito longe
e a cabra cega enxergando a escuridão
eu vi o pai eu vi a mãe eu vi a filha
via novilha que é filha da novilhá
eu vi a réplica da réplica da bíblia
na invenção dum cantador de ciençá
vi o cordeiro de deus num ovo vazio
fiquei com frio te pedi pra me esquentá
repete I
eu via a luz da luz do preto dos seus olhos
quando o sertão num mar de flor esfloresceu
sol parabelo parabelo sobre a terra
gente só morre para provar que viveu
eu vi o não eu vi a bala matadeira
eu vi o cão, fui nos óio e era eu
repete I
eu vi a lua na cacunda do cometa
vi a zabumba e o fole a zabumbá
eu vi o raio quando o, céu todo corisca
e o triângulo engulindo faiscá
via galáctea branca na galáctea preta
eu vi o dia e a noite se encontrá
9. Xiquexique
(Tom Zé e Zé Miguel Wisnik) 67280242
Vozes: Arnaldo Antunes, Nà Ozzetti, Luanda, Nilza Maria,
Tom Ze, Zé Miguel Wisnik, Paulo Tatit Sanfonas.: Toninho Ferragutti
Violão e Baixolão: Gilberto Assis
Bandolim: Jarbas Mariz
Guitarra: Marco Prado Percussão: Marcos Suzano
Fontes (bochexaxado, bexiguinha no dente): Tom Zé, Neto
eu vi o cego lendo a corda da viola
cego com cego no duelo do sertão
eu vi o cego dando nó cego na cobra
vi cego preso na gaiola da visão
pássaro preto voando pra muito longe
e a cabra cega enxergando a escuridão
eu vi a lua na cacunda do cometa
vi a zabumba e o fole a zabumbá
eu vi o raio quando o, céu todo corisca
e o triângulo engulindo faiscá
via galáctea branca na galáctea preta
eu vi o dia e a noite se encontrá
eu vi o pai eu vi a mãe eu vi a filha
via novilha que é filha da novilhá
eu vi a réplica da réplica da bíblia
na invenção dum cantador de ciençá
vi o cordeiro de deus num ovo vazio
fiquei com frio te pedi pra me esquentá
eu via a luz da luz do preto dos seus olhos
quando o sertão num mar de flor esfloresceu
sol parabelo parabelo sobre a terra
gente só morre para provar que viveu
eu vi o não eu vi a bala matadeira
eu vi o cão, fui nos óio e era eu
Créditos:
Arnaldo Antunes gentilmente cedido
pela BMG Brasil Ltda.
Piano acústico nas faixas Assum branco e Cego com cego
gravado no Estúdio Panorama – UNESP/FASM
Gravado no Estúdio Rosa Celeste, São Paulo ,
de janeiro a março de 1997
Produção musical com participação
na confecção dos arranjos:
Paulo Tatit e Ale Siqueira
Produção Executiva: Grupo Corpo
Agradecimentos:
Neusa Martins e Laura Vinci,
Guilherme Wisnik, grupo Mestre Ambrósio,
Márcio Soares, José de Siqueira e Silva,
D. Lina Tatit, Raulinda, Agostinha.
Foto Capa e Encarte:
José Luiz Pederneiras
Projeto Gráfico:
Lúcia Nemer e Guilherme Seara
Ficha Técnica:
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Música: Tom Zé e Zé Miguel Wisnik
Cenografia: Fernando Velloso e
Paulo Pederneiras
Figurino: Freusa Zechmeister
Iluminação: Paulo Pederneiras
THE HIPS OF TRADITION (1992)
OGODÔ ANO 2000 (Ogodô , Year 2.000)
Tom Zé
Ôôô
Ogodô
Ogodô ogodô, ogodô ogodô
Ôôô ogodô
Ogodô ogodô ogodô ogodô
Talac-tac-tac-tac tamborim
Teleco-teco-teco-teco violão
Toloc-toc-toc-toc agogô
Tô-lôc-tô twenty 00, twenty 00
A ciência excitada
Fará o sinal da cruz
E acenderemos fogueiras
Para apreciar a lâmpada elétrica.
The science in her trance
Will make the sign of cross
And we will light bonfires
To appreciate the eletric bulb.
Talac-tac…
Ogodõ…
SEM A LETRA “A” (Without The Letter “A”)
Tom Zé / Elifas Andreato
Without you we won´t even have
sadness
To lament.
Without you, no longing till death
Or even weeping
For there is no weeping
And love?
Love will disappear.
And love?
No one will remember to remember.
And love?
If it´s lost, no one will be moved to
move by a glance.
And love?
Empty word no one will make
Will make love
Will make love
Will make love
FEIRA DE SANTANA (Feira de Santana)
Tom Zé
Monday I´m heading up to Feira de Santana
Whoever wants to send a note
Or a package
A captivating letter
Street address
The name capitalized
To avoid mistakes
Or that destiny
Should come unshackled at a distance
Meticulous, my pleasure has a measure
Be here Monday before I leave
Monday I´m heading up to Feira de Santana
Inscribe your own address
Whitout a stumble
Perhaps your intended recipient
Has diet or simulated death
Retired or flown
On the phrasingof or fado
And I´ll be irritad
By a letter with no owner
Carriyng the aforesaid, pining with no place to rest
Knocking from door to door
Like a soul in penance
Monday I´m heading up to Feira de Santana
But if I bring back
That sorrowful misconnection
Of an unfilled mission
I´ll return your envelope
Intact, corrected and closed
I hate “I said, your saids”
and condemn all idle chatter
Monday I´m heading up to Feira de Santana
If that should come to pass
Wait for me here on the kitchen tiles
Seven weeks counting
From the month to come
I´m not written in disappearing ink
A man´s word may break
but it remains unchanged.
SOFRO DE JUVENTUDE (Suffer From Youth)
Tom Zé
I suffer from youth.
That danned thing.
when it´s almost ready,
It falls apart and fries.
dene the mouth of the Father
To discover for myself,
despair of myself in fear
Before every secret.
Oh my Father, the director and the honorable judge
Judge, judge, judge.
Threw me in the ditch
Where I hear:
Bone bone bone.
in sweet pleasures and in torture
In full orgasm,
That buzzard, that alighting
Prepares me,
Separates me
From the seed:
I hear, I hear, I hear
And cloak myself
In the plague
For the feast of the colossus.
TAÍ (There It Is)
Joubert de Carvalho
Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ah! meu bem, não faz assim comigo não
Você tem, você tem que me dar seu coração
Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ah! meu bem, não faz assim comigo não
Você tem, você tem que me dar seu coração
Essa história de gostar de alguém
Já é mania que as pessoas têm
Se me ajudasse Nosso Senhor
Eu não pensaria mais no amor
Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ah! meu bem, não faz assim comigo não!
Você tem, você tem que me dar seu coração!
There it is, I did everything to make you like me
Ai, my dear, don´t do me this way, don´t
You´ve got, you´ve got to give me your heart.
This tale of falling for someone
Is some mania that people have
If our Lord would help me
I would no longer think of love.
There it is
IRACEMA (Iracema)
Adoniran Barbosa
Iracema, I always said
Be careful when you cross the street
I told you, but you didn´t listen
Iracema, you crossed against traffic.
FLIPERAMA (Fliperama)
Tom Zé
Flip, the crazy commander
With his little coin
Wants to make war
On earth.
He offers a truck,
And his belt
That never fails in battle,
And in his roon tightens with her
The third washer
Of love, the violent one.
With the lollipop of science ááá
With the lollipop of science ááá
For the lollipop of science áá
For the lollipop of science
I beseedh
O AMOR É VELHO – MENINA (Love Is An Old Little Girl)
Tom Zé
Love is old old old
And a little girl.
Love is a traill
Of sheets and blame,
Fear and the marveleus
Time, life, the reading of it,
Walk along the ground.
Love, airplanes
Love mocks the years.
Love walksamong tangos
Along the gypsy trail.
In the ocean´s vault,
Love is a well
Where trash and precious stones are tossed.
Prayers, sacrifices, betrayals.
TATUARAMBÁ (Tatuarambá)
Tom Zé
To expose the hips of tradition
To the burning iron of ads
É Tatuarambá
Ô, Ô, Ô, Ô Make naked the body in samba bá ba
Ê, Ê, Ê, Ê To defile the body in samba
Hold the Samba´s ass, that´s it, it´s shown up, Ê, ô, ô, ô, ô
Ê, Ê, Ê, Ê bring the body to the brushes
of eletronics, ô, ô, ô
Tatuarambá
Ô, Ô, Ô, Ô to wear the poem-commercial
Make naked the body in samba
Ê, Ê, Ê,Ê bring the body to be tattooed
Defile the ass of samba
Hold the samba´s ass, that´s it, it´s shows up, ô!
Êôôôô for the tattooing of the antennas, the antennas
Flesh isn´t sin
Flesh isn´t forbidden
Flesh is no lie
Ê, lead the body to the brushes
Smear the body to “round and round the mulberry bush”
Lick the body on “we all fall down”
Flesh is no lie
Flesh isn´t frobidden
Flesh isn´t sin
To expose the hips of tradition
To the burningiron of ads
Tickling traditions
Itching, scratching the tradition
JINGLE DO DISCO (Jingle Of The Record)
Tom Zé / Júlio Fischer
Come on, buy de record.
It´s a very patient work;
Tom Zé! Tom Zé!
Every calm revolution
under a laser, hissless,
Tom Zé, Tom Zé
Shall grant you relaxation,
high spirits and happiness!
Tom Zé
LUA – GIRA – SOL (Moon – Turn – Flower)
Tom Zé
Grape moon
New moon
Bride moom, oh moonlight
Silk moom
Arpeggiate me
Palm, oh moonlight
Oh sunflower, whirl moonlight
Oh sunflower, whirl moonlight
Oh sunflower, whirl moonlight
turn turn sunflower, turn moonlight
Turn
MULTIPLICAR-SE ÚNICA (Multiply Into One)
Tom Zé
Every song wants to multiply
In the multitude become one
Simple pleasure
Of resounding
In air
Sound of a voice
Sing for us
Vocal chords
Without home port
Bonds or knots
O PÃO NOSSO DE CADA MÊS (Our Mothly Bread)
Tom Zé
Turug – tug – I´ll pass
Turug – tug – this decade
Turug – tug – in a very bourgeois hen house
Turug – tug – eating
Turug – tug – my monthly portion of mass culture
Oh oh sitting on the living room sofa
In Januaries, I´ll eat New Years
In Februaries, I´ll eat Carnivals
And in Marches, I´ll eat a mother-in-law´s presents, oh baby,
Oh oh sitting on the living room sofa
In April, it´s an Easter present
And in Mays, I´ll eat a present for mother
And in junes, I´ll eat the lover´s presents, oh baby.
Oh oh sitting on living room sofa…
AMAR (To Love)
Tom Zé
To love, to love
Allow the heart
To reason
to only, to only, to only, to live only
To be
Skin to the other
And have and have and have
Bitterness immeasurable without having
A reason why nor a reason fo weaving
And be
Like a little wand
That, scratching the earth,
Scatters, scatters in the sky
Beatles by the bushel
in paper dreams
Because in life love is bile
and honey
All up so high
All down so low
All so quiet
All up so high
All down so low
All…
BRAZILIAN CLASSICS – THE BEST OF TOM ZÉ (1990)
MÃ
Tom Zé
Batiza esse neném
batiza esse neném
Batizado bom
batizado bom
Ê, os sambas e arcanjos
ô, a rua a arruaça
ê, a mão da madrugada
ô, a lua enluarada
ê, o seio, sua sede
ê, mã mã mã mã mã mã
O RISO E A FACA
Tom Zé
Quero
ser o riso
e o dente,
quero
ser o dente
e a faca,
quero
ser a faca
e o corte
em um só beijo
vermelho.
Fiz meu berço
na viração,
eu só descanso
na tempestade,
só adormeço
no furacão.
Eu sou a raiva
e a vacina,
procura
de pecado
e conselho.
Espaço
entre a dor
e o consolo,
a briga
entre a luz
e o espelho.
Fiz meu berço
na viração
eu só descanso
na tempestade,
só adormeço
no furacão.
TOC
Tom Zé
Instrumental
TÔ
Tom Zé / Elton Medeiros
TÔ BEM DE BAIXO PRÁ PODER SUBIR
TÔ BEM DE CIMA PRÁ PODER CAIR
TÔ DIVIDINDO PRÁ PODER SOBRAR
DISPERDIÇANDO PRÁ PODER FALTAR
DEVAGARINHO PRÁ PODER CABER
BEM DE LEVE PRÁ NÃO PERDOAR
TÔ ESTUDANDO PRÁ SABER IGNORAR
EU TÔ AQUI COMENDO PARA VOMITAR
TÔ TE EXPLICANDO
PRÁ TE CONFUNDIR
TÔ TE CONFUNDINDO
PRÁ TE ESCLARECER
TÔ ILUMINANDO
PRÁ PODER CEGAR
TÔ FICANDO CEGO
PRÁ PODER GUIAR
DEVAGARINHO PRÁ PODER RASGAR
OLHO FECHADO PRÁ TE VER MELHOR
COM ALEGRIA PRÁ PODER CHORAR
DESESPERADO PRÁ TER PACIÊNCIA
CARINHOSO PRÁ PODER FERIR
LENTAMENTE PRÁ NÃO ATRASAR
ATRÁS DA VIDA PRÁ PODER MORRER
EU TÔ ME DESPEDINDO PRÁ PODER VOLTAR
UM OH! E UM AH!
Tom Zé
Oh, oh, oh, oh, oh, oh, oh
Oh, ah, oh, ah, oh, ah, oh, ah, oh, ah, oh, ah, oh
Paracatuzun, e, e, e
Paracatuzun, e, e, e
Paracatuzun, e, e, e
Paracatuzun, e, e, e
Paracatuzun, e, e, e
Paracatu… oh, oh, oh, oh, oh, oh, oh
Oh, ah, oh, ah, oh, ah, oh, ah, oh, ah, oh, ah, oh
Paracatuzun, e, e, e
Paracatuzun, e, e, e
Paracatuzun, e, e, e
Paracatuzun, e, e, e
Paracatuzun, e, e, e
Paracatuzum… oh!
UI! (VOCÊ INVENTA)
Tom Zé / Odair Cabeça de Poeta
VOCÊ INVENTA: GRITE!
EU INVENTO: AI!
VOCÊ INVENTA: CHORE!
EU INVENTO: UI!
VOCÊ INVENTA O LUXO
EU INVENTO O LIXO
VOCÊ INVENTA O AMOR
EU INVENTO A SOLIDÃO
VOCÊ INVENTA A LEI
E EU INVENTO A OBEDIÊNCIA
VOCÊ INVENTA DEUS
E EU INVENTO A FÉ
VOCÊ INVENTA O TRABALHO
E EU INVENTO AS MÃOS
VOCÊ INVENTA O PESO
E EU INVENTO AS COSTAS
VOCÊ INVENTA A OUTRA VIDA
EU INVENTO A RESIGNAÇÃO
VOCÊ INVENTA O PECADO
E EU FICO AQUI NO INFERNO – VALHA-ME DEUS, NO INFERNO.
CADEMAR
Tom Zé / Augusto de Campos
Ô ô cadê mar
ô ô cadê
ôôô cadê mar
ia que não vem
ô ô cadê mar
ô ô cadê
ôôô cadê ma
ria que não vem.
SÓ (Solidão)
Tom Zé
Solidão
que poeira leve
solidão
olhe a casa é sua
o telefo…
e no meu descompasso
o risso dela
Na vida quem perdeu o telhado
em troca recebe as estrelas
pra rimar até se afogar
e de SOluço em SOluço esperar
O SOl que SObe na cama
e acende o lenÇOl
SÓ lhe chamando
SOlicitando
SOlidão
que poeira leve…
Se ela nascesse rainha
se o mundo pudesse agüentar
os pobres ela pisaria
e os ricos iria humilhar.
Milhares de guerras faria
pra se deleitar
por isso eu prefiro
chorar sozinho.
solidão
que poeira leve
solidão
olhe a casa é sua
o telefone tocou, foi engano
solidão
que poeira leve
solidão
olhe a casa é sua
e no meu descompasso
descompasso
o riso dela
HEIN?
Tom Zé / Vicente Barreto
ELA DISSE NEGO
NUNCA ME DEIXE SÓ
MAS EU FIZ DE CONTA
QUE NÃO OUVI, HEIM?
ELA DISSE: – ORGULHOSO
TU INDA VAI VIRAR PÓ
MAIS EU INSISTI
DIZENDO HEIM?
ELA ARREPIOU
E PULOU E GRITOU
ESTE TEU – HEIM? – MULEQUE
JÁ ME DEU – HEIM? – DESGOSTO
ODIOSO – HEIM? COM JEITO
EU TE PEGO – UI! BEM FEITO
PRÁ RUA – SAI! – SUJEITO
QUE EU NÃO QUERO MAIS TE VER
EU DEI CASA E COMIDA
O NEGO FICOU BESTA
TÁ QUERENDO EXPLORAR
QUER ME JUDIAR
ME DESCARTAR
AUGUSTA, ANGÉLICA E CONSOAÇÃO
Tom Zé
Augusta, graças a deus,
Graças a deus,
Entre você e a angélica
Eu encontrei a consolação
Que veio olhar por mim
E me deu a mão.
Augusta, que saudade,
Você era vaidosa,
Que saudade,
E gastava o meu dinheiro,
Que saudade,
Com roupas importadas
E outras bobagens.
Angélica, que maldade,
Você sempre me deu bolo,
Que maldade,
E até andava com a roupa,
Que maldade,
Cheirando a consultório médico,
Angélica.
Augusta, graças a deus,
Entre você e a angélica
Eu encontrei a consolação
Que veio olhar por mim
E me deu a mão.
Quando eu vi
Que o largo dos aflitos
Não era bastante largo
Pra caber minha aflição,
Eu fui morar na Estação da Luz,
Porque estava tudo escuro
Dentro do meu coração.
DÓI
Tom Zé
Maltratei,
sim, maltratei demais
e machuquei,
quei, quei,
quei, quei,
meu coração que bate
que bate calado
que bate calado
que bate, bate
e dói, dói, dói.
que bate e dói,
dói.
Dói, amor
dói com d
ô dói E dói
amor ô
dói e dói.
COMPLEXO DE ÉPICO
Tom Zé
Todo compositor brasileiro
é um complexado.
Por que então esta mania danada,
esta preocupação
de falar tão sério,
de parecer tão sério
de ser tão sério
de sorrir tão sério
de se chorar tão sério
de brincar tão sério
de amar tão sério?
Ai, meu Deus do céu,
vai ser sério assim no inferno!
Por que então esta metáfora-coringa
chamada “válida”,
que não lhe sai da boca,
como se algum pesadelo
estivesse ameaçando
os nossos compassos
com cadeiras de roda, roda, roda?
E por que então essa vontade
de parecer herói
ou professor universitário
(aquela tal classe
que ou passa a aprender com os alunos
— quer dizer, com a rua —
ou não vai sobreviver)?
Porque a cobra
já começou
a comer a si mesma pela cauda,
sendo ao mesmo tempo
a fome e a comida.
VAI (Menina amanhã de manhã)
Tom Zé
Menina, amanhã de manhã
quando a gente acordar
quero te dizer
que a felicidade vai
desabar sobre os homens
vai
desabar sobre os homens
vai
desabar sobre os homens
Menina, ela mete medo
menina, ela fecha a roda
menina, não tem saída
de cima, de banda ou de lado.
Menina, olhe pra frente
Oh! menina, todo cuidado,
não queira dormir no ponto,
seguro o jogo, atenção.
(De manhã)
Menina, a felicidade
é cheia de praça,
é cheia de traça
é cheia de lata
é cheia de graça.
Menina, a felicidade
é cheia de pano
é cheia de peno
é cheia de sino
é cheia de sono
Menina, a felicidade
é cheia de ano
é cheia de Eno
é cheia de hino
é cheia de ONU.
Menina, a felicidade
é cheia de an
é cheia de en
é cheia de in
é cheia de on
MENINA A FELICIDADE
É CHEIA DE A
É CHEIA DE E
É CHEIA DE I
É CHEIA DE O
MENINA A FELICIDADE
É CHEIA DE A
É CHEIA DE E
é cheia de i
é cheia de o
é cheia de a
é cheia de e
é cheia de i
cheia de a
cheia de e
cheia de i
cheia de o
NAVE MARIA
Tom Zé
Dudu, bidu, bidu, bidu, bi
mama água
Dudu, bidu, bidu,
papá, dá, dá-á
Quando eu cheguei das estrelas
entrei na terra
por uma caverna
chamada Nascer
E eu era uma nave
uma ave da ave-maria
e como uma fera
que berra
entrei
na atmosfera
E cuspido, espremido,
petisco de visgo,
forçando a passagem
pela barreira,
sangrando, rasgando,
subindo a ladeira,
orgasmo invertido,
gritei quando vi:
já estava respirando.
MÃE (Mãe solteira)
Tom Zé
CADA PASSO
CADA LÁGRIMA SOMADA
CADA PONTO DO TRICÔ
SEU SILÊNCIO DE ARANHA
VOMITANDO PACIÊNCIA
PRÁ TECER O SEU DESTINO
CADA BEIJO IRRESPONSÁVEL
CADA MARCA DO CIÚME
CADA NOITE DE PERDÃO
O FUTURO NA ESQUINA
E A CLAREZA REPENTINA
DE ESTAR NA SOLIDÃO
OS VIZINHOS E PARENTES
A SOCIEDADE ATENTA
A MORAL COM SUAS LENTES
COM DESESPERADA CALMA
SUA DOR CALADA E MUDA
CADA ÂNSIA FOI JUNTANDO
PREPARANDO A ARMADILHA
TEIAS, LINHAS E AGULHAS
TUDO CONTRA A SOLIDÃO
PRÁ PODER TRAZER UM FILHO
CUJA MÃE SÃO SEUS PAVORES
E O PAI SUA CORAGEM
DORME DORME
MEU PECADO
MINHA CULPA
MINHA SALVAÇÃO
NAVE MARIA (1984)
NAVE MARIA
Tom Zé
Dudu, bidu, bidu, bidu, bi
mama água
Dudu, bidu, bidu,
papá, dá, dá-á
Quando eu cheguei das estrelas
entrei na terra
por uma caverna
chamada Nascer
E eu era uma nave
uma ave
da ave-maria
e como uma fera
que berra
entrei
na atmosfera
E cuspido, espremido,
petisco de visgo,
forçando a passagem
pela barreira,
sangrando, rasgando,
subindo a ladeira,
orgasmo invertido,
gritei quando vi:
já estava respirando.
MAMAR NO MUNDO
Tom Zé
Oh! mamãe,
eu quero é mamar no mundo.
Quero, papai,
saber no fundo.
Negar a boca do pai
para eu mesmo descobrir,
desesperar-me de medo
perante cada segredo
Eu sofro de juventude
essa coisa maldita
que quando está quase pronta
desmorona e se frita.
Negar tudo que é sagrado
para aprender a rezar
entrar no quarto da lua,
vestir a língua da rua.
Eu sofro de juventude (etc.)
SU SU MENINO MANDU
Tom Zé / Odair Cabeça de Poeta / Oscar Souza
Su, su, menino mandu
olho de gato
nariz de peru
mais tarde quando a noite cair
eu levo cedo meu bem pra dormir
se o vento vem ver a janela aberta
eu mesmo é que sou a coberta
CILINDRADA
Tom Zé
A cilindrada fina
meninamorada
me deixou na mão
curto-circuito, pô!,
que martelouqueceu
também meu coração.
Quanta paquera
paquê, paquerei
para me vingar daquela dor,
500 watts, queimando óleo diesel
e distorção: pirou meu transmissor
pirou meu transmissor.
E me doía
na pele
no pêlo
tirado por minha
maldita patota
que me lembrava
da pele
do pêlo
(veludo)
daquela cocota.
Que foi viver
sua vida de
suavidade
pelas bocas e me desmamou
quando me deixou:
o meu ouvido, que andava
pregado na saia dela
pra ficar escutando o raspar da sua coxa
ela desligou.
A cilindrada fina
meninamorada
me deixou na mão
curto-circuito, pó!,
que martelouqueceu
também meu coração
IDENTIFICAÇÃO
Tom Zé
impulsos de medo, 103
sintomas neuróticos, 33
propaganda consumida, 1 106
I, iden
ti-fi-ca-ção
identificação
cabelos prê
olhos castan
nascimento onze do dé de trinta e sê
alerê-ê-ê-ê
alerê-ê-ê-ê
rg 4654743 São Paulo hum hum
cic dois meia cinco nove zero barra zero zero huuum
alerê …
inps 4 7 3 1 3 8 5 3 hum hum
Ordem dos Músicos 085zé Irará Bahia ia iá
Tempo de vida previsto para o cidadão:
600 mil horas de vida;
abatimento pelo consumo de alimentos envenenados
refrigerantes, remédios e enlatados: 1 125 horas
abatimento pelo salário amarrado
suado, apertado: 1 125 horas
abatimento pelo medo de doenças incuráveis
como cólera e meningite: 1 125 horas
Fio de seu Éwerton e de dona Helena,
testemunhando seu Teófilo e Zé Petu,
ô, Zé Petu.
NENÉM GRAVIDEZ
Tom Zé
tirá-tuá
tirá-tuá
ce ce
tua tuá
tira gudei
cei cei
tirá-gudai
cai-cai
tirá-suti-a-tuá
tira-suti-a-tutu-á
tira-tu-ei
tuei tueiI
tira-suti-a-tuá
Neném, me tira dessa gravidade
me mete nessa gravidez
neném, me tira dessa gravidade
por essa graça gra
sagrá sagrá–avidez
por essa grassa-gra sagrá
sagrá sagrá-a-avidez
me tira desse dia-a-dia
no mato me tira o sapato
pela alça me pendura a calça
se musa não anda de blusa
me salva do computador
alô alô amor
ACALANTO NUCLEAR
Tom zé
Vem
meu bem
só posso agora te ninar
no colo
quente
da bomba nuclear
deita o desespero
no meu travesseiro
CONTO DE FRALDAS
Tom Zé
Penso: que pena
que seja pouco
só penso pensamento
que possa te procurar,
de cá, de lá, menina
baile beijinho
beijo beijoca
o b da brincadeira
brinquedo balbuciar, ciar
ciar, menina
tim-tirim-tirim-tim
tirim-tirim-tim
tirim
my love lua da lenda longe me leva lá
no dia que te conheci
eu ainda molhava a cama
mo-lha-va-a-cama-á-á-á
MESTRE-SALA
Tom zé
O mestre-sala me tomou por uma negra,
roubou a minha noite
para o brilho das estrelas.
Doce é tê-las
sob as telhas.
O mestre-sala me tomou por um poema,
roubou a minha rima
para a musa do cinema
que me acena
nesta cena.
Me tomou por um pavão.
roubou as minhas penas,
foi dançar pro rei de Atenas.
Me tomou por uma chita,
pintou-me toda de flores
e alegrou comendadores.
Me tomou por vagalume,
levou-me a luz acesa
para os olhos da princesa.
O mestre-sala, ele viu que eu era santa
despiu-me sem vidraça
para estranhos numa praça
pra sagrar-me,
pra sangrar-me.
O mestre-sala me tomou por um perfume,
levou-me com a brisa
para o rei na sua frisa
à guisa de
amizade.
Me tomou por paisagem
roubou a minha vista
para os olhos da turista.
Me tomou por uma fada,
levou minha varinha
pros desejos da rainha.
Me tomou por mel de abelha,
levou minha doçura
pro jantar da prefeitura.
TEU OLHAR
Tom Zé
Quando é dia
teu olhar
água clara
teu olhar
pela fresta
do olhar
procurava
teu olhar
minha alma, minha calma, estrela-dalva
Ventre, serpente, lua,
coisa tua,
rosa só de mucosa,
coisa crua,
muda, carnuda, seda,
ser da vida
sede viva
veio no apelo me rogar.
Ida
na proibida
idade, pois
arde
que seja tarde
Ardilosa, dosa prosa sinuosa
estrela-guia
que me salva quando chega o dia.
CORREIO DA ESTAÇÃO DO BRÁS (1978)
Ficha Técnica
Produtor fonográfico – Discos Continental
Direção artística – Cesare Benvenuti
Coordenação artística – Cesare Benvenuti
Arranjos e regências – Otávio Basso
Técnico de gravação – Waldir Lombardo Pinheiro
Assistente de gravação – Wanderley Aparecido de Paula Loureiro
Mixagem – Cesare Benvenuti
Adm. de Repertório – Odair Corona
Arregimentação – Rosário Domenico Giusepe de Caria
Lay-Out – Paulo Fasterra – D.P.Z. Propaganda
Arte Final – Oscar Paolillo
Estúdio – Templo/São Paulo
Fotos – Moacyr Lugato e Micheloni
Participação dos músicos:
Pedro Ivo Lunardi – Baixo – Todas as faixas
Armando Ferrante Jr. – Teclados
MENINA JESUS
Tom Zé
Valei-me, minha menina Jesus
minha menina Jesus
minha menina Jesus, valei-me.
Só volto lá a passeio
no gozo do meu recreio,
só volto lá quando puder
comprar uns óculos escuros.
Com um relógio de pulso
que marque hora e segundo,
um rádio de pilha novo
cantando coisas do mundo —
pra tocar.
Lá no jardim da cidade,
zombando dos acanhados.
dando inveja nos barbados
e suspiros nas mocinhas…
Porque pra plantar feijão
eu não volto mais pra lá
eu quero é ser Cinderela,
cantar na televisão…
Botar filho no colégio,
dar picolé na merenda.
viver bem civilizado,
pagar imposto de renda.
Ser eleitor registrado,
ter geladeira e tv,
carteira do ministério,
ter cic, ter rg.
Bença, mãe.
Deus te faça feliz
minha menina Jesus
e te leve pra casa em paz.
Eu fico aqui carregando
o peso da minha cruz
no meio dos automóveis,
mas
Vai, viaja, foge daqui
que a felicidade vai
atacar pela televisão
E vai felicitar, felicitar
felicitar, felicitar
felicitar até ninguém mais
respirar.
Acode, minha menina Jesus
minha menina Jesus
minha menina Jesus, acode.
MORENA
Tom Zé / Domínio público
Morena, minha morena
tira a roupa da janela
vendo a roupa sem a dona
eu penso na dona sem ela.
Meu quarto tem sete andares
reinado da minha vista
eu tenho céu e mar
mas nada disto me conquista.
Meus olhos desocupados
só querem viver seguindo
a tua pista.
Morena, minha morena … … …
Eu ando desarrumado
no trabalho e no amor
até deixei de lado
o meu futuro de doutor
com o dinheiro da escola
comprei uma lente de alcance
e foi um horror…
CORREIO DA ESTAÇÃO DO BRÁS
Tom Zé
Eu viajo segunda-feira
Feira de Santana
quem quiser mandar recado
remeter pacote
uma carta cativante
a rua numerada
o nome maiusculoso
pra evitar engano
ou então que o destino
se destrave longe.
Meticuloso, meu prazer
não tem medida,
chegue aqui na quinta-feira
antes da partida.
Me dê seu nome pra no
caso de o destinatário
ter morrido ou se mudado
eu não ficar avexado
e possa trazer de volta
o que lá fica sem dono.
nem chegando nem voltando
ficando sem ter pousada
como uma alma penada.
De forma que não achando
o seu prezado parente
eu volto em cima do rastro
na semana reticente
devolvo seu envelope
intacto, certo e fechado.
odeio disse-me-disse
condeno a bisbilhotice.
Se se der o sucedido
me aguarde aqui no piso
pois voltando com a resposta,
notícia, carta ou pacote
— ou até lhe devolvendo
o desencontro choroso
da missão desincumprida
estarei aqui na certa
sete domingos seguidos
a partir do mês em frente.
Palavra de homem racha
mas não volta diferente.
CARTA
Tom Zé
Eu preciso mandar notícia
pro coração de meu amor me cozinhar
pro coração de meu amor me refazer
me sonhar
me ninar
me comer
me cozinhar como um peru bem gordo
me cozinhar como um anum-tesoura
um bezerro santo
uma nota triste.
Me cozinhar como um canário morto
me cozinhar como um garrote arrepiado
um pato den´d´água
um saqué polaca.
Eu escrevo minha carta num papel decente
quem se sente
quem se sente com saudade não economiza
nem à guisa
nem dor nem sentimento que dirá papel
o anel
o anel do pensamento vale um tesouro
é besouro
é besouro renitente cuja serventia
já batia
já batia na gaiola e no envelope
e no golpe
e no golpe da distância andei 200 léguas
minha égua
minha égua esquipava, o peito me doía
quando ia
quando ia na lembrança vinha na saudade.
PECADO ORIGINAL
Tom Zé
Aquele que nasce pobre
sem nome e sem cabedal
não pode trazer o peso
de um pecado original.
De modo que, de acordo
com o meu requerimento,
perdoado nasce o pobre
a partir deste momento.
O rico não faz questão
de um pecado tão pequeno
ele tem muitas maneiras
de tirar compensação.
Mas não, não pense meu mestre
que eu seja de pouco siso
que aceitando o meu negócio
terás grande prejuízo.
Pois havendo pouco rico
e de pobre um enormanço
imaginei que querias
equilibrar teu balanço.
Nascerão com cada rico
três pecados desses tais
que serão como trigêmeos
muito mais originais.
Sendo um por sua conta
os outros dois se remonta
a uma suave taxa
com que o rico colabora
para o vosso livro-caixa.
E assim a humanidade
com justiça vai viver
e vossa contabilidade
batendo o deve e o haver.
Apregue-se em todo berço
e se reze em todo terço.
LAVAGEM DA IGREJA DE IRARÁ
Tom Zé
Zé, Zé, Zé Popô
foguete do ar me anunciou
Irará é meu namora
e a lavagem é meu amor
Na Quixabeira eu ensaio
na Rua de Baixo eu caio
na Rua Nova eu me espalho
na Mangabeira eu me atrapalho.
Pulo pra Rua de Cima
valei-me Nossa Senhora
arrepare o remelexo
que entrou na roda agora.
Arriba a saia, peixão
todo mundo arribou, você não.
Melânia, porta-bandeira
com mais de cem companheiras
lá vem puxando o cordão
com o estandarte na mão
em cada bloco de cinco
das quatro moças bonitas
tem três no meu coração
com duas já namorei
por uma eu quase chorei.
Na Lavagem minha alma
se lava, chora e se salva
segunda, lá no Cruzeiro
eu me enxugo no sol quente.
No céu, na porta de espera
sinhá Inácia foi louvada
vendo os pés de Zé-Tapera
São Pedro cai na risada.
Pé dentro, pé fora
quem tiver pé pequeno
vai embora.
Quem chegou no céu com atraso
foi Pedro Pinho do Brejão
que se demorou comprando
quatro peças de chitão.
Mas logo em sua chegada
duzentas saias rodadas
ele deu ao povaréu
e organizou todo mês
lavagem da porta do céu.
Por favor me vista
não me deixe à toa
lá naquela loja
tem fazenda boa
tem fazenda boa
pra sinhá-patroa.
Tem fazenda fina
pra moça grã-fina,
tem daquela chita
pra moça bonita.
PECADO, RIFA E REVISTA
Tom Zé
Pecado, rifa e revista
o pobre paga é à vista.
A felicidade, o conforto,
a alegria e a sorte,
vendeu fiado pra Deus
vai receber depois da morte.
Quando o pobre está quieto
está fazendo pirraça
se está fazendo festa
é o efeito da cachaça.
Se nasce nego do cabelo duro
foi a mãe saltando o muro;
se nasce branco do cabelo liso
ela não teve juízo.
Pecado, rifa e revista
o pobre paga a vista.
A VOLTA DA XANDUZINHA
Tom Zé
Sofrimento não me assusta
Mariá
é meu vizinho de boas tardes
Mariá
conhecer a ingratidão
isso não
isso não
isso não
quando ela tinha nada
Mariá
eu abri a casa todo
Mariá
Quando precisei dela
Mariô
Mariô
Mariô
Foi, quem sabe, a vaidade
ou os oito boi zebu
ou a casa com varanda
dando pro norte e pro sul
fiz a casinha dela
no manacá
o sapatinho dela
no manacá
e a roupinha dela
no manacá
Cadê agora?
mana, maninha, como é triste recordar
A beleza do seu riso
é demais pra se lembrar
o vestido dos seus olhos
se vestiu pra descansar.
AMOR DE ESTRADA
Tom Zé
Vou dirigindo solitário pela estrada
mas te levo na lembrança meu amor
o caminhão amigo chora na subida
fiel a minha dor
coro – Voy dirigiendo solitario pur la ruta
pero llevando mio recuerdo a mi amor
mi camion amigo llora en la subida
fiel a mi dolor
solo – Encontrar-te foi bom
o teu corpo é tão perfeito
que para descrevê-lo
um poema não daria
coro – Então é uma carroceria
solo – Com outras não te trairei
e na estrada não darei
carona pra mulher vadia
coro –Isto até ao meio-dia
solo – Seu guarda me desculpe
ultrapassei oitenta beijos
se multar os lábios dela
vai multar os meus desejos
coro – Ela te quebrou dois eixos
solo – Vou pra perto de ti
se de noite estou cansado
clareando minha estrada
teu olhar iluminado
coro – É um farol desregulado
solo – Vou dirigindo…
coro – Voy dirigiendo…
solo – Vou caminhando
meu caminho,
meu longo caminho:
meu caminhão.
coro – Voy caminando,
mi camino
mi gran camino,
mi camión…
LÁ VEM CUÍCA
Tom Zé / Vicente Barreto
O samba caiu na moda
na esquina e na escola,
tamborim ficou de fora
pandeiro pedindo esmola.
E lá vem cuíca,
lá vem cuíca…
O piano da criada
já foi no psiquiatra
o reco-reco que padece
encostou no INPS.
E lá vem cuíca
lá vem cuíca;
As violas reunidas
contrataram advogado
e levaram no ministério
um grosso abaixo-assinado.
Uma reza milagrosa,
eu já fiz até promessa
pedindo a São Noel Rosa
pra socorrer o samba depressa.
E lá vem cuíca
lá vem cuíca
Pode ser um samba triste
partido alto ou maxixe
pode ser um samba à toa
a malvada não perdoa.
E lá vem cuíca
lá vem cuíca.
NA PARADA DE SUCESSO
Tom Zé / Vicente Barreto
Em terceiro lugar vem o nanã de naná
em segundo lugar vem o lerê-le-iê
mas em primeiro lugar, malandro
vem o la-ra-la-iá.
Com o nanã de naná
quando a noite cair
eu apanho a coberta
e na hora certa
o meu bem vai dormir.
Mas o le-re-lei-ê
é pra gente mais fina
coisa quase grã-fina,
assanha na festa
e não vai na seresta.
Mas em primeiro lugar
vem o Messias desta era
que é meu la-ra-la-iá.
ESTUDANDO O SAMBA – 1976
ÍNDICE
(Tom Zé)
A FELICIDADE
SÓ (SOLIDÃO)
DÓI
SE
MÃ
VAI (MENINA AMANHÃ DE MANHÃ)
HEIN?
TÔ
MÃE (MÃE SOLTEIRA)
UI (VOCÊ INVENTA)
A FELICIDADE
(Tom Jobim/Vinícius de Moraes)
Tristeza não tem fim
felicidade sim
A felicidade é como a pluma
que o vento vai levando pelo ar
voa tão leve
mas tem a vida breve
precisa que haja vento sem parar
a felicidade do pobre parece
a grande ilusão do carnaval
a gente trabalha
o ano inteiro
por um momento de sonho
pra fazer a fantasia
de rei ou de pirata ou jardineira
pra tudo se acabar na quarta-feira
A felicidade é como a gota
de orvalho numa pétala de flor
brilha tranqüila
depois de leve oscila
e cai como uma lágrima de amor.
A minha felicidade está sonhando
nos olhos da minha namorada
é como esta noite
passando, passando
em busca da madrugada
falem baixo por favor
pra que ela acorde alegre como o dia
oferecendo beijos de amor.
SÓ (Solidão)
Tom Zé
Solidão
que poeira leve
solidão
olhe a casa é sua
o telefo…
e no meu descompasso
o risso dela
Na vida quem perdeu o telhado
em troca recebe as estrelas
pra rimar até se afogar
e de SOluço em SOluço esperar
O SOl que SObe na cama
e acende o lenÇOl
SÓ lhe chamando
SOlicitando
SOlidão
que poeira leve…
Se ela nascesse rainha
se o mundo pudesse agüentar
os pobres ela pisaria
e os ricos iria humilhar.
Milhares de guerras faria
pra se deleitar
por isso eu prefiro
chorar sozinho.
solidão
que poeira leve
solidão
olhe a casa é sua
o telefone tocou, foi engano
solidão
que poeira leve
solidão
olhe a casa é sua
e no meu descompasso
descompasso
o riso dela
DÓI
Tom Zé
Maltratei,
sim, maltratei demais
e machuquei,
quei, quei,
quei, quei,
meu coração que bate
que bate calado
que bate calado
que bate, bate
e dói, dói, dói.
que bate e dói,
dói.
Dói, amor
dói com d
ô dói E dói
amor ô
dói e dói.
SE
Tom Zé
Ah! se maldade
vendesse na farmácia
que bela fortuna
você faria
com esta cobaia
que eu sempre
fui nas suas mãos.
Oh! mulher,
se
porém
se
o quê?
se
de quem?
se
por quê?
se isso for possível
pois, me contem
como escrever de novo
o jornal de ontem…
eu beijaria os pés
da santa máter
e reescreveria
o seu caráter.
MÃ
Tom Zé
Batiza esse neném
batiza esse neném
Batizado bom
batizado bom
Ê, os sambas e arcanjos
ô, a rua a arruaça
ê, a mão da madrugada
ô, a lua enluarada
ê, o seio, sua sede
ê, mã mã mã mã mã mã
VAI (Menina amanhã de manhã)
Tom Zé
Menina, amanhã de manhã
quando a gente acordar
quero te dizer
que a felicidade vai
desabar sobre os homens
vai
desabar sobre os homens
vai
desabar sobre os homens
Menina, ela mete medo
menina, ela fecha a roda
menina, não tem saída
de cima, de banda ou de lado.
Menina, olhe pra frente
Oh! menina, todo cuidado,
não queira dormir no ponto,
seguro o jogo, atenção.
(De manhã)
Menina, a felicidade
é cheia de praça,
é cheia de traça
é cheia de lata
é cheia de graça.
Menina, a felicidade
é cheia de pano
é cheia de peno
é cheia de sino
é cheia de sono
Menina, a felicidade
é cheia de ano
é cheia de Eno
é cheia de hino
é cheia de ONU.
Menina, a felicidade
é cheia de an
é cheia de en
é cheia de in
é cheia de on
MENINA A FELICIDADE
É CHEIA DE A
É CHEIA DE E
É CHEIA DE I
É CHEIA DE O
MENINA A FELICIDADE
É CHEIA DE A
É CHEIA DE E
é cheia de i
é cheia de o
é cheia de a
é cheia de e
é cheia de i
cheia de a
cheia de e
cheia de i
cheia de o
HEIN?
Tom Zé / Vicente Barreto
ELA DISSE NEGO
NUNCA ME DEIXE SÓ
MAS EU FIZ DE CONTA
QUE NÃO OUVI, HEIM?
ELA DISSE: – ORGULHOSO
TU INDA VAI VIRAR PÓ
MAIS EU INSISTI
DIZENDO HEIM?
ELA ARREPIOU
E PULOU E GRITOU
ESTE TEU – HEIM? – MULEQUE
JÁ ME DEU – HEIM? – DESGOSTO
ODIOSO – HEIM? COM JEITO
EU TE PEGO – UI! BEM FEITO
PRÁ RUA – SAI! – SUJEITO
QUE EU NÃO QUERO MAIS TE VER
EU DEI CASA E COMIDA
O NEGO FICOU BESTA
TÁ QUERENDO EXPLORAR
QUER ME JUDIAR
ME DESCARTAR
TÔ
Tom Zé / Elton Medeiros
TÔ BEM DE BAIXO PRÁ PODER SUBIR
TÔ BEM DE CIMA PRÁ PODER CAIR
TÔ DIVIDINDO PRÁ PODER SOBRAR
DISPERDIÇANDO PRÁ PODER FALTAR
DEVAGARINHO PRÁ PODER CABER
BEM DE LEVE PRÁ NÃO PERDOAR
TÔ ESTUDANDO PRÁ SABER IGNORAR
EU TÔ AQUI COMENDO PARA VOMITAR
TÔ TE EXPLICANDO
PRÁ TE CONFUNDIR
TÔ TE CONFUNDINDO
PRÁ TE ESCLARECER
TÔ ILUMINANDO
PRÁ PODER CEGAR
TÔ FICANDO CEGO
PRÁ PODER GUIAR
DEVAGARINHO PRÁ PODER RASGAR
OLHO FECHADO PRÁ TE VER MELHOR
COM ALEGRIA PRÁ PODER CHORAR
DESESPERADO PRÁ TER PACIÊNCIA
CARINHOSO PRÁ PODER FERIR
LENTAMENTE PRÁ NÃO ATRASAR
ATRÁS DA VIDA PRÁ PODER MORRER
EU TÔ ME DESPEDINDO PRÁ PODER VOLTAR
MÃE (Mãe solteira)
Tom Zé
CADA PASSO
CADA LÁGRIMA SOMADA
CADA PONTO DO TRICÔ
SEU SILÊNCIO DE ARANHA
VOMITANDO PACIÊNCIA
PRÁ TECER O SEU DESTINO
CADA BEIJO IRRESPONSÁVEL
CADA MARCA DO CIÚME
CADA NOITE DE PERDÃO
O FUTURO NA ESQUINA
E A CLAREZA REPENTINA
DE ESTAR NA SOLIDÃO
OS VIZINHOS E PARENTES
A SOCIEDADE ATENTA
A MORAL COM SUAS LENTES
COM DESESPERADA CALMA
SUA DOR CALADA E MUDA
CADA ÂNSIA FOI JUNTANDO
PREPARANDO A ARMADILHA
TEIAS, LINHAS E AGULHAS
TUDO CONTRA A SOLIDÃO
PRÁ PODER TRAZER UM FILHO
CUJA MÃE SÃO SEUS PAVORES
E O PAI SUA CORAGEM
DORME DORME
MEU PECADO
MINHA CULPA
MINHA SALVAÇÃO
UI! (VOCÊ INVENTA)
Tom Zé / Odair Cabeça de Poeta
VOCÊ INVENTA: GRITE!
EU INVENTO: AI!
VOCÊ INVENTA: CHORE!
EU INVENTO: UI!
VOCÊ INVENTA O LUXO
EU INVENTO O LIXO
VOCÊ INVENTA O AMOR
EU INVENTO A SOLIDÃO
VOCÊ INVENTA A LEI
E EU INVENTO A OBEDIÊNCIA
VOCÊ INVENTA DEUS
E EU INVENTO A FÉ
VOCÊ INVENTA O TRABALHO
E EU INVENTO AS MÃOS
VOCÊ INVENTA O PESO
E EU INVENTO AS COSTAS
VOCÊ INVENTA A OUTRA VIDA
EU INVENTO A RESIGNAÇÃO
VOCÊ INVENTA O PECADO
E EU FICO AQUI NO INFERNO – VALHA-ME DEUS, NO INFERNO.
TODOS OS OLHOS – 1973
CADEMAR
Ô ô cadê mar
ô ô cadê
ôôô cadê mar
ia que não vem
ô ô cadê mar
ô ô cadê
ôôô cadê ma
ria que não vem.
TODOS OS OLHOS
De vez em quando
todos os olhos se voltam pra mim,
de lá do fundo da escuridão,
esperando e querendo
que eu seja um herói,
que eu seja um herói.
Mas eu sou inocente,
eu sou inocente,
eu sou inocente.
De vez em quando
todos os olhos se voltam pra mim,
de lá do fundo da escuridão
esperando e querendo
que eu saiba.
Mas eu não sei de nada,
eu não sei de ná,
eu não sei de ná.
De vez em quando
todos os olhos se voltam pra mim,
de lá do fundo da escuridão
esperando e querendo apanhar,
querendo que eu bata,
querendo que eu seja um Deus.
Mas eu não tenho chicote,
eu não tenho chicó,
eu não tenho chicó.
Mas eu sou até fraco,
eu sou até frá,
eu sou até frá.
DODÓ E ZEZÉ
– Por que é que a gente tem que ser
marginal ou cidadão?
diga, Zezé.
– É pra ter a ilusão de que pode
pode escolher,
viu, Dodó?
– Mas por que é que a gente
tem de viver com esse medo
danado de tudo na vida?
diga, Zezé.
– É pra aprender que o medo
é o nosso maior conselheiro,
viu, Dodó?
– Sorrisos, creme dental e tudo,
mas por que é
que a felicidade
anda me bombardeando?
diga, Zezé.
– é pra saber que ninguém mais tem
o direito de ser infeliz,
viu, Dodó?
– Mas por que é que um Zé qualquer
de vez em quando tem que dar sete
sopapos na mulher?
diga, Zezé.
– É pra no outro dia
de manhã cedinho
vender muito jornal,
viu, Dodó?
– Mas por que é, por que é,
por que é, e por que é?
diga, Zezé.
– É porque porque, porque
purque purque purque purque,
viu, Dodó?
QUANDO EU ERA SEM NINGUÉM
Ô cadê, cadê você?
Quando eu era sem ninguém
e não tinha amor nenhum,
o meu coração batia, ô maninha,
tum, tum, tum.
Todo mundo arranja um bem:
eu ficando sem ninguém
e o meu coração batendo, ô maninha,
tum, tum, tum.
Você diz que faca corta,
mas navalha corta mais,
e a navalha que mais corta
é a língua dos rapaz.
Tum, tum, tum, tindolelê.
tum, tum, tum, tindolalá.
As moças da minha terra
nunca ficam sem casar,
(porque se passar dos trinta ela tem
Santo Antonio pra ajudar).
versão anterior à censura:
porque se passar dos trinta ela tem
um muro pra pular.
Toda meia-noite
eu sonho com você.
se você duvidar, posso até
sonhar pra você ver.
Ô cadê, cadê você?
BRIGITTE BARDOT
A Brigitte Bardot está ficando velha,
envelheceu antes dos nossos sonhos.
Coitada da Brigitte Bardot,
que era uma moça bonita,
mas ela mesma não podia ser um sonho
para nunca envelhecer.
A Brigitte Bardot está se desmanchando
e os nossos sonhos querem pedir divórcio.
Pelo mundo inteiro
milhões e milhões de sonhos
querem também pedir divórcio
e a Brigitte Bardot agora
está ficando triste e sozinha.
Será que algum rapaz de vinte anos
vai telefonar
na hora exata em que ela estiver
com vontade de se suicidar?
Quando a gente era pequeno,
pensava que quando crescesse
Ia ser namorado da Brigitte Bardot,
mas a Brigitte Bardot
está ficando triste e sozinha
AUGUSTA, ANGÉLICA E CONSOLAÇÃO
Augusta, graças a Deus,
graças a Deus,
entre você e a Angélica
eu encontrei a Consolação
que veio olhar por mim
e me deu a mão.
Augusta, que saudade,
você era vaidosa,
que saudade,
e gastava o meu dinheiro,
que saudade,
com roupas importadas
e outras bobagens.
Angélica, que maldade,
você sempre me deu bolo,
que maldade,
e até andava com a roupa,
que maldade,
cheirando a consultório médico,
Angélica.
Quando eu vi
que o Largo dos Aflitos
não era bastante largo
ora caber minha aflição,
eu fui morar na Estação da Luz,
porque estava tudo escuro
dentro do meu coração.
BOTARAM TANTA FUMAÇA
Botaram tanto lixo,
botaram tanta fumaça,
Botaram tanto lixo
por baixo da consciência da cidade,
que a cidade
tá, tá tá tá tá
com a consciência podre,
com a consciência podre.
Botaram tanto lixo,
botaram tanta fumaça,
Botaram tanta fumaça
por cima dos olhos dessa cidade,
que essa cidade
tá, tá tá tá tá
está com os olhos ardendo,
está com os olhos ardendo.
Botaram tanto lixo,
botaram tanta fumaça,
botaram tanto metrô e minhocão
nos ombros da cidade,
que a cidade
tá, tá tá tá ta.
Está cansada,
sufocada,
está doente,
tá gemendo
de dor de cabeça,
de tuberculose,
tá com o pé doendo,
está de bronquite,
de laringite,
de hepatite,
de faringite,
de sinusite,
de meningite.
Está, se…
ta tá tá tá tá
com a consciência podre.
Botaram tanto lixo,
botaram tanta fumaça,
botaram tanta preocupação
nos miolos da cidade
que a cidade
tá, tá tá tá tá
está de cuca quente.
O RISO E A FACA
Quero
ser o riso
e o dente,
quero
ser o dente
e a faca,
quero
ser a faca
e o corte
em um só beijo
vermelho.
Fiz meu berço
na viração,
eu só descanso
na tempestade,
só adormeço
no furacão.
Eu sou a raiva
e a vacina,
procura
de pecado
e conselho.
Espaço
entre a dor
e o consolo,
a briga
entre a luz
e o espelho.
Fiz meu berço
na viração
eu só descanso
na tempestade,
só adormeço
no furacão.
UM OH! E UM AH! (Sem texto)
COMPLEXO DE ÉPICO
Todo compositor brasileiro
é um complexado.
Por que então esta mania danada,
esta preocupação
de falar tão sério,
de parecer tão sério
de ser tão sério
de sorrir tão sério
de se chorar tão sério
de brincar tão sério
de amar tão sério?
Ai, meu Deus do céu,
vai ser sério assim no inferno!
Por que então esta metáfora-coringa
chamada “válida”,
que não lhe sai da boca,
como se algum pesadelo
estivesse ameaçando
os nossos compassos
com cadeiras de roda, roda, roda?
E por que então essa vontade
de parecer herói
ou professor universitário
(aquela tal classe
que ou passa a aprender com os alunos
— quer dizer, com a rua —
ou não vai sobreviver)?
Porque a cobra
já começou
a comer a si mesma pela cauda,
sendo ao mesmo tempo
a fome e a comida.
Tom Zé – Se o Caso é Chorar (1972)
Continental SLP 10084
Relançado em 1984 com o título “Se o Caso é Chorar”.
Músicas:
1. HAPPY END
2. FREVO
3. A BABÁ
4. MENINA, AMANHÃ DE MANHÃ (O Sonho Voltou)
5. DOR E DOR
6. SENHOR CIDADÃO
7. A BRIGA DO EDIFÍCIO ITÁLIA E DO HILTON HOTEL
8. O ANFITRIÃO
9. O ABACAXI DE IRARÁ
10. O SÂNDALO
11. SE O CASO É CHORAR
12. SONHO COLORIDO DE UM PINTOR
1. HAPPY END
(TOM ZÉ – ANTONIO PÁDUA)
Você fala que sim,
que me compreende;
você fala que não,
que não me entrega
que não me vende
que não me deixa
que não me larga.
Mas você deixa tudo
deixou
você deixa mágoa
deixou
você deixa frio
deixou
e me deixa na rua
deixou.
Você jura, jura,
jurou,
você me despreza
prezou,
você vira a esquina
esquinou
e me deixa à toa
tô, tô, to.
Você passa mal
toma Sonrisal
se engana, mas vai em frente
pra mim não tem jeito
não tem beijo final
e não vai ter happy end
e não vai ter happy end
e não vai ter happy.
2. FREVO
(TOM ZÉ – TUZÉ DE ABREU)
Esta noite não quero saber de conselho
esqueça, deixe pra lá
me arranja um pecado
quente pra me consolar
pense bem que depois
tem o ano inteiro pra gente pagar
Cinqüenta gramas de amor
veja lá, é um bocadinho
vinte gramas até,
venha cá, é tão pouquinho.
Eu vou morrer se você
não quiser
me arranjar um pecadinho.
3. A BABÁ
(TOM ZÉ)
O Rockefeller acusou Branca de Neve,
os anões se dividiram,
três de sim e três de não,
mas um morreu de susto
e perguntava, perguntava, perguntava:
Mas quem é, quem é, quem é?
quem é que agora
está cantando um acalanto
pra cabeça do século?
Ô de marré, de-marré-de-ci
Quem é que está fazendo
pesadelos na cabeça do século?
Ô de marré, de-marré-de-ci
Quem é que está passando
dinamite na cabeça do século?
Ô de marré, de-marré-de-ci
Quem é, quem é, quem é?
me diga você que sabe datilografia
quem é, quem é, quem é?
me diga você que estudou filosofia
Quem é que agora está
fazendo tanto medo na cabeça do século?
Ô de marré, de-marré-de-ci
E quem é que tá
botando piolho na cabeça do século?
Ô de marré, de-marré-de-ci
Quem é que está passando
pimenta na cabeça do século?
Ô de marré, de marré de si
Quem é, quem é, quem é?
Me diga você que sabe datilografia
quem é, quem é, quem é
me diga você que estudou filosofia
Quem é que agora está
botando tanto grilo na cabeça do século?
Ô de marré, de-marré-de-ci
Quem é que empresta
um travesseiro pra cabeça do século?
Ô de marré, de-marré-de-ci.
4. MENINA, AMANHÃ DE MANHÃ (O Sonho Voltou)
(TOM ZÉ – PERNA)
Menina , amanhã de manhã
quando a gente acordar
quero te dizer que a felicidade vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens.
Na hora ninguém escapa
de baixo da cama ninguém se esconde
e a felicidade vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens vai
desabar sobre os homens.
Menina, ela mete medo
menina, ela fecha a roda
menina, não tem saída
de cima, de banda ou de lado.
Menina, olhe pra frente
menina, tome cuidado
não queira dormir no ponto
segure o jogo
atenção (de manhã)
Menina a felicidade
é cheia de graça
é cheia de lata
é cheia de praça
é cheia de traça.
Menina, a felicidade
é cheia de pano,
é cheia de pena
é cheia de sino
é cheia de sono.
Menina, a felicidade
é cheia de ano
é cheia de Eno
é cheia de hino
é cheia de ONU.
Menina, a felicidade
é cheia de an
é cheia de en
é cheia de in
é cheia de on.
Menina, a felicidade
é cheia de a
é cheia de e
é cheia de i
é cheia de o.
5. DOR E DOR
(TOM ZÉ)
Te quero te quero
querendo quero bem
quero te quero
querendo quero bem.
Chiclete chiclete,
mastigo dor e dor
clete chiclete,
mastigo dor e dor.
Te choro te choro,
chuvinha chuviscou.
Choro te choro,
chuvinha chuviscou.
Chamego chamego,
me deixa me deixou.
Mego chamego,
me deixa me deixou.
A dor a dor, a dor a dor
… … …
Mas eu te espero
porque o grito dos teus olhos
é mais
longo que o braço da floresta
e aparece atrás
dos montes, dos ventos
e dos edifícios
e o brilho do teu riso
é mais
quente que o sol do meio-dia
e mais e mais e oh oh oh oh oh
Mas eu te espero
na porta das manhãs porque
o grito dos teus olhos
é mais e mais e mais
e depois que você partiu
o mel da vida apodreceu na minha boca
apodreceu na minha boca
Oh, oh, oh, oh, oh
6. SENHOR CIDADÃO
(TOM ZÉ)
Poema “CIDADE” de Augusto de Campos:
atrocaducapacaustiduplielastifeliferofugahistoriloqualubrimendimultipliorganiperiodiplastipublirapareciprorustisagasimplitenaveloveravivaunivora
cidade
Senhor cidadão
senhor cidadão
Me diga, por quê
me diga por quê
você anda tão triste?
tão triste
Não pode ter nenhum amigo
senhor cidadão
na briga eterna do teu mundo
senhor cidadão
tem que ferir ou ser ferido
senhor cidadão
O cidadão, que vida amarga
que vida amarga.
Oh senhor cidadão,
eu quero saber, eu quero saber
com quantos quilos de medo,
com quantos quilos de medo
se faz uma tradição?
Oh senhor cidadão,
eu quero saber, eu quero saber
com quantas mortes no peito,
com quantas mortes no peito
se faz a seriedade?
Senhor cidadão
senhor cidadão
eu e você
eu e você
temos coisas até parecidas
parecidas:
por exemplo, nossos dentes
senhor cidadão
da mesma cor, do mesmo barro
senhor cidadão
enquanto os meus guardam sorrisos
senhor cidadão
os teus não sabem senão morder
que vida amarga
Oh senhor cidadão,
eu quero saber, eu quero saber
com quantos quilos de medo,
com quantos quilos de medo
se faz uma tradição?
Oh senhor cidadão,
eu quero saber, eu quero saber
se a tesoura do cabelo
se a tesoura do cabelo
também corta a crueldade
Senhor cidadão
senhor cidadão
Me diga por que
me diga por que
Me diga por que
me diga porque
7. A BRIGA DO EDIFÍCIO ITÁLIA E DO HILTON HOTEL
(TOM ZÉ)
O Edifício Itália
era o rei da Avenida Ipiranga:
alto, majestoso e belo,
ninguém chegava perto
da sua grandeza.
Mas apareceu agora
o prédio do Hilton Hotel
gracioso, moderno e charmoso
roubando as atenções pra sua beleza.
O Edifício Itália ficou enciumado
e declarou a reportagem de amiga:
que o Hilton, pra ficar todo branquinho
toma chá de pó-de-arroz.
Só anda na moda, se veste direitinho
e se ele subir de branco pela Consolação
até no cemitério vai fazer assombração
o Hilton logo logo respondeu em cima:
a mania de grandeza não te dá vantagem
veja só, posso até ser requintado
mas não dou o que falar
Contigo é diferente,
porque na vizinhança
apesar da tua pose de rapina
já andam te chamando
Zé-Boboca da esquina
E o Hilton sorridente
disse que o Edifício Itália
tem um jeito de Sansão descabelado
e ainda mais, só pensa em dinheiro
não sabe o que é amor
tem corpo de aço,
alma de robô,
porque coração ele não tem pra mostrar
Pois o que bate no seu peito
é máquina de somar.
O Edifício Itália sapateou de raiva
rogou praga e
até insinuou que o Hilton
tinha nascido redondo
pra chamar a atenção
abusava das curvas
pra fazer sensação
e até parecia uma menina louca
Ou a torre de Pisa
vestida de noiva
8. O ANFITRIÃO
(TOM ZÉ)
Minha dor, você tem razão,
então não faça cerimônia
sou a tua nova casa
sou o teu anfitrião.
Se recoste no meu ombro
se debruce nos meus olhos
se quiser me dê a mão.
Eu chamei a dor
pra fazer um samba triste
e pedir que me arrumasse
um amor e uma mágoa.
Ela bateu na porta,
combinou tudo comigo
depois me disse adeus,
um amor e uma mágoa.
Minha dor, desta vez é pior,
depois que você foi embora
reparei dentro do peito
um vazio anormal.
Nem aquele amor que nunca tive,
nem a mágoa que criamos,
somente a morte ou coisa igual.
9. O ABACAXI DE IRARÁ
(RIBEIRO -TOM ZÉ – PERNA)
Minha terra é boa,
plantando dá
o famoso abacaxi de Irará.
Minha terra é boa,
plantando dá
o famoso abacaxi de Irará.
Moça emperrada namora
e o noivo não quer casar
se apega ao bom Santo Antônio
e o noivo este ano ainda vai pensar…
Falou véio
dá um chá de abacaxi
de Irará
que é pro noivo se animar.
Minha terra é boa
plantando dá
o famoso abacaxi de Irará.
Véio viúvo com setenta anos
ainda quer casar
Pergunto pra ele o segredo
e peço pra me contar.
Falou o veio:
Vá comendo abacaxi
de Irará
que você vai se animar.
10. O SÂNDALO
(TOM ZÉ)
Parecido sempre com um machado
Que fere o sândalo e ainda quer
sair perfumado.
E ainda quer
sair perfumado.
Faça suas orações uma vez por dia
e depois mande a consciência
junto com os lençóis
pra lavanderia.
tengo tengo tem tengo
Tenguem dedem teguem
dedem teguem dedem
11. SE O CASO É CHORAR
(TOM ZÉ – PERNA)
Se o caso é chorar
te faço chorar
se o caso é sofrer
eu posso morrer de amor.
Vestir toda minha dor
no seu traje mais azul
restando aos meus olhos
o dilema de rir ou chorar.
Amor deixei sangrar meu peito
tanta dor, ninguém dá jeito.
Amor deixei sangrar meu jeito
pra tanta dor
ninguém tem peito.
Se o caso é chorar…
Hoje quem paga sou eu
o remorso talvez
as estrelas do céu
também refletem na cama
de noite na lama
no fundo do copo
rever os amigos
me acompanha
o meu violão.
12. SONHO COLORIDO DE UM PINTOR
(TALISMÃ – B. LOBO)
Sonhei que pintei minhas noites de amarelo
lindas estrelas no meu céu eu coloquei
o feio que era feio ficou belo
até o vento do meu mundo eu perfumei.
Numa apoteose de poesia
num conjunto de harmonia
uma lua roxa para iluminar
as águas cor-de-rosa do meu mar.
Meu sol eu pintei de verde
que serve pra enxugar lágrimas
se um dia precisar.
A dor e a tristeza
fiz virar felicidade
aproveitei a tinta
e pintei sinceridade.
Pintei de azul o presente
de branco pintei o futuro
o meu mundo só tem primavera
o amor eu pintei cinza escuro.
Pra lá eu levei a bondade
dourada é sua cor
aboli a falsidade
o meu povo é incolor.
Na entrada do meu mundo
tem um letreiro de luz
meu mundo não é uma esfera
tem o formato de cruz.
Tom Zé – 1970
(RGE XRLP 5351) – 1970
Palavras da Contracapa
As melhores ideias deste disco, devem ser divididas com os meus alunos de composição da SOFISTI-BALACOBACO (muito som e pouco papo) e com Augusto de Campos.
Foi, por exemplo, um exercício proposto a Ricardo Silva e Ciumara Catto (Limeira-SP) o ponto de partida que nos levou à “Guindaste a Rigor”.
Elio Manoel e Aderson Benvindo (parceiro em “Lá vem a onda”) que trabalharam quase com febre; Beto Matarazzo e Durval do “SESC”, que têm um senso crítico muito agudo; João Araújo, Laís Marques e Valdez, parceiros em “Distância” e “Jimmy Renda-se”; todos ajudaram muito.
Aproveito a ocasião para informar que a Prefeitura de São Paulo não me pagou até agora o prêmio do 1o. lugar (São Paulo, meu Amor) do Festival da Record de 1968 e até começou a dizer que não assumiu esta obrigação.
TOM ZÉ.
Lado A
1- Lá Vem a Onda (Tom Zé / Anderson Benvindo)
2- Guindaste a Rigor (Tom Zé)
3- Distância (Tom Zé- João Araújo- Laís Marques )
4- Dulcinéia Popular Brasileira (Tom Zé)
5- Qualquer Bobagem (Tom Zé- Mutantes)
6- O Riso e a Faca (Tom Zé)
Lado B
1- Jimmy, Renda-se (Tom Zé– Valdez)
2- Me Dá, Me Dê, Me Diz (Tom Zé)
3- Passageiro (Tom Zé)
4- Escolinha de Robô (Tom Zé)
5- Jeitinho Dela (Tom Zé)
6- A Gravata (Tom Zé)
LADO A
1. Lá Vem a Onda
(Tom Zé/ Anderson Benvindo)
Lá vem a onda
que vai me levar
pra casa dela
eu sou escravo,
ela é canela
eu sou o crime,
ela é a cela
eu sou a fera,
ela é a bela
eu sou a noite,
ela é a vela
eu sou o chope,
ela é a fivela
eu sou aquele,
ela é aquela
Ela, ela, ela,
ela, ela-la-la-la
Suça sucinha
sucê sassarica
sossegá sou seu
só seu
2. Guindaste a Rigor
(Tom Zé)
Eu quero um trem de doze vagões
Pra marcar o compasso que eu vou cantar
Quero dez máquinas de concreto
Porque não gosto de violino
Quero um discurso do Nero
Para fazer contraponto
Doze motocicletas no lugar do contrabaixo
Para reger o conjunto, um guindaste à rigor
E na hora do breque um belo assopro de coca-cola
Ah, ah, ah que cola
A tonalidade é ré sustenido bem claro
Ou mi colorido bemol
Sidomidelamefalasemsirelanosolfa
Para parceiro na letra
Satanás de babydoll
Ou um camundongo sádico que tem a língua vermelha
E no fim da primeira parte deixe a Brigitte Bardal
Mas hora veja:
Enquanto eu cantava
O verbo enganado
Com a língua do poeta enrolada no pescoço
Pendurado sem socorro
Já parou de balançar as pernas
Já parou de balançar as pernas
Já parou de balançar as pernas
Já parou de balançar as pernas
Já parou
3. Distância
(Tom Zé / João Araújo / Laís Marques)
Meu bem a tristeza
me persegue
segue comigo
o gosto de sorrir
só rimava
no som dos teus olhos.
E vi desmanchar-se
em desgosto,
gosto por gosto
e a dor me procura
na amargura
de tanta distância
As luzes da cidade
não acendem mais pra mim
as coisas que eu cantava
já não cantam mais pra mim
não adianta nada,
pra mim tudo se acaba
nesta dor sem fim.
4. Dulcinéia Popular Brasileira
(Tom Zé)
Chora, chora, chora
Chora mas não se demora
Mora, mora
Mora que ninguém dá bola
Chora, chora, chora
Chora mas não se demora
Mora, mora, mora
Mora que ninguém dá bola
Compre sob receita médica
Sua fossa se vitaminada
E chore pela Dulcinéia
Dulcinéia Popular Brasileira
Que em cada festival fica mais enferrujada
Há há há
Chora, chora, chora
Chora mas não se demora
Mora, mora
Mora que ninguém dá bola
Conselho de psiquiatra
Dá mais pé que o da mamãe
Compre logo seu saquinho plástico
Com a fossa bem concentrada
Garantida por dois anos
Manda em gelo conservada
Há há há
Chora, chora, chora
Chora mas não se demora
Mora, mora
Mora que ninguém dá bola
Chora, chora, chora
Chora mas não se demora
Mora, mora
Mora que ninguém dá bola
Chora logo
5. Qualquer Bobagem
(Tom Zé/Mutantes)
Chegue perto de mim
não precisa falar
acenda o meu cigarro
não queira me agradar
queira
Ouça esta canção
ou qualquer bobagem
deixa o coração falar
Que mais? Sei lá…
6. O Riso e a Faca
(Tom Zé)
Quero ser o riso e o dente
quero ser o dente e a faca
quero ser a faca e o corte
em um só beijo vermelho
Eu sou a raiva e a vacina
procura de pecado e conselho
espaço entre a dor e o consolo
a briga entre a luz e o espelho
Fiz meu berço na viração
eu só descanso na tempestade
só adormeço no furacão
LADO B
1. Jimmy, Renda-se
(Tom Zé/Valdez)
Guta me look mi look love me
Tac sutaque destaque tac she
Tique butique que tique te gamou
Toque-se rock se rock rock me
Bob Dica, diga,
Jimi renda-se!
Cai cigano, cai, camóni bói
Jarrangil century fox
Galve me a cigarrete
Billy Halley Roleiflex
Jâni chope chope chope chope
Ô Jâni chope chope
Ie relê reiê relê
2. Me Dá, Me Dê, Me Diz
(Tom Zé)
Ô, menina pinta lainhá, iê,
Biriti-guiri me dá
Biriti-guiri me dê
Biriti-guiri me diz
Biguidiz me diga logo tudo
Será serê serô se diz
Serei teu par
Será serê serô se diz
Serei teu par
Beco bico de batom eh rê!
Peça pinta pusserê, oh!
Riso piso bisco liso oh!
Brinco rindo tiritingo oh!
Colorido verde-branco
Verde-branco colorido
Ô, me pendura
Na corrente rente rente
3. Passageiro
(Tom Zé)
Sigo por uma estrela
volto por teu sossego
a mala, o casaco, até logo
um beijo
na volta eu te conto um segredo
A flor disse a primavera
o rei disse ao passarinho
eu tenho um segredo
pra você também
em um laço de fita de carinho
A noite, o vento frio,
a solidão
bebendo teu sorriso,
todo porto é meu amigo
4. Escolinha de Robô
(Tom Zé)
Todo mundo pronto pra começar
Cada qual por ordem no seu lugar
A corrente é 110
Vamos ligar
E já vai 1 e 2 e 3 e 1 e 2 e 3 e 1 e2 e 3 e já
Ao sentar-se dobre a perna pelo joelho
E se alguém lhe falar
É desgraça que vai, é desgraça que vem
Ha, ha, ha, queira sorrir, é permitido
Faça alguma orações por dia
Depois mande a consciência junto com os lençóis pra lavanderia
Ao sorri abra os lábios docemente
E se alguém te falar, da desgraça
5. Jeitinho Dela
(Tom Zé)
A revista provou
o jornal confirmou
pela fotografia,
que nos olhos dela
tem sol nascendo.
Mas não se explica,
nem se justifica
por que naquele dengo
do sorriso dela
a cidade
acabou se perdendo.
No jeitinho dela
botei o passo
no compasso dela
caí no laço
no abraço dela
me desencaminhei
no caminho dela
me desajeitei.
No jeitinho dela, no jeitinho
no jeitinho dela, no jeitinho.
Que ferve panela
quando falta gás
mas quanta gente boa
já trocou sua paz…
Pelo jeitinho dela,
um cientista
no jeitinho dela
disse na tevê
que o jeitinho dela
tem um micróbio
no jeitinho dela
que faz miolo derreter.
No jeitinho dela
no jeitinho dela
Geladeira já teve febre
penicilina teve bronquite
Melhoral teve dor de cabeça
e quem quiser que acredite
No jeitinho dela
vou me perder
no jeitinho dela
6. A Gravata
(Tom Zé)
A gravata já me laçou
a gravata já me enforcou
amém
A gravata já me laçou
a gravata já me enforcou
amém
Um cidadão sem a gravata
é a pior degradação
é uma coroa de lata
é um grande palavrão
é uma dama sem pudor
estripitise moral
é falta de documento
é como sopa sem sal
Tem a gravata borboleta
com o bico inclinado
tem a gravata caubói
com o rabinho duplicado
Tem a gravata de laço
que desce do colarinho
molenga como uma tripa
que se deita na barriga
Ela é a forca portátil
mais fácil de manejar
moderna, bem colorida,
para a vítima se alegrar
é um processo freudiano
para a autopunição
com o laço no pescoço
e a fé no coração
Ficha Técnica
Direção da Produção: João Araújo
Coordenação: Shapiro
Arranjos: Chiquinho de Morais , Hector Lagnafietta e Capacete
Estúdio: Gazeta – S. Paulo
Layout: Nicolau
Participação vocal de Baby Consuelo em “Jeitinho Dela”
Tom Zé – Grande Liquidação – 1968 – Sony Music
Ficha Técnica
Produtor: João Araújo
Assistente: Shapiro
Arranjos : Damiano Cozella, Sandino Hohagen
Técnicos de Gravação : Gauss / Reinaldo
Estúdio – Gazeta – S. Paulo
Layout da Capa e fotos: Officina Programação Visual – SP
Participação Especial : Os Versáteis – faixas 2-4-5-6 lado A
3-4-6 lado B
Os Brasões – faixas 1 e 3 lado A
Somos um povo infeliz, bombardeado pela felicidade.
O sorriso deve ser muito velho, apenas ganhou novas atribuições.
Hoje, industrializado, procurado, fotografado, caro (às vezes), o sorriso vende. Vende creme dental, passagens, analgésicos, fraldas, etc. E como a realidade sempre se confundiu com os gestos, a televisão prova diariamente, que ninguém mais pode ser infeliz.
Entretanto, quando os sorrisos descuidam, os noticiários mostram muita miséria.
Enfim, somos um povo infeliz, bombardeado pela felicidade. (As vezes por outras coisas também).
É que o cordeiro, de Deus convive com os pecados do mundo. E até já ganhou uma condecoração.
Resta o catecismo, e nós todos perdidos.
Os inocentes ainda não descobriram que se conseguiu apaziguar Cristo com os previlégios. (Naturalmente Cristo não foi consultado).
Adormecemos em berço esplêndido e acordamos cremedentalizados, tergalizados, yêyêlizados, sambatizados e missificados pela nossa própria máquina deteriorada de pensar.
“-Você é compositor de música “jovem” ou de música “brasileira”?”
A alternativa é falsa para quem não aceita a juventude contraposta à brasilidade. (Não interessa a conotação que emprestam à primeira palavra).
Eu sou a fúria quatrocentona de uma decadência perfumada com boas maneiras e não quero amarrar minha obra num passado de laço de fita com boemias seresteiras.
Pois é que quando eu abri os olhos e vi, tive muito medo: pensei que todos iriam corar de vergonha, numa danação dilacerante.
Qual nada. A hipocrisia (é com z?) já havia atingido a indiferença divina da anestesia…
E assistindo a tudo da sacada dos palacetes, o espelho mentiroso de mil olhos de múmias embalsamadas, que procurava retratar-me como um delinquente.
Aqui, nesta sobremesa de preto pastel recheado com versos musicados e venenosos, eu lhes devolvo a imagem.
Providenciem escudos, bandeiras, tranquilizantes, anti-ácidos, antifiséticos e reguladores intestinais. Amém.
TOM ZÉ.
P.S.
Nobili, Bernardo, Corisco, João Araújo, Shapiro, Satoru, Gauss, Os Versáteis, Os Brazões, Guilherme Araújo, O Quartetão, Sandino e Cozzela, (todos de avental) fizeram este pastel comigo.
A sociedade vai ter uma dor de barriga moral.
O mesmo
Lado A
1- São São Paulo (Tom Zé) 3’29
2- Curso Intensivo de Boas Maneiras (Tom Zé) 2’58
3- Glória (Tom Zé) 3’20
4- Namorinho de Portão (Tom Zé) 2’35
5- Catecismo, Creme Dental e Eu (Tom Zé) 2’44
6- Camelô (Tom Zé) 2’15
Lado B
1- Não Buzine Que Eu Estou Paquerando (Rancho e etc. – Hino da LBAP) (Tom Zé) 2’39
2- Profissão de Ladrão (Tom Zé) 2’35
3- Sem Entrada e Sem Mais Nada (Tom Zé) 2’40
4- Parque Industrial (Tom Zé) 3’16
5- Quero Sambar Meu Bem (Tom Zé) 3’50
6- Sabor de Burrice (Tom Zé) 4’18
LADO A
1. São São Paulo
(Tom Zé)
São São Paulo quanta dor
São São Paulo meu amor
São oito milhões de habitantes
De todo canto e nação
Que se agridem cortesmente
Correndo a todo vapor
E amando com todo ódio
Se odeiam com todo amor
São oito milhões de habitantes
Aglomerada solidão
Por mil chaminés e carros
Gaseados a prestação
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São São Paulo quanta dor
São São Paulo meu amor
Salvai-nos por caridade
Pecadoras invadiram
Todo o centro da cidade
Armadas de ruge e batom
Dando vivas ao bom humor
Num atentado contra o pudor
A família protegida
O palavrão reprimido
Um pregador que condena
Um festival por quinzena
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São São Paulo quanta dor
São São Paulo meu amor
Santo Antonio foi demitido
E os ministros de Cupido
Armados da eletrônica
Casam pela tevê
Crescem flores de concreto
Céu aberto ninguém vê
Em Brasília é veraneio
No Rio é banho de mar
O país todo de férias
E aqui é só trabalhar
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São São Paulo quanta dor
São São Paulo meu amor
2. Curso Intensivo de Boas Maneiras
(Tom Zé)
Fique à vontade
Tiau, good bye,
Ainda é cedo,
Alô, como vai?
Com Marcelino vou estudar
Boas maneiras
Pra me comportar.
Primeira lição: deixar de ser pobre,
Que é muito feio.
Andar alinhado
E não freqüentar, assim, qualquer meio.
Vou falar baixinho,
Serenamente, sofisticadamente,
Para poder com gente decente
Então conviver.
Fique à vontade, …. …. etc.
Da nobre campanha
Contra o desleixo
Vou participar
Pela elegância e a etiqueta
Vou me empenhar
Entender de vinhos, de salgadinhos,
Esnoberrimamente,
Trazer o País
sob um requinte intransigente.
Fique à vontade, … …, etc.
3. Glória
(Tom Zé)
Como um grande chefe de família
ele soube sempre encaminhar
seus filhos para a glória
glória, glória eterna.
Mas aguardando o dia do juízo
por segurança foi-lhes ensinando
a juntar muito dólar
dólar, dólar na terra.
Ensinou-lhes bem cedo a defender
a família e a tradição
balançando a bandeira do bem
o pecado punir sem perdão.
Mas nos seus pequenos erros
preferir a casa alheia
ressalvando a discrição
e tudo isso ensinou
com poucas palavras
e muitas ações.
Ensinou-lhes bem cedo que a honra
todos devem cultivar
entretanto, ao tomar decisões
ela nunca deve atrapalhar.
Mostrou que as boas razões
a causa justa é que é nobre
convive é com os milhões
e tudo isso ensinou
com poucas palavras
e muitas ações
4. Namorinho de Portão
(Tom Zé)
Namorinho de portão,
Biscoito, café,
Meu priminho, meu irmão…
Conheço essa onda,
Vou saltar da canoa,
Já vi, já sei
Que a maré não é boa
É filme censurado
E quarteirão
Não vai ter outra distração.
Bom rapaz, direitinho
Desse jeito não tem mais (Bis)
O papai, com cuidado
Já quer saber sobre o meu ordenado
Já pensa no futuro
E eu que ando tão duro
Não dou pra trás,
Entro de dólar e tudo,
Pra ele o mundo anda muito mal,
Lá vem conselho e coisa e tal.
Bom rapaz, direitinho, etc. etc.
Eu agüento calado
Sapato, chapéu,
O seu papo furado,
Paris, lua de mel,
A vovó no tricô,
Chacrinha, novela,
O blusão do vovô,
Aquele tempo bom que já passou
E eu, de “é”, de “sim”, de “foi”.
Bom rapaz, direitinho, etc. etc.
5. Catecismo, Creme Dental e Eu
(Tom Zé)
Vou morrer nos braços da asa branca,
No lampejo do trovão
De um lado ladainha,
Sem soluço e solução.
Nasci no dia do medo
Na hora de ter coragem
Fui lançado no degredo
Diplomado em malandragem
Caminho, luz e risco,
Aflito,
Xingo, minto, arrisco, tisco,
E por onde andei
Eu encontrei o bendito fruto em vosso dente,
Catecismo de fuzil
E creme dental em toda a frente.
Pois um anjo do cinema
Já revelou que o futuro
Da família brasileira
Será um hálito puro.
Nasci no dia do medo, etc. etc.
Pinta -la – inha
Da cana vintinha
Mandei dizer pro meu amor
Faça a cama na varanda
E não esqueça o cobertor
Não quero ser cantador
Só fazer valentia
Também gasto heroísmo
Nos braços de uma Maria.
Nos braços de uma Maria.
6. Camelô
(Tom Zé)
Ó português, pare de uma vez
De se queixar assim
Da sua sorte ruim
Eu que sou filho daqui, sou camelô
E você vem das Portugas, querendo ser doutor
Mas que horror
Calcule só
O que é viver o tempo todo
Perseguido pelo rapa
Porque na hora da corrida
Quem não sabe usar as pernas
Vai ficar sem ter comida
E veja lá
Farinha seca quantas vezes me faltou
A carne na minha boca
É coisa rara, sim senhor
Lá em casa não tem água na torneira
E vá logo sabendo
Lá também não tem torneira
Não vou mais em festas
Casamento ou batizado
Pois o meu guarda-roupa
Anda um pouco desfalcado
E quando chega o carnaval tão animado
Pra comprar fantasia
Faço um abaixo-assinado
E ainda tem assinante
Que é na base do fiado
LADO B
1. Não Buzine Que Eu Estou Paquerando
(Tom Zé)
Sei que o seu relógio
Está sempre lhe acenando BIS
Mas não buzine
Que eu estou paquerando
Eu sei que você anda
Apressado demais
Correndo atrás de letras,
Juros e capitais
Um homem de negócios
Não descansa, não:
Carrega na cabeça
Uma conta-corrente
Não perde um minuto
Sem o lucro na frente
Juntando dinheiro,
Imposto sonegando,
Passando contrabando,
Pois a grande cidade não pode parar (BIS)
Sei que o seu relógio está sempre lhe acenando,
Mas não buzine, que eu estou paquerando
A sua grande loja
Vai vender à mão farta
Doença terça-feira,
E o remédio na quarta,
Depois em Copacabana e Rua Augusta,
Os olhos bem abertos,
Nunca facilitar,
O dólar na esquina
Sempre pode assaltar
Mas netos e bisnetos
Irão lhe sucedendo
Assim, sempre correndo,
Pois a grande cidade não pode parar
2. Profissão de Ladrão
(Tom Zé)
Deram parte ao delegado
Que eu era filho vadio
Semana que eu não trabalhava
Sustentava mulher com cinco fio
O delegado me intimou
Pr´eu ir na delegacia
Fui prestar depoimento
Daquilo que eu nem sabia
Mas eu tenho tanta profissão
Que já nem sei contar
Inventor, industrial, até cirurgião
Em muita gente que não presta fiz
intervenção
Vou lhe contar
Que no fabrico de boneco sou industrial
Mas vosmicê guarde segredo pela caridade
Pois eu atendo a domicílio na sociedade
E como inventor me orgulho porque eu
Já honrei a memória de Santos Dumont
Inventei um maquinário
Ainda lá na minha terra
Fabricava mil cruzeiros
Mais bem-feito que os da Inglaterra
Sei que quem rouba um, é moleque
Aos dez, promovido a ladrão
Se rouba 100 já passou de doutor
E 10 mil, é figura nacional
E se rouba 80 milhões…
É a diplomacia internacional
A “Boa Vizinhança” e outras tranças
É que na profissão de ladrão
Injustiça e preconceito
Dá chuva pra inundação
Para alguns fama e respeito
Pra outros a maldição
Pois o tamanho do roubo
Faz a honra do ladrão
E é por isso que eu só vou para o xadrez
Seu delegado
Se o senhor trouxer primeiro
Toda a classe para o meu lado
Mas neste dia de aflição
Não vai ter prisão no mundo
Pra caber a multidão
Eu sei que não sou delicado
Mas quem se deu por ferido
Foi porque tem seu pecado
3. Sem Entrada e Sem Mais Nada
(Tom Zé)
Sem entrada e sem mais nada,
Sem dor e sem fiador
Crediário dando sopa
Pro samba eu já tenho roupa,
Oba, oba, oba ….
Sem entrada e sem mais nada,
Sem dor e sem fiador,
E ora veja, antigamente
O fiado era chamado
“Cinco letras que choram”
E era feio: um rapaz educado
Não dizia palavrão,
Não comprava no fiado
Nem cuspia pelo chão.
Mas hoje serenamente
Com a a minha assinatura
Eu compro até alfinete,
Palacete e dentadura.
E a caneta para assinar
Vai ser também facilitada.
Sem entrada e sem mais nada, etc. etc.
Cinco letras que choram:
Já se via um cartaz dentro da loja
Pra cortar a intenção
Mas o fiado que era maldito
Hoje vai de mão em mão
Você compra troca e vive
Sufocado, a prestação,
Vou propor no crediário
A minha eterna salvação
E a gorjeta de São Pedro
Vai ser também facilitada.
4. Parque Industrial
(Tom Zé)
Retocai o céu de anil
Bandeirolas no cordão
Grande festa em toda a nação.
Despertai com orações
O avanço industrial
Vem trazer nossa redenção.
Tem garota-propaganda
Aeromoça e ternura no cartaz,
Basta olhar na parede,
Minha alegria
Num instante se refaz
Pois temos o sorriso engarrafado
Já vem pronto e tabelado
É somente requentar
E usar,
É somente requentar
E usar,
Porque é made, made, made, made in Brazil.
Porque é made, made, made, made in Brazil.
Retocai o céu de anil, … … … etc.
A revista moralista
Traz uma lista dos pecados da vedete
E tem jornal popular que
Nunca se espreme
Porque pode derramar.
É um banco de sangue encadernado
Já vem pronto e tabelado,
É somente folhear e usar,
É somente folhear e usar.
5. Quero Sambar Meu Bem
(Tom Zé)
Quero sambar, meu bem
Quero sambar também
Não quero é vender flores
Nem saudade perfumada
Quero sambar, meu bem
Quero sambar também
Mas eu não quero andar na fossa
Cultivando tradição embalsamada
Meu sangue é de gasolina
Correndo, não tenho mágoa
Meu peito é de sal de fruta
Fervendo no copo d´água
6. Sabor de Burrice
(Tom Zé)
Veja que beleza
em diversas cores
veja que beleza
em vários sabores
a burrice está na mesa
ensinada nas escolas
universidade e principalmente
nas academias de louros e letras
ela está presente
e já foi com muita honra
doutorada honoris causa
não tem preconceito ou ideologia
anda na esquerda, anda na direita
não tem hora, não escolhe causa
e nada rejeita
veja que beleza
em diversas cores
veja que beleza
em vários sabores
a burrice está na mesa
refinada, poliglota
ela é transmitida por jornais e rádios
mas a consagração
chegou com o advento da televisão
é amigo da beleza
gente feia não tem direito
conferindo rimas com fiel constância
tu trazes em guarda
toda concordância gramaticadora
da língua portuguesa
eterna defensora
Composições de Tom Zé gravadas por outros artistas e participações:
Álbum THAÍS GULIN – Thaís Gulin
• Defeito 10: Cedotardar (Tom Zé e Moacir Albuquerque)
Álbum ôÔÔôôÔôÔ – Thaís Gulin
Ali sim, Alice
Álbum PECADINHO – Márcia Castro.
• Frevo (Pecadinho) (Tom Zé / Tuzé de Abreu), 2007
Álbum CADA MESA É UM PALCO – Cláudio Lima e Rubens Salles
• Minha Carta (Tom Zé), 2006
Álbum ROTAS – Manuela Rodrigues
• Tô (Tom Zé / Elton Medeiros), 2003
Álbum MUTANTES – Mutantes
• “2001” (Mutantes / Tom Zé)
Álbum CANAMARÉ – Banda Canamaré
• “Lá Vem a Onda” (Tom Zé/Adérson Benvindo)
Álbum TANTAS COISAS – Rebeca Matta
• “O Amor é Velho-menina” (Tom Zé)
Álbum GAROTAS BOAS VÃO PRO CÉU, GAROTAS MÁS VÃO PRA QUALQUER LUGAR – Rebeca Matta
• “XIQUE XIQUE” (Tom Zé/ José MIguel Wisnik)
Álbum ARREPIÔ – VANGE MILLIET
• “NAVE MARIA” (Tom Zé)
Álbum LOVE LEE RITA – Ná Ozzetti
• “2001” (Mutantes / Tom Zé)
Álbum GOL DE QUEM? – Patu Fu
• Faixa 9 – Qualquer Bobagem (Tom Zé e Os Mutantes).
Álbum ANO BOM – VICENTE BARRETO
• “HEIN?!”(VICENTE BARRETO / TOM ZÉ)
Álbum DISCO DA MODA – Rolando Boldrin
• Moda do Fim do Mundo – (Tom Zé, Rolando Boldrin e Valdemar Szaniecki)
Álbum VANGE MILLIET – Vange Milliet
• Nave Maria (Tom Zé)
Álbum VICENTE BARRETO – Vicente Barreto
• “Hein?!” (Vicente Barreto/Tom Zé)
Álbum TÁ ASSUSTADO? – Edvaldo Santana
• “O Dicionário Faliu” (Edvaldo Santana/Tom Zé)
Álbum SEVERINO – OS PARALAMAS DO SUCESSO
• “Navegar Impreciso” (Hebert Vianna) com participação de Tom Zé
• “Músico” (Tom Zé/Bi Ribeiro/Herbert Vianna)
Álbum SERGINHO LEITE – Serginho Leite.
• Criser (Thriller). (Tom Zé/Lula Mercúrio/Quinze Sá Jones/Sérgio Temperton Leite/ Com Dollar Jackson/Electric Boogies)
Álbum ÁGUA e MÁGOAS – Odair Cabeça de Poeta e Grupo Capote
• Negra (Vicente Barreto, Tom Zé, Fábio Paes).
Álbum O FORRÓ VAI SER DOUTOR – Odair Cabeça de Poeta e Grupo Capote
• “Sertão de Nova York” (Odair Cabeça de Poeta / Tom Zé)
• “O Forró vai ser Doutor” (Odair Cabeça de Poeta / Tom Zé)
• “Luar de Iô Iô” (Odair Cabeça de Poeta / Tom Zé)
• “Você Inventa” (Tom Zé / Odair Cabeça de Poeta)
• “A Dor é Curta e o Nome Comprido” (Odair Cabeça de Poeta / Tom Zé)
Álbum VALEU – Paulinho Boca de Cantor
• “A Boca da Cabeça” (Tom Zé)
Álbum Odair Cabeça de Poeta e Grupo Capote.
• Buxixo na Aldeia (Odair Cabeça de Poeta, Marinho e Tom Zé).
Álbum GRUPO CAPOTE NO FORROCK – Odair Cabeça de Poeta e Grupo Capote
• “Eu Disse que Disse” (Tom Zé)
Continental, 1973
Álbum Os Brazões – 1969
• Feitiço (Tom Zé)
Álbum GILBERTO GIL – Gilberto Gil
• 2001 (Tom Zé-Rita Lee)
Álbum TROPICÁLIA OU PANIS ET CIRCENSES
• Parque Industrial (Tom Zé)
Intérpretes: Gal Costa, Rogério Duprat, Gilberto Gil, Nara Leão, Os Mutantes, Torquato Neto, Caetano Veloso e Tom Zé
Relançado em CD pela Universal, 1992
Álbum MARTINHA (1971) – Martinha
Silêncio de Nós Dois (Tom Zé)
Álbum 3001 – RITA LEE
“2001” (TOM ZÉ / RITA LEE)
“3001” (TOM ZÉ, RITA LEE E ROBERTO DE CARVALHO)
UNIVERSAL, 2000
Álbum UM TOM DO ZÉ – Bete Calligaris
• Silêncio de Nós Dois (Tom Zé)
• Cedotardar (Tom Zé / Moacyr Albuquerque);
• Me dá, me dê, me diz (Tom Zé);
• Se o Caso é Chorar (Tom Zé / Perna);
• Passageiro (Tom Zé);
• Vai (Menina Amanhã de Manhã) (Tom Zé / Perna);
• Distância (Tom Zé, João Araújo, L. Marques);
• O Amor é Velho – menina (Tom Zé);
• Só (Solidão) (Tom Zé);
• Valsar (Tom Zé);
• Ui! (Você Inventa) (Tom Zé / Odair Cabeça de Poeta);
• O Riso e a Faca (Tom Zé)
Álbum É CACO DE VIDRO PURO – Cascabulho
• Lavagem da Igreja de Irará (Tom Zé)
Álbum JUSSARA – Jussara Silveira
• A Volta de Xanduzinha (Tom Zé)
Álbum MI CASA, SU CASA – PENÉLOPE
• Namorinho de Portão (Tom Zé)
Álbum ROSA FERVIDA EM MEL – MÍRIAM MARIA
• “O Amor é Velho-Menina” (Tom Zé)
Álbum TÁ NA BOA… – TIANASTÁCIA
• Conto de Fraldas
• Conto de Fraldas II
Álbum NA BOCA DO SAPO TEM DENTE – TIANASTÁCIA
• “Sapo Antunes” (Tom Zé / Beto Nastácia)
Álbum BRIZZI DO BRASIL – Aldo Brizzi
• Down, Down, Down (Aldo Brizzi / Francisco Serrano)
Álbum 3.1 – Jair Oliveira
• Pacote Pacato (Jair Oliveira / Tom Zé)
Álbum POEIRA LEVE – Adriana Maciel
• Tô (Tom Zé / Elton Medeiros),
• Só (Solidão) (Tom Zé);
Álbum ANNA RATTO (AO VIVO) – Anna Ratto
• Se o caso é chorar (Tom Zé / Perna)
Álbum ISCA DA POLÍCIA NO PALCO SHOWLIVRE (AO VIVO) – Banda Isca da Polícia
• Itamargou (Tom Zé)
Álbum ALEGRIA – Beatriz Azevedo
• Pelo Buraco (Beatriz Azevedo) participação de Tom Zé
Álbum JOURNAL DE BAD – Bárbara Eugênia
• Dor e dor (Tom Zé)
Álbum ALMA SESSION – Bruno E.
Mister Modernismo (Tom Zé / Bruno E.)
Álbum CANAMARÉ – Canamaré
Lá Vem a Onda (Tom Zé)
Álbum MILLENNIUM – Capital Inicial
2001 (Tom Zé/Rita Lee)
Álbum AQUARELA, CARIOCA & ORCHESTRA – Carioca Freitas
Menina Amanhã de Manhã (Tom Zé / Perna)
Álbum LIVE AT THE SWATLODGE – Chemystry Set
Ogodo, Ano 2000 (Tom Zé)
Álbum EM TEMPO DE CRISE NASCEU A CANÇÃO – Chicas
Menina Amanhã de Manhã (Tom Zé e Perna)
Álbum CADA MESA É UM PALCO – Claudio lima
Minha Carta (Tom Zé)
Álbum UH-OH – David Byrne
Something Ain’t Right (David Byrne) participação Tom Zé
Álbum CURRICULUM – Érica Martins
Namorinho de Portão (Tom Zé)
Álbum MODINHAS – Érica Martins
A Curi (Tom Zé / Elifas Andreato)
Álbum AUGUSTA, ANGELICA e CONSOLAÇÃO – Fabiano Medeiros
Augusta, Angélica e Consolação (Tom Zé e Perna)
Álbum UMA PROFESSORA MUITO MALUQUINHA – Fernanda Takai e Coral Maluquinho
Menina, Amanhã de Manhã (Tom Zé)
Álbum ALGORITMO – Filarmônica de Pasárgada
7 Comentários (Marcelo Segreto/Caê Rolfsen/Cacá Machado/Gustavo Galo / TatáAeroplano/Rafa Barreto/Julinho Addlady) – participação: Tom Zé entre outros
Álbum RÁDIO LIXÃO – Filarmônica de Pasárgada
Bla bla bla (Marcelo Segreto) participação Tom Zé
Álbum GAL ESTRATOSFÉRICA – Gal Costa
Por Baixo (Tom Zé)
Álbum MACUNAÍMA ÓPERA TUPI – Iara Rennó
Conversa (Iara Rennó / Mário de Andrade) participação Tom Zé
Álbum BICHO DE 7 CABEÇAS, Vol. 2 – Itamar Assumpção
É Tanta Água (Itamar Assumpção) participação Tom Zé
Álbum ENCARNADO – Juçara Marçal
Não Tenha Ódio no Verão (Tom Zé)
Álbum AÇOITE – Juliana Amaral
Carta (Tom Zé)
Álbum KARNAK – Karnak
Cala a boca menina – achei alguma informação sobre ser de Dorival Caymmi mas não consegui confirmar. Tom Zé só participa
Álbum LA PAMPA GRANDE – La Chicana
Dos Mil Uno (Tom Zé/Rita Lee)
Álbum OI – Laura Finocchiaro
Duelo (Tom Zé)
Álbum DE PÉS NO CHÃO – Márcia Castro.
Você Gosta (Tom Zé / Hermes Aquino)
Álbum MAREIKE VALENTIN – Mareike Valentin
Menina, Amanhã de Manhã (Tom Zé / Perna)
Álbum ELECTRA – Alice Caymmi
Mãe Solteira (Tom Zé / Elton Medeiros)
Álbum O FIM ESTÁ PRÓXIMO – MEIA DÚZIA DE 3 OU 4
Classificados (Daniel Carezzato / Marcos Mesquita)
Álbum FLORESTA – Mia Doi Todd
Menina, Amanhã de Manhã (Tom Zé / Perna)
Álbum HOMEM-ESPUMA – Mombojó
Realismo Convincente (Tom Zé / Mombojó)
Álbum IAIÁ – Mônica Salmaso
Menina, Amanhã de Manhã (Tom Zé / Perna)
Álbum NUESTRAS CANCIONES – Onda Vaga
Augusta, Angélica e Consolação (Tom Zé)
Álbum OS AMANTICIDAS – Os Amanticidas
Pisadeira (Lucas Frazão) participação Tom Zé
Álbum MULTIPLICAR-SE ÚNICA – Regina Machado – DISCO INTEIRO COM COMPOSIÇÕES DE TOM ZÉ
Lua Gira Sol (Tom Zé)
Multipicar-se Única (Tom Zé)
O Amor É Velho-Menina (Tom Zé)
Menina Jesus (Tom Zé)
Complexo de Épico (Tom Zé)
Augusta, Angelica e Consolação (Tom Zé)
João Nos Tribunais (Tom Zé)
Tô (Tom Zé / Elton Medeiros)
Só (Solidão) (Tom Zé)
Álbum CRIMSON – Sally Ramirez e Doug Robinson
Menina, Amanhã de Manhã (Tom Zé / Perna)
Álbum TA NA BOCA – Tianastacia
Conto de Fraldas
Álbum LADO Z VOL.1 – Zeca Baleiro
Menina Jesus (Tom Zé)
Álbum ZORÓ VOL.1 – Zeca Baleiro
Dona Libélula (Antônio Rezende / Zeca Baleiro) interpretação Tom Zé e Zeca Baleiro
Álbum DOMINGO – Zumbido (programa de Paulinho Mosca)
Menina, Amanhã de Manhã (Tom Zé / Perna)
Álbum AÇOITE – Juliana Amaral
Carta (Tom Zé)
Álbum HAIH OR AMORTECEDOR – Os Mutantes 2009
Querida Querida (Sérgio Dias/Tom Zé)
Teclar (Sérgio Dias/Tom Zé)
2000 e Agarrum (Sérgio Dias/Tom Zé) participação Tom Zé
Bagdad Blues (Sérgio Dias/Tom Zé)
Anagrama (Sérgio Dias/Tom Zé)
Samba do Fidel (Sérgio Dias/Tom Zé)
HOMENAGENS:
Álbum OBRIGADO TOM ZÉ – Moraes Moreira
Obrigado Tom Zé (Moraes Moreira)
Álbum 81 ANOS DE TOM ZÉ – Meia Dúzia de 3 ou 4 – é um disco para homenagear Tom Zé. Nenhuma música é dele e nem tem participação
Obra de Ficção
Deixe Disso, Toinho!
O Amore é Novo-menino
Sopapo no Cognitivo
Neusa
O Frentista de Irará
Br-081
Complexo de Inferioridade
Quando Jant Perdeu a Razão
São São
Jardinzinho
Desfibrilador
Todo Mundo S2 Você