Jogos de armar – Trama 2000
PRODUTORES EXECUTIVOS João Marcello Bôscoli, André Szajman e Cláudio Szajman
A&R Kid Vinil
Assistência Executiva Marcelo Ribeiro
Direção Musical Gilberto Assis
Gravação Alê Siqueira
Arranjos Tom Zé, Gilberto Assis e Alê Siqueira
Organização do Cedê Cartilha de Parceiros Flávio de Souza
NÚCLEO DE MODA E IMAGEM DA TRAMA
Direção Emanuela Carvalho
Produção de Moda Carlos Escorel / Pat Prudente / Erick Wolf
Gerência de Design Gráfico Patricia Diogo
Produção Gráfica Jardel Giúdice Maluf e Luciana Mafra
Fotos Debby Gram
Make up Erick Wolf
PROJETO GRÁFICO Elifas Andreato e Bento Huzak Andreato
Direção de Arte Elifas Andreato
Editoração Eletrônica e Arte Final Bento Huzak Andreato
Assistente de Produção Gráfica Janaina Abreu
Lauro Léllis – bateria
Gilberto Assis – baixo, baixolão, violão, vocais
Jarbas Mariz e Sérgio Caetano – bandolins e vocais.
Marco Prado – guitarra
Cristina Carneiro – teclados
Tom Zé – violões de Chamegá
Luanda e Zilda Maria vocais
Gilmar Ayres tenor
Ana Sueli Nobre, Naoko Akamine e Juliana Parra sopranos
Marcos Suzano percussão
Ana Luísa Lima cravo (em Asa Branca)
Guilherme Kastrup zabumba, tambor-boi (em Medo de Mulher)
José Miguel Wisnik vocal (em Peixe Viva (Iê-Quitíngue))
Swami Jr. Violão de 7 cordas
Alê Siqueira vocal grave rasgado (em Cafuas, Guetos e Santuários)
Toninho Ferragutti acordeom
Bocato trombone
Carlos Malta saxofones, pífanos e flautas
Renato Anesi cavaquinho, bandolim, cryvaco, viola caipira e banjo
Nayara entradas intempestivas no estúdio
Instronzémentos
CONSTRUTORES
HertZé (sampler brasileiro, 1978) Roberto Maia,Rui Ohara e Walter Ohara
Buzinório Roberto Maia, Rui Ohara, Walter Ohara e Luiz Botelho
Lay out Andy Rubinstein e Cláudia Rubinstein Soares
Canetas Lazzari Claudinho
Enceroscópio Antonio Nascimento, Rui Ohara e Walter Ohara
Serroteria Antonio Nascimento
PERFORMANCE NO ESTÚDIO
Gilberto Assis , Alê Siqueira e Tom Zé
Mixagem Flávio de Souza, Alê Siqueira, Estúdio Compasso
Edições Alê Siqueira
Masterização Marcos Eagle
ILUSTRAÇÃO DA DANÇA DO CHAMEGÁ Edu Manzano
DANÇA DO CHAMEGÁ Laura Huzak Andreato e Paula Lisboa
AGRADECIMENTOS
Flávio Augusto Estúdio Compasso
Jorge Polsen Tecnologia Musical
Neusa S. Martins Assessoria
Dr. Osíris Camponês do Brasil e Dra. Mara Behlau Assistência e orientação vocal
João Marcelo Bôscoli encorajamento e ousadia
Música do Século Passado
Não é um CD Duplo
Em 17 de maio de 78 esses instrumentos, idéias e canções subiram ao palco da GV – Teatro da Fundação Getúlio Vargas – S. Paulo. Na pág. 2 (v. abaixo), notícias desse show nos jornais do dia.
Lá, o embrião de células musicais que podem ser manejadas, remontadas: um tipo de canção-módulo, aberta a inúmeras versões, receptiva à interferência de amadores ou profissionais, proporcionando jogos de armar nos quais qualquer interessado possa fazer por si mesmo:
a. uma nova versão da música, pela remontagem de suas unidades constituintes;
b. aproveitamento de partes do arranjo que foram abandonadas;
c. reaproveitamento de trechos de letra não usados nas canções,para completá-las ou refazê-las;
d. construção de composições inteiramente novas, com células recolhidas à vontade, de qualquer das canções do disco-mãe.
Acompanha o cedê auxiliar (não é um cedê duplo!), Cartilha de Parceiros.
Neste, cada célula ou entrecho é apresentado separadamente, para permitir reelaborações e remontagens.
As bandas de garagens podem naturalmente fazer arranjos ou recomposições ao vivo – até fora da garagem.
Segue uma sucinta instrução Editora Irará/ Trama, para o caso de trabalhos que queiram assumir compleição profissional: Qualquer utilização comercial, reprodução ou publicação de peças derivadas de alterações das obras originais do artista Tom Zé, independentemente de suporte ou meio – digital ou analógico – deverá ser regularizada na Editora Irará/Trama.
Mondesmontável
por CARLOS RENNÓ
O CD principal, aqui, na verdade não é o “Jogos de Armar”, mas sim o “Cartilha de Parceiros (CD Auxiliar)”.
Em “Jogos de Armar” Tom Zé, seus parceiros-próximos e produtores fizeram apenas uma versão, uma montagem possível dos módulos contidos no “Cartilha de Parceiros ”.
As versões mais importantes, naturalmente, serão feitas pelos parceiros-distantes, amadores e/ou profissionais. O caráter da proposta carrega no lúdico-provocativo e na instigação intrínseca e extrínseca:
1) convite a meter a mão;
2) convite a suprir as faltas;
3) navegação extragalática,
4) escola aberta,
i. é:
1) participar, compor, remanejar, etc.
2) os dados fornecidos no “Cartilha de Parceiros”estão repletos de faltas, de incompletude. Pretende-se pedir ajuda mais intensa à criatividade do parceiro-distante, amador ou profissional; tanto em trechos do próprio canto como na confecção de novos módulos ou ligações dos arranjos, que são faltantes nos dados desse CD Auxiliar;
3) o assunto das 14 tentativas-canções realizadas no cd-mãe “Jogos de Armar” permite uma navegação fora de sua gravidade e de seus limites. Navegação tanto racional e lógica quanto arbitrária e contraditória. Quer dizer: duas ou mais canções podem, na mão do parceiro-distante, criar uma terceira, nova e que não existe no cd-mãe;
4) a atividade do parceiro-distante pode trabalhar com as formas conhecidas da música popular e até com técnicas e formas do terreno da música erudita:
a) colhendo dois temas contrastantes para compor um desenvolvimento semelhante ao da forma-sonata;
b) praticar o contraponto clássico; ou essa espécie de superposição usada por Tom Zé na versão constante do cd-mãe, mostrando sempre uma canção de muitas faces, uma canção quase cubista;
c) recursos da música serial e dodecafônica: espelho, inversão, e outros, como a inversão feita no show anterior com “Hey Jude” (ainda não gravada) etc;
5) aquilo que nem eu, nem Tom Zé e nem Deus pode imaginar…
Dançar o Chamegá
Os quadrinhos de Edu Manzano incluídos no encarte (v. abaixo) mostram os passos mais convidativos da dança do Chamegá. Na formulação geral dessa dança, coreografada por Laura Huzak Andreato e Paula Lisboa, observamos um vocabulário gestual brasileiro, pesquisado não só na rua como nas danças folclóricas recolhidas por Mário de Andrade, Câmara Cascudo e outros autores em diversas regiões do Brasil.
Tom Zé
1. PASSAGEM DE SOM 3:29
2. PEIXE VIVA (IÊ-QUITÍNGUE) 4:07
3. JIMI RENDA-SE / MOEDA FALSA 3:03
4. CHAMEGÁ 3:43
5. DESAFIO 2:39
6. PISA NA FULÔ 2:38
7. ASA BRANCA 3:39
8. CONTO DE FRALDAS 3:39
9. MEDO DE MULHER 2:11
10. O PIB DA PIB 3:05
11. CAFUAS, GUETOS E SANTUÁRIOS 0:45
12. A CHEGADA DE RAUL SEIXAS E LAMPIÃO NO FMI 3:39
13. PERISSÉIA 4:37
14. SONHAR (SONHO DA CRIANÇA-FUTURO-BANDIDO DA FAVELA NA NOITE DE NATAL) 3:48
1. PASSAGEM DE SOM
(Tom Zé/ Gilberto Assis)
Gênero:chamegá-exaltação
ARRASTÃO DE ARI BARROSO E DO
COMPOSITOR DAVID GORENCHENDLER
Ed. Irará (Trama) 70274607 FALA: Alô! Tem som aqui neste microfone? Quanta microfonia! 1, 2, 3,
2. PEIXE VIVA
(Tom Zé/ Zé Miguel Wisnik)
Gênero:chameguinho choro
ARRASTÃO DE EDU LOBO
Ed. Irará (Trama) 70274619 Iê quitíngue lelê Lambaio enguia curimã Lambaio enguia curimã Lambai
3. JIMI RENDA-SE
(Tom Zé/ Valdez )
Gênero: maracapoeira
ARRASTÃO DO FALAR SOFISTICADO
Ed. Sonata (Fermata) 70274620
Guta me look mi look love me Tac sutaque destaque tac she Tique butique que tique te gamou Toqu
MOEDA FALSA
(Tom Zé)
Gênero: maracapoeira
Ed. Irará (Trama) 70274632 Fala: E logo o Brasil, que vai ser um país rico, quando esse diabo desse
4. CHAMEGÁ
(Tom Zé/Vicente Barreto)
Gênero: chamegá
ARRASTÃO DE JACKSON DO PANDEIRO E GORDURINHA
Ed. Irará (Trama) 70274644
Com ê
Seu jei de tê
Graça no balan
Miná meu tem
Crian
Passa na lembran
Conté
Que o no
me dé
era diferen
seu nom era Embolá
no falar da gen
“Aí chegou o gringo com
o sequencer para prender
o músico brasileiro na camisa-de-força do metronímico 4/4 rock-pop-box.” (David Byrne, em carta)
Xanduzinha, que vergonha
Espezinharam-na-fulô
E chegou um chamego chamado pop
Ah, puta que pariu,
Bate funk bate folk
Ah, puta que pariu
Bate estaca, bate rock
Ah, puta que pariu,
Gonzaga filho adotado
Yê Olodum
Renasceu mais avexado
Yê Olodum ‘’
5. DESAFIO
(Tom Zé / Gilberto Assis)
Gênero: desafio nordestino
ARRASTÃO DE JORGE MELO
Ed. Irará (Trama) 70274656
Doutor: Meus senhores, vou lhes apresentar A figura do homem popular, Esse tipo idi
6. PISA NA FULÔ
(João do Valle/ Ernesto Pires/ Silveira Júnior)
Gênero: xote
Ed. Warner/Chapell 70274668
Pisa na fulô, pisa na fulô,
Pisa na fulô,
Não maltrata o meu amor
Eu vi menina que nem tinha doze anos
Agarrar seu par e também sair dançando
Sastifeita, dizendo: “Meu amor,
Ai, como é gostoso
Pisa na fulô”.
Pisa na fulô, pisa na fulô … … …
Sô Serafim cochichava com Diõ
Sou capaz de jurar
Que nunca vi forró melhor
Inté vovó
Garrou na mão de vovô
Vambora meu veinho
Pisa na fulô.
Pisa na fulô, pisa na fulô … …
De madrugada Zeca Caxangá
Disse ao dono da casa:
“Não precisa me pagar.
Mas por favor,
Arranje outro tocador
Que eu também quero
Pisá na fulô”.
7. ASA BRANCA
(Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira)
Gênero: baião
Ed. Fermata 70274670
Quando olhei a terra ardendo Qual fogueira de São João Eu perguntei, ei, a Deus do cé –
8. CONTO DE FRALDAS
(Tom Zé)
Gênero: baião-acalanto
ARRASTÃO DOS QUEBRA-LÍNGUAS NORDESTINOS
Ed. Irará (Trama) 70274681
Penso Que pena que seja pouco Só penso pensamento Que possa te procurar De cá, de lá Baile
9. MEDO DE MULHER
(Tom Zé)
Gênero: chamegá
ARRASTÃO DE UM JINGLE PARA MÁQUINAS DE ESCREVER ENCOMENDADO POR WASHINGTO
Ed. Irará (Trama) 70274693 Iê le le lê Iê le le lê A Dora me botou fora A Biu me despediu A Marta n
10. O PIB DA PIB
(Tom Zé / Sérgio Molina / Alê Siqueira)
Gênero: Bloco de Turistas Europeus para o Cordão das Meninas do Nordeste
ARRASTÃO DE ROSSINI – O BARBEIRO DE SEVILHA
Ed. Irará (Trama) 70274716
Catorze, catorze anos,
Doze anos, doze anos
Imagine um gringo daquele tamanho
Em cima da criança pobre nordestina,
Sufocada, magricela, seca, pequenina,
Ah, Nossa Senhora minha
O PIB da PIB que pimba no seco
Pimba no molhado
Pimba no seco saco seco
Peixe badesco na filha dos outros é refresco
Ô Senhora, Mãe Senhora,
Nessa hora olha pra tua menina, Senhora
A Prostituição Infantil Barata
É a criança coitadinha do Nordeste
Colaborando com o Produto Interno Bruto
E esse produto enterra bruto
Refrão: Que dor, que dor Que suja a bandeira Oi, essa quebradeira Oisqui
Catorze, catorze anos,
Doze anos, doze anos
VERSOS PARA POSSÍVEIS PARCERIAS
(Versos para possíveis parcerias)
O governo acha que se ela pega
Uma aidisinha não é nada, nada
Passa na vizinha, vai na rezadeira
Pede à benzedeira chá de aroeira
Que esse Produto Interno Bruto
Justifica tudo.
A grana da Europa que bate na porta
Doutor pouco se importa se ela seja porca
Vêm o godo, o visigodo, o germano, o bretão
Eita, globarbarização
O diabo zela a politipanela
Quando acende vela
Reza Ave-Maria todo o dia
Esse capeta pelo rabo
Soque esse diabo
Ah, ah, pinta-la-inha
Bê cana-bentinha
Cê cê de marré-deci
Refrão: Que dor, que dor,
Que suja a bandeira
Oi, essa quebradeira
Oisquindô – lalá
14. SONHAR
(SONHO DA CRIANÇA- FUTURO–BANDIDO DA FAVELA, NA NOITE DE NATAL)
(Tom Zé / Sérgio Molina)
Gênero: samba-enredo
ARRASTÃO DA ALA ESFARRAPADOS DE JOÃOSINHO TRINTAE DO PROGRAMA DO MAESTRO
Ed. Irará (Trama) 70274753
TEXTO DO CANTOR
Iê iô
Ié quá foguê (Bis)
Sonhar o pão
Toda a manhã
E ser aquele que mastiga
Sonhar o gosto
Do alimento
Se misturando na saliva
Aquele aroma
Que a gente sente
Pó de café na água quente
Sonhar escola
Senhor São Bento
Sonhar o tal discernimento
Sonhar a besta
Que em seu fastio
A fúria do começo viu
Sonhar o fogo
Do quilarão
Que veio do ainda-não
Gratia plena
Vida terrena
O céu aqui a gente pare
Filii tui
Na via crucis
Per mare nostrum navigare
Iê iô
Ié quá foguê
Sonhar a porta
Da esperança
O entra e sai da vizinhança
Sonhar o curso
Do marinheiro
Que viajou o mundo inteiro
Sonhar a lenda
Por cuja fenda
Sabedoria nos assalta
Sonhar o mito
Que em todo o rito
O filho ao parricídio ata
Iê, iô
Ié quá foguê (Bis)
De San Juãããã
ão dá dó de
TEXTO CONTRA O CANTOR
Quê tum guê guê
Quê tum gô
Quê quê quê quê ta dê
Nem sonho
Me apanha
Porca dessa bronha
Sacana
Me engana
Rabo de mundana
Na luta
Labuta
Tã tã tã tão bruta
Insulta
Disputa
Tã tã tã tão bruta
A merda
Quem herda
Desfruta
A terra
Tempera
A fruta
Quê tum guê guê
Quê tum gô
Quê quê quê quê ta dê
Sinala
A sina
Assa sa sassina
Infausto
Me arrasto
Solto neste pasto
Assusta
Degusta
Tanto faz
Renego
Arredo
Satanás
Quê tum guê guê
Quê tum gô
Quê quê quê quê ta dê