1. HAPPY END
(TOM ZÉ – ANTONIO PÁDUA)
Você fala que sim,
que me compreende;
você fala que não,
que não me entrega
que não me vende
que não me deixa
que não me larga.Mas você deixa tudo
deixou
você deixa mágoa
deixou
você deixa frio
deixou
e me deixa na rua
deixou.Você jura, jura,
jurou,
você me despreza
prezou,
você vira a esquina
esquinou
e me deixa à toa
tô, tô, to.Você passa mal
toma Sonrisal
se engana, mas vai em frente
pra mim não tem jeito
não tem beijo final
e não vai ter happy end
e não vai ter happy end
e não vai ter happy. |
2. FREVO
(TOM ZÉ – TUZÉ DE ABREU)
Esta noite não quero saber de conselho
esqueça, deixe pra lá
me arranja um pecado
quente pra me consolar
pense bem que depois
tem o ano inteiro pra gente pagarCinqüenta gramas de amor
veja lá, é um bocadinho
vinte gramas até,
venha cá, é tão pouquinho.
Eu vou morrer se você
não quiser
me arranjar um pecadinho. |
3. A BABÁ
(TOM ZÉ)
O Rockefeller acusou Branca de Neve,os anões se dividiram,três de sim e três de não,mas um morreu de sustoe perguntava, perguntava, perguntava:Mas quem é, quem é, quem é?
quem é que agora
está cantando um acalanto
pra cabeça do século?
Ô de marré, de-marré-de-ci
Quem é que está fazendo
pesadelos na cabeça do século?
Ô de marré, de-marré-de-ci
Quem é que está passando
dinamite na cabeça do século?
Ô de marré, de-marré-de-ci
Quem é, quem é, quem é?
me diga você que sabe datilografia
quem é, quem é, quem é?
me diga você que estudou filosofia
Quem é que agora está
fazendo tanto medo na cabeça do século?
Ô de marré, de-marré-de-ci
E quem é que tá
botando piolho na cabeça do século?
Ô de marré, de-marré-de-ci
Quem é que está passando
pimenta na cabeça do século?
Ô de marré, de marré de si
Quem é, quem é, quem é?
Me diga você que sabe datilografia
quem é, quem é, quem é
me diga você que estudou filosofia
Quem é que agora está
botando tanto grilo na cabeça do século?
Ô de marré, de-marré-de-ci
Quem é que empresta
um travesseiro pra cabeça do século?
Ô de marré, de-marré-de-ci.
5. DOR E DOR
(TOM ZÉ)
Te quero te quero
querendo quero bem
quero te quero
querendo quero bem.
Chiclete chiclete,
mastigo dor e dor
clete chiclete,
mastigo dor e dor.
Te choro te choro,
chuvinha chuviscou.
Choro te choro,
chuvinha chuviscou.
Chamego chamego,
me deixa me deixou.
Mego chamego,
me deixa me deixou.
A dor a dor, a dor a dor
… … …
Mas eu te espero
porque o grito dos teus olhos
é mais
longo que o braço da floresta
e aparece atrás
dos montes, dos ventos
e dos edifícios
e o brilho do teu riso
é mais
quente que o sol do meio-dia
e mais e mais e oh oh oh oh oh
Mas eu te espero
na porta das manhãs porque
o grito dos teus olhos
é mais e mais e mais
e depois que você partiu
o mel da vida apodreceu na minha boca
apodreceu na minha boca
Oh, oh, oh, oh, oh |
4. MENINA, AMANHÃ DE MANHÃ (O Sonho Voltou)
(TOM ZÉ – PERNA)
Menina , amanhã de manhã
quando a gente acordar
quero te dizer que a felicidade vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens.Na hora ninguém escapade baixo da cama ninguém se escondee a felicidade vaidesabar sobre os homens, vaidesabar sobre os homens vai
desabar sobre os homens.
Menina, ela mete medo
menina, ela fecha a roda
menina, não tem saída
de cima, de banda ou de lado.
Menina, olhe pra frente
menina, tome cuidado
não queira dormir no ponto
segure o jogo
atenção (de manhã)
Menina a felicidade
é cheia de graça
é cheia de lata
é cheia de praça
é cheia de traça.
Menina, a felicidade
é cheia de pano,
é cheia de pena
é cheia de sino
é cheia de sono.
Menina, a felicidade
é cheia de ano
é cheia de Eno
é cheia de hino
é cheia de ONU.
Menina, a felicidade
é cheia de an
é cheia de en
é cheia de in
é cheia de on.
Menina, a felicidade
é cheia de a
é cheia de e
é cheia de i
é cheia de o. |
6. SENHOR CIDADÃO
(TOM ZÉ)
Poema “CIDADE” de Augusto de CamposSenhor cidadão
senhor cidadão
Me diga, por quê
me diga por quê
você anda tão triste?
tão triste
Não pode ter nenhum amigo
senhor cidadão
na briga eterna do teu mundo
senhor cidadão
tem que ferir ou ser ferido
senhor cidadão
O cidadão, que vida amarga
que vida amarga.Oh senhor cidadão,
eu quero saber, eu quero saber
com quantos quilos de medo,
com quantos quilos de medo
se faz uma tradição?Oh senhor cidadão,
eu quero saber, eu quero saber
com quantas mortes no peito,
com quantas mortes no peito
se faz a seriedade?Senhor cidadão
senhor cidadão
eu e você
eu e você
temos coisas até parecidas
parecidas:
por exemplo, nossos dentes
senhor cidadão
da mesma cor, do mesmo barro
senhor cidadão
enquanto os meus guardam sorrisos
senhor cidadão
os teus não sabem senão morder
que vida amargaOh senhor cidadão,
eu quero saber, eu quero saber
com quantos quilos de medo,
com quantos quilos de medo
se faz uma tradição?Oh senhor cidadão,
eu quero saber, eu quero saber
se a tesoura do cabelo
se a tesoura do cabelo
também corta a crueldade
Senhor cidadão
senhor cidadão
Me diga por que
me diga por que
Me diga por que
me diga porque |
7. A BRIGA DO EDIFÍCIO ITÁLIA E DO HILTON HOTEL
(TOM ZÉ)
O Edifício Itália
era o rei da Avenida Ipiranga:
alto, majestoso e belo,
ninguém chegava perto
da sua grandeza.
Mas apareceu agora
o prédio do Hilton Hotel
gracioso, moderno e charmoso
roubando as atenções pra sua beleza.O Edifício Itália ficou enciumado
e declarou a reportagem de amiga:
que o Hilton, pra ficar todo branquinho
toma chá de pó-de-arroz.
Só anda na moda, se veste direitinho
e se ele subir de branco pela Consolação
até no cemitério vai fazer assombração
o Hilton logo logo respondeu em cima:
a mania de grandeza não te dá vantagem
veja só, posso até ser requintado
mas não dou o que falar
Contigo é diferente,
porque na vizinhança
apesar da tua pose de rapina
já andam te chamando
Zé-Boboca da esquinaE o Hilton sorridente
disse que o Edifício Itália
tem um jeito de Sansão descabelado
e ainda mais, só pensa em dinheiro
não sabe o que é amor
tem corpo de aço,
alma de robô,
porque coração ele não tem pra mostrar
Pois o que bate no seu peito
é máquina de somar.O Edifício Itália sapateou de raiva
rogou praga e
até insinuou que o Hilton
tinha nascido redondo
pra chamar a atenção
abusava das curvas
pra fazer sensação
e até parecia uma menina louca
Ou a torre de Pisa
vestida de noiva |
8. O ANFITRIÃO
(TOM ZÉ)
Minha dor, você tem razão,
então não faça cerimônia
sou a tua nova casa
sou o teu anfitrião.Se recoste no meu ombro
se debruce nos meus olhos
se quiser me dê a mão.Eu chamei a dor
pra fazer um samba triste
e pedir que me arrumasse
um amor e uma mágoa.Ela bateu na porta,
combinou tudo comigo
depois me disse adeus,
um amor e uma mágoa.Minha dor, desta vez é pior,
depois que você foi embora
reparei dentro do peito
um vazio anormal.Nem aquele amor que nunca tive,
nem a mágoa que criamos,
somente a morte ou coisa igual. |
9. O ABACAXI DE IRARÁ
(RIBEIRO -TOM ZÉ – PERNA)
Minha terra é boa,
plantando dá
o famoso abacaxi de Irará.
Minha terra é boa,
plantando dá
o famoso abacaxi de Irará.Moça emperrada namora
e o noivo não quer casar
se apega ao bom Santo Antônio
e o noivo este ano ainda vai pensar…Falou véio
dá um chá de abacaxi
de Irará
que é pro noivo se animar.Minha terra é boa
plantando dá
o famoso abacaxi de Irará.Véio viúvo com setenta anos
ainda quer casar
Pergunto pra ele o segredo
e peço pra me contar.Falou o veio:
Vá comendo abacaxi
de Irará
que você vai se animar. |